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Alucinações são distúrbios da sensopercepção e Delírios são distúrbios do pensamento. Ambos podem estar presentes em várias patologias.
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Alucinação
Alucinação é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real tendo em vista a convicção de realidade inabalável que a pessoa tem em relação ao objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que está alucinando.
Sendo a percepção da Alucinação de origem interna, cerebral, emancipada de todas variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais nitidamente que os objetos existentes de fato.
Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade de associações de formas e objetos. Na Alucinação, por exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina pode ter percebido isoladamente cada umas das formas e, mentalmente, combinado umas com as outras.
As alucinações podem manifestar-se através de qualquer um dos cinco sentidos, sendo as mais frequentes as auditivas e visuais. O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no que tange à existência de estímulo externo, já que na Alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é percebido de forma deformada, distorcida ou, simplificando, a ilusão é um “engano”dos sentidos.
O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais patológica que a ilusão, sendo normalmente associado à estados psicóticos que ultrapassam a simplicidade de um engano dos sentidos. Na Alucinação o envolvimento psíquico é muito mais profundo que nos estados necessários à ilusão.
1 – Alucinações Auditivas
Embora as alucinações possam manifestar-se através de qualquer um dos cinco sentidos, as mais frequentes são as auditivas e visuais.
As Alucinações podem aparecer sob a forma de sons inespecíficos, tais como chiados, zumbidos, ruídos de sinos, roncos, assobios, ou vozes, as quais podem ter as mais variadas características: diálogos entre mais de um interlocutor, comentários sobre atos do paciente, críticas sobre a pessoa que alucina, podem ainda proferir injúrias e difamações, comunicar informações fantásticas, sonorizar o pensamento do próprio paciente ou de terceiros. Na opinião do paciente tais vozes podem ser provenientes do além, do sobrenatural, dos demônios ou de Deus, etc.
O fenômeno de perceber uma voz que não existe (percepção de objeto inexistente) é a Alucinação propriamente dita e, interpretá-la como sendo a voz do demônio, de Deus, dos espíritos mortos ou uma audição telepática já faz parte do Delírio. O Delírio frequentemente acompanha a Alucinação. Ouvir vozes faz parte da sensopercepção e atribuir a elas algum significado faz parte do pensamento.
Algumas vezes as vozes alucinadas podem impor ordens ao paciente, o qual as obedece mesmo contra sua vontade. Diante desta situação de obediência compulsória às vozes alucinadas chamamos de Automatismo Mental. Esta situação oferece alguma periculosidade, já que, quase sempre, as ordens determinadas são eticamente condenáveis ou socialmente desaconselháveis.
Normalmente a Alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do paciente falamos em Sonorização do Pensamento, como se o paciente pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos: ” lá vai ele lavar as mãos”, “lá vai ele ligar a televisão” e assim por diante.
2 – Alucinações Visuais
Alucinações Visuais são percepções visuais de objetos que não existem. Essas percepções são tão claras e intensas que dificilmente são removíveis pela argumentação lógica. Mesmo se o paciente refere ter visto apenas vultos, tais vultos são muito fortemente percebidos, portanto, são reais para a pessoa que os percebe. O objeto alucinado pode não ter uma forma específica, tipo de clarões, chamas, raios, vultos, sombras, etc, ou ter formas definidas, tais como pessoas, monstros, demônios, animais, santos, anjos, bruxas.
Há determinadas situações onde o transtorno visual alucinatório adquire a consistência de uma cena, tal como, por exemplo, ver uma carruagem passando pela paciente e dela descer um príncipe. Neste caso falamos em Alucinações Oniroides, como se transcorresse em um sonhar acordado. No Delirium Tremens do alcoolista, por exemplo, as alucinações visuais têm uma temática predominantemente de bichos e animais peçonhentos (cobras, aranhas, percevejos, jacarés, lagartos) e, neste caso, recebe o sugestivo nome de zoopsias, promovedoras de grande ansiedade e apreensão.
Nas situações onde o paciente se vê fora de seu próprio corpo fala-se em Alucinações Autoscópicas e, quando o paciente consegue ver cenas e objetos fora de seu campo sensorial, como enxergar do lado de fora da parede, são as Alucinações Extra-campinas.
O conteúdo das alucinações é extremamente variável, porém, tem sempre íntima relação com a bagagem cultural do paciente que alucina. Não é possível alucinar com alguma coisa que não faça parte do mundo psíquico pessoal. Um físico nuclear pode alucinar com um certo brilho atômico a revestir seus inimigos, enquanto um cidadão menos diferenciado, vê um espírito do morto a rondar sua casa, ambos porém, independentemente do nível sociocultural, têm a mesma probabilidade de alucinar. A sofisticação e exuberância do material alucinado dependerá da bagagem cultural de quem alucina mas não interfere na valorização semiológica do fenômeno.
3 – Alucinações Táteis
A percepção de estímulos táteis sem que exista o objeto correspondente é observada principalmente nas psicoses tóxicas e nas psicoses delirantes crônicas. Nestes casos, principalmente no Delirium Tremens e na dependência de cocaína, o paciente se sente picado por pequenos animais, insetos esquisitos, vermes que caminham pelo corpo, pancadas, alfinetadas, queimaduras, estranhos carrapatos que penetraram em algum orifício fisiológico,etc. Frequentemente as alucinações táteis com pequenos insetos é acompanhada por um Delírio de infestação também chamado de Síndrome de Ekbom. Não são raros os casos de Alucinação tátil que se caracteriza pela sensação de ter-se as pernas puxadas à noite ou estrangulamento, sufocação ou opressão antes de conciliar o sono.
Quando esta percepção falseada diz respeito aos órgãos internos ou ao esquema corporal falamos em Alucinações Cenestésicas. Nestes casos os pacientes sentem como se tivessem seu fígado revirado, esvaziado seu pulmão, seus intestinos arrancados, o coração rasgado, o cérebro apodrecido e assim por diante. As Alucinações Cenestésicas devem ser diferenciadas das Alucinações Cinestésicas, que não dizem respeito à sensação tátil, mas sim aos movimentos (cine = movimento). Nas cinestesias os pacientes percebem as paredes movendo-se ou eles próprios movendo-se no espaço.
Um bom exemplo é de um paciente delirante crônico que sentia seu cérebro estar infestado de germes, os quais, esporadicamente, escorriam-lhe pelo nariz. Neste caso uma Alucinação Tátil Cenestésica. Outro queixava-se de inúmeros percevejos que furavam-lhe a pele o tempo todo. Era portador de Delirium Tremens, e, inclusive, mostrava os insetos que conseguia apanhar para o médico (zoopsia+alucinação tátil). Trata-se de Alucinações Táteis puras. Outro, já idoso, que sabia ter seus pulmões corroídos por vermes provenientes de carne suína, tossia seguidamente e vivia submetendo-se a frequentes exames de raios X. Neste último caso, uma Alucinação Cenestésica pura.
4 – Alucinações Olfativas
Com frequência as Alucinações Olfativas e as Alucinações Gustativas estão associadas e são raras. Nos estados delirantes cujo tema diz respeito à putrefação, o gosto e os odores podem ser muito desagradáveis e são percebidos, como é típico de todas alucinações, sem que exista o objeto correspondente ao gosto e ao cheiro.
Algumas auras epiléticas determinam o aparecimento de alucinações gustativas e/ou olfativas. Em geral os gostos alucinados aparentam ser de sangue, terra, catarro ou qualquer outra coisa desagradável; os odores podem ser desde perfumes exóticos até de fezes.
5 – Alucinações Compostas ou Mistas
São as alucinações onde estão envolvidas mais de um modalidade sensória podendo ser descrito a visão de um homem (alucinação visual) que fala (alucinação auditiva) e por vezes toca o paciente (alucinação tátil). Essa apresentação é mais comum em quadro com rebaixamento de consciência mas pode ocorrer também em quadros esquizofrênicos.
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Sintomas positivos e negativos
Os sintomas característicos da Esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em 2 tipos: positivos e negativos. Os sintomas positivos são os mais floridos e exuberantes, tais como as alucinações (mais frequentemente, as auditivas e visuais e, menos frequentes as táteis, e olfativas), os delírios (persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos, místicos, fantásticos, autorreferente), perturbações da forma e do curso do pensamento (como incoerência, prolixidade, desagregação), comportamento desorganizado, bizarro, agitação psicomotora e mesmo negligência dos cuidados pessoais.
Os sintomas negativos são, geralmente, de déficits, ou seja, a pobreza do conteúdo do pensamento e da fala, embotamento ou rigidez afetiva, prejuízo do pragmatismo, incapacidade de sentir emoções, incapacidade de sentir prazer, isolamento social, diminuição de iniciativa e diminuição da vontade.
ALUCINAÇÃO E DELÍRIO NA PSICOSE DELIRANTE PERSISTENTE
De acordo com Kraepelin, a Paranóia é uma entidade clínica caracterizada, essencialmente, pelo desenvolvimento insidioso de um sistema delirante duradouro e inabalável mas, apesar desses Delírios há uma curiosa manutenção da clareza e da ordem do pensamento, da vontade e da ação. Ao contrário dos esquizofrênicos e doentes cerebrais, onde as idéias delirantes são um tanto desconexas, nesta Psicose Delirante Crônica as idéias se unem num determinado contexto lógico para formar um sistema delirante total, rigidamente estruturado e organizado.
A característica essencial desse Transtorno Delirante Persistente é a presença de um ou mais Delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês. Para o diagnóstico é muito importante que o delírio do Transtorno Delirante Persistente não seja bizarro nem seja desorganizado, ou seja, ele deve ter seu tema e script organizado e compreensível ao ouvinte, embora continue se tratando de uma falsa e absurda crença. As alucinações não são proeminentes e nem habituais, embora possam existir concomitantemente. Quando existem, a alucinações táteis ou olfativas costumam ser mais freqüentes que as visuais e auditivas.
Normalmente o funcionamento social desses pacientes Paranóicos não está prejudicado, apesar da existência do Delírio. A maioria dos pacientes pode parecer normais em seus papéis interpessoais e ocupacionais, entretanto, em alguns o prejuízo ocupacional pode ser substancial e incluir isolamento social. A impressão que se tem é a de uma ilha de Delírio num mar de sanidade, portanto, uma espécie de Delírio insular.
Um paciente, por exemplo, convencido de que será assassinado por perseguidores implacáveis pode desenvolver isolamento social e abandonar o emprego. Em geral, além do funcionamentos social comprometido, também o relacionamento conjugal pode sofrer prejuízos. Na Esquizofrenia o comprometimento social mais acentuado costuma ser a regra.
Esses Delírios normalmente são interpretativos, egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com idéias de invenção ou de reforma. Também é freqüente o delírio de ciúme, mais encontradiço nas mulheres. Estas estão sempre se deparando com provas “contundentes” acerca dos muitos relacionamentos sexuais de seus maridos.
TIPOS DE PSICOSE DELIRANTE PERSISTENTE (Crônica)
1 – Tipo Erotomaníaco
Neste caso o delírio habitualmente se refere ao amor romântico idealizado e à união espiritual, mais do que a atração sexual propriamente dita. Acreditam, frequentemente, ser amados por outra pessoa que ocupa uma posição de superioridade (ídolos, artistas, autoridades, etc.) mas, pode também ser uma pessoa normal e estranha.
2 – Tipo Grandeza
Neste subtipo de Transtorno Delirante Persistente a pessoa é convencida, pelo seu delírio, possuir algum grau de parentesco ou ligação com personalidades importantes ou, quando não, possuir algum grande e irreconhecível talento especial, alguma descoberta importante ou algum dom magistral. Outras vezes acha-se possuidor de grande fortuna.
3 – Tipo Ciúme
Neste tipo de Paranoia a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade da(o) esposa(o), namorada(o) ou amante. Pequenos pedaços de “evidência”, como roupas desarranjadas ou manchas nos lençóis podem ser coletados e utilizados para justificar o delírio. O paciente pode tomar medidas extremas para evitar que o companheiro(a) proporcione a infidelidade imaginada, como por exemplo, exigindo uma permanência no lar de forma tirana ou obrigando que nunca saia de casa desacompanhado(a).
4 – Tipo Persecutório
É o tipo mais comum entre os paranoicos ou delirantes crônicos. O delírio costuma envolver a crença de estar sendo prejudicado de alguma maneira, estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas ou estar sendo alvo de comentários maliciosos.
5 – Tipo Somático ou Parafrenia
O Transtorno Delirante do Tipo Somático, como justifica o nome, caracteriza-se pela ocorrência de variadas formas de delírios somático e, neste caso, com maiores possibilidades de alucinações que outros tipos de paranoia. Os mais comuns dizem respeito à convicção de que a pessoa emite odores fétidos de sua pele, boca, reto ou vagina, de que a pessoa está infestada por insetos na pele ou dentro dela, esdrúxulos parasitas internos, deformações de certas partes do corpo ou órgãos que não funcionam.
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Delírio
Jaspers define o Delírio Primário ou puro como sendo um juízo patologicamente falso da realidade. Este juízo falso deve apresentar três características:
1 – deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável;
2 – deve ser impenetrável e incompreensível para o indivíduo normal, bem como, impossível de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja através da experiência ou da argumentação lógica e;
3 – impossibilidade de conteúdo plausível.
Todos os casos que não satisfazem essa tríade não podem ser considerados Delírios Verdadeiros ou Delírios Primários . Os pensamentos baseados em falsas crenças mas não satisfazem a tríade de Jaspers podem tratar-se de Ideias Deliroides ou Delírios Secundários.
Na prática clínica fica claro a constatação da primeira regra de Jaspers quando não se consegue demover o conteúdo delirante do pensamento um paciente mediante qualquer tipo de argumentação. Caso o paciente deixe-se convencer pela argumentação da lógica, razoavelmente elaboradas, decididamente não se trata de um Delírio primário, mas sim de um engano por parte do paciente ou de uma formação deliroide. Para ser Delírio primário a convicção dever ser sempre inabalável e a argumentação racional não deve afetar a realidade distorcida ou recriada de quem delira, independentemente da capacidade convincente e da perseverança daquele que se empenhar nesta tarefa infrutífera.
A segunda regra, Jaspers alerta sobre a impossibilidade do Delírio ser compreendido por pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade. A lógica da realidade do delirante não é aplicável à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de compreensão psicológica do Delírio: carece relação entre a temática delirante e os elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do paciente. Ao postular esta regra Jaspers definia o chamado Delírio primário, ou seja, uma ideia falseada da realidade cujas fantasias não guardam relação com a realidade vivida. Em outras palavras, esta irredutibilidade do Delírio quer dizer que não pode haver uma relação compreensível entre o tema delirante e possíveis vivência causadoras. O que se confunde, às vezes, são histórias de afastamento da realidade posteriores à traumas emocionais mas, como já foi dito, trata-se de Ideias Deliroides ou Delírio Secundário.
Trata-se de um delírio secundário à alguma vivências traumáticas, sugerindo ser um certo mecanismo de defesa contra uma forte ameaça psíquica, normalmente angustiante. No caso do Delírio Secundário pode-se interpretá-lo através de uma análise vivencial e psicodinâmica plausíveis.
Um exemplo disso é um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de quatro dedos da mão direita. Depois de alguns dias começou apresentar expressiva inadequação afetiva. Ao invés de triste e aborrecido, mostrava-se feliz e com um delírio no qual julgava-se Deus, cheio de poderes, auto suficiente e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele duvidavam. Resumidamente, está claro que tal ideação emancipada da realidade era por demais compreensível: tratava-se de um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em compensação à mutilação e deficiência o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de uma Ideia Deliroide ou Delírio Secundário, o qual pode fazer parte frequente de numa Reação Psicótica Aguda.
Delírios com temática semelhante ou mesmo igual ao exemplo exposto, quando surgem em pessoas sem nenhuma vivência justificadora, sem nenhuma possibilidade de redução dinâmica vivencial e impossíveis de conteúdo ou de compreensibilidade são os verdadeiros Delírios Primários. A Ideia Deliroide, por sua vez, seria consequência de um estado afetivo subjacente e perfeitamente relacionável com uma vivência expressiva, por isso secundário.
A Ideia Delirante ou Delírio espelha uma verdadeira mutação na relação eu-mundo e se acompanha de uma mudança nas convicções e na significação da realidade. O delirante encontra-se imerso em uma nova realidade de forma à desorganizar a sua própria identidade, a qual se desorganiza pela ruptura entre o sujeito e o objeto, entre o interno e o externo, ou seja, entre o eu e o mundo.
Henri Ey trata do Delírio no capítulo reservado à Semiologia da Alienação da Pessoa e considera-o como uma modificação radical das relações do indivíduo com a realidade. Trata-se, conforme diz Ey, de um distúrbio que se relaciona essencialmente com a concepção do mundo, manifestando-se através de uma inversão das relações do Ego com a realidade, enfim, uma alienação do Ego.
Kraepelin, por sua vez, acha que os “delírios são ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por meio do argumento“. Bleuler dizia que “ideias delirantes são representações inexatas que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior. Não há necessidades senão afetivas“, determinava ele. Como percebemos, Kraepelin parece deter-se mais naquilo que entendemos por Delírio Primário, enquanto Bleuler ventilava a possibilidade do Delírio Secundário.
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DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES NA PSICOSE ESQUIZOFRÊNICA
Os Delírios na Esquizofrenia sugerem a interpretação falsa da realidade percebida. É o caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma Percepção Delirante. Desta forma, a Percepção Delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, as duas pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma Ocorrência Delirante. O tipo de Delírio mais frequentemente encontrado na Esquizofrenia é do tipo Paranoide ou de Referência, ou seja, com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e, no segundo caso, de sentir-se uma referência de todos (rádios, vizinhos, televisão, etc).
Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Em relação ao Delírio de Referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc.
As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em seguida. Conforme diz Schneider, as Alucinações são “de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma Esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto), vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente”. Esta Sonorização do Pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a sintomatologia que Schneider considerou como sendo de Primeira Ordem.
Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: “ele vai comer” ou ainda, “o que ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas”. Outro sintoma importante no diagnóstico da esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo subtraído ou “chupado” por algo do exterior: Subtração e Irradiação do pensamento, também considerados de Primeira Ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo controlados por forças ou influências exteriores.
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DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES NOS TRANSTORNOS AFETIVOS
A Depressão Grave (ou Depressão Maior) é um Transtorno Afetivo de características depressivas e de natureza predominantemente biológica. Esse tipo grave de depressão era, anteriormente, encontrada na chamada Psicose Maníaco Depressiva (PMD), tipo ou fase depressiva. Atualmente a depressão grave se inclui nos Transtornos do Humor, subtipos Episódio Depressivo ou Transtorno Depressivo Recorrente, sempre do tipo grave com sintomas psicóticos (veja os tipos de depressão).
O que mais frequentemente se encontra nos distúrbios depressivos são sintomas atrelados à afetividade, normalmente sem severo prejuízo da crítica. Os sintomas depressivos básicos, dos quais decorrem todos os demais, constituem-se em uma tríade sintomática caracterizada por:
1 – estreitamento do campo vivencial; que é a perda progressiva do interesse por tudo e da capacidade para sentir prazer.
2 – inibição global; que é a perda de energia global. Isso ocorre tanto fisicamente, através de desânimo, quanto psiquicamente, através da dificuldade de concentração, de tomada de decisões.
3 – sofrimento moral. Diz respeito à autoestima rebaixada, com autodepreciação nas mais diversas áreas vivenciais, à autoavaliação desfavorável de si próprio.
Os casos mais graves de depressão, nos quais são possíveis as alucinações e delírios, estão classificados como Depressão Grave com Sintomas Psicóticos. Apesar da exuberância desses sintomas psicóticos, na depressão tais fenômenos são sempre secundários ao humor fortemente abalado e não, como se pensa com frequência, como sendo sintomas primários de uma eventual esquizofrenia.
Como o nome diz, são sintomas psicóticos e não uma doença psicótica. Em graus mais severos a depressão maior pode resultar em um quadro francamente autista, fortemente delirante ou mesmo alucinatório, porém, reforçando a ideia, tais sintomas serão sempre de natureza secundária.
Embora o juízo crítico possa estar conservado nos pacientes deprimidos, suas vivências são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas tão pessimistas que a interpretação da realidade assume caráter alterado: vai desde ideias falseadas, passando por ideias supervalorizadas, até o Delírio, neste caso chamado delírio humor-congruente ou secundário ou deliroide.
O tema dos Delírios dos pacientes deprimidos é, de acordo com a ideia de humor-congruência, tipo de ruína, de pecado, de podridão ou qualquer outro tema pejorativo.
O mesmo fenômeno pode aparecer nos casos de euforia, ou seja, nas fases de euforia do Transtorno Afetivo Bipolar. Neste caso a temática do delírio será de grandeza, de messianismo, de superpoderes ou coisas que engrandece delirantemente o ego do paciente.
Nos casos de depressão ou euforia graves, quando surgem delírios e alucinações – sintomas psicóticos – o diagnóstico diferencial com as psicoses, notadamente esquizofrenia, costuma ser difícil. É de fundamental importância esclarecer o componente afetivo desses delírios, na realidade ideias deliroides, tendo em vista a absoluta necessidade da associação de antidepressivos aos antipsicóticos.
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DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES NA ALUCINOSE ORGÂNICA
O termo Alucinose designa uma Síndrome Cerebral Orgânica na qual as Alucinações, em uma ou mais modalidades sensitivas, constituem a anomalia psicológica predominante e às vezes única. Nestes casos os Delírios são raridade.
As três características adicionais mais importantes para o diagnóstico de Alucinose Orgânica são:
1- falta de prejuízo da consciência,
2- ausência de sinais sugestivos de uma psicose e,
3- atividade alucinatória constante e recorrente.
Na clínica o termo Alucinose está frequentemente associado ao alcoolismo, chamando-se este estado de Alucinose Alcoólica. Trata-se de uma espécie de variante da síndrome de abstinência, mas que aparece nos alcoolistas independentemente da privação do álcool.
A Alucinose é também decorrente de estados tóxicos ocasionados por diversas drogas, como por exemplo a cocaína, o LSD, brometos, maconha, drogas antiparkinsonianas. Além das drogas reconhece-se o potencial psicotizante de estados infecciosos (pneumonias, etc.), metabólicos (uremias, diabetes, etc.), traumáticos e lesionais (traumatismos cranianos, tumores) ou ainda por foco irritativo dos lobos temporais e occipital, sempre porém, de origem extra-psíquica.
DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES NA PSICOSE REATIVA (Transtorno Psicótico Transitório)
A Psicose Reativa Breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e, habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros distúrbios psicóticos, como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos. O prognóstico é bom e a persistência de sintomas residuais não ocorre. Durante o surto observa-se incoerência e acentuado afrouxamento das associações, delírios, alucinações e comportamento catatônico ou desorganizado. Há componentes afetivos com mudanças bruscas de um afeto para outro, perplexidade e confusão.
A Organização Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças (CID), recomenda que esta categoria de psicose deve ser restringida ao pequeno grupo de afecções psicóticas, em grande parte ou totalmente atribuídas a uma experiência existencial recente. Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores ambientais tem a maior influência etiológica.
Trata-se de reações cuja natureza não é só determinada pela situação psicotraumática, mas também pelas predisposições da personalidade. A maioria das reações psíquicas mórbidas desenvolve-se em função de uma perturbação de caráter que predispõe a elas. Tal perturbação será fruto de um desenvolvimento psicorreativo anormal.
O desenvolvimento da Psicose Reativa pode satisfazer a necessidade do paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.
Deve haver na Psicose Reativa Breve, de uma maneira ou outra, um certo lucro subjetivo na medida em que o paciente vive à margem da realidade traumática e insuportável; transfere seu próprio fracasso para um Delírio persecutório, recolhe-se da realidade numa postura autística, nega a existência num estado amnésico e assim por diante. Pode ser de grande alívio a transferência da tonalidade afetiva de um objeto para outro, ou de um complexo de idéias para um outro complexo secundário psiquicamente anárquico, onde as coisas se encaixam numa lógica doentia e fantástica.
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para referir:
Ballone GJ – Alucinações e Delírios – in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.net, revisto em 2020
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