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Convencionalmente o Transtorno de Conduta só pode ser diagnosticado nos comportamentos sociopáticos antes da maioridade (18 anos), depois dessa idade será chamado de Transtorno Antissocial da Personalidade.
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A agressividade é sempre um tema da atualidade, especialmente a agressividade juvenil, atualmente relacionada às ações das gangues, dos franco-atiradores de escolas, dos queimadores de mendigos, dos homicidas de grupos étnicos, ou simplesmente dos agressivos intrafamiliares.
Não se acredita que a violência infanto-juvenil restringe-se aos internos da FEBEM ou às classes menos favorecidas da sociedade. Existe uma população de delinquentes em classes sociais mais protegidas, seja pelos muros dos condomínios de luxo, seja por estatutos sociais não-escritos que zelam da “boa tradição familiar”, enfim, existe uma população de delinquentes que raramente é punida e cujos atos nunca chegam aos nossos ouvidos.
Os adolescentes e jovens que se destacam pela hostilidade exagerada podem ter um histórico de condutas agressivas que remonta a idades muito mais precoces, como por exemplo, no período pré-escolar, quando os avós, pais e amigos achavam que era apenas um “excesso de energia” ou uma travessura própria da infância.
A conduta agressiva entre os pré-escolares e escolares é influenciada por fatores individuais, familiares e ambientais. Entre os fatores individuais encontramos a questão do temperamento e do caráter, do sexo, da condição biológica e da condição cognitiva.
A família influi através do vínculo, do contexto das inter-relações entre seus membros, da eventual psicopatologia e/ou desajuste dos pais e do modelo educacional doméstico. A televisão, os videogames, a escola e a situação socioeconômica podem ser os elementos ambientais também relacionados à conduta agressiva. Embora esses três fatores – individuais, familiares e ambientais – sejam inegavelmente influentes, eles não atingem por igual todas as pessoas e nem submete todos à mesma situação de risco.
O que se sabe estatisticamente é que a agressividade manifestada em idade pré-escolar, infelizmente evolui de forma negativa. Por isso necessitamos estudar e esclarecer os limites e diferenças entre as travessuras da infância e os Transtornos de Conduta, entre o tão propalado excesso de energia e um Transtorno Hiperativo e entre a elogiada responsabilidade comum na criança “tipo adulto” da Depressão Infantil. Precisamos estudar e esclarecer os limites entre a “personalidade forte” da criança, relatada pelo pai ou avós com certa ponta de orgulho, das condutas completamente desadaptadas da infância com enorme possibilidade de evoluir para um quadro mais grave.
A agressividade, por si, não pode ser considerada um transtorno psiquiátrico específico. Ela é, antes disso, sintoma que reflete alguma conduta desadaptada. Como sintoma ela pode fazer parte de certos transtornos. Pode-se dizer que a conduta agressiva costuma ser normal em certos períodos do desenvolvimento infantil, está vinculada ao crescimento e cumpre uma função adaptativa.
Para definir a criança agressiva deve-se compreender o conceito de Reação Vivencial. Dentro desse conceito, criança agressiva seria aquela que apresenta Reações Vivenciais hostis, recorrentes e desproporcionais aos estímulos ou para a resolução de objetivos. Esse conceito de Reação Vivencial não normal ressalta o aspecto da freqüência excessiva, da desproporção e da dificuldade adaptativa.
Acredita-se que a agressividade pode aparecer em idades pré-escolares e, quando se manifesta aí, tende a continuar. Além disso, quando a agressividade é combinada com outras condutas problemáticas e desadaptadas a evolução será muito pior. Quando a conduta agressiva está combinada, por exemplo, com a Hiperatividade Infantil, ela apresenta um quadro mais grave, com mais problemas de interação e pior prognóstico. As crianças agressivas e hiperativas são mais problemáticas que as crianças só agressivas ou só hiperativas, e mais problemáticas que as crianças do grupo controle (Sansom, Smart, Prior e Oberklaide).
Outra observação relevante é sobre a agressividade associada a alguns traços básicos da personalidade. As crianças agressivas e simultaneamente retraídas, por exemplo, têm pior adaptação que as crianças só agressivas ou só retraídas. Dessa forma, somos inclinados a pensar que a combinação de várias condutas desadaptadas aumentaria a vulnerabilidade para problemas mais sérios de agressividade.
Em psiquiatria, o mau funcionamento adaptativo se considera sempre como um valioso índice de mau prognóstico. As crianças caracterizadas por hiperatividade, impulsividade e desatenção, juntamente com agressividade e que, além disso, têm uma maior disfunção adaptativa, têm maior probabilidade de serem diagnosticadas portadoras de Transtorno de Conduta ou de Depressão Maior (Sheltom, Barkley, Crosswait, 1998).
No contexto social, os games bélicos e violentos são frequentemente relacionados com o desenvolvimento de condutas violentas. Alguns opinam que não exercem nenhuma influência. Outros acham que empobrecem a imaginação e ensinam conceitos belicosos e há quem crê que estes jogos têm até uma função catártica ou terapêutica sobre o potencial agressivo natural das pessoas.
As atitudes competitivas, agressivas ou não, que acontecem nesses jogos guardam relação com os adversários com quem se esteja jogando ou com o tipo de jogo que se utiliza e, apesar de estimularem a luta entre meninos (mas não entre meninas), só se constata o aumento da agressividade durante o jogo e/ou imediatamente depois. Essa agressividade parece não se manter em outras situações e nem repercutir em longo prazo (Helendoorm e Harinck).
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Criança e Adolescente
A legislação brasileira considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, e passíveis apenas da aplicação de medidas protetoras quando cometem infração (delinquência) ou se encontram em situação de risco, de acordo com o art. 101 da Lei n. 8069/90, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A adolescência, por sua vez, se considera as pessoas entre os doze e os dezoito anos, encontrando-se as mesmas sujeitas à aplicação das mesmas medidas protetoras e à aplicação de medidas socioeducativas (art. 112 do mesmo Estatuto da Criança e do Adolescente).
Concomitantemente, a legislação imputa aos pais as medidas previstas no art. 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em caráter administrativo, possibilitando ainda a aplicação de multa por infração ao art. 249 da mesma lei.
Tais medidas citadas decorrem da filosofia de proteção integral ao menor. A pergunta que emocionalmente e moralmente fazemos é a seguinte: menor de que ou de quem? – Menor de altura, de idade, de maturidade… menor que a vítima, menor que a vontade política, que a capacidade da justiça… enfim, menor de que?
Pretensamente as medidas de proteção ao menor almejam um caráter eminentemente desenvolvimentista e formador da cidadania, enquanto as medidas socioeducativas prendem-se ao caráter punitivo ou recuperador, bem como administrativo/punitivo.
Características Antissociais desde criança.
Desde a infância o sociopata mostra sinais de desajustamento comportamental e emocional. Esse tipo de personalidade mórbida caracterizado por imaturidade emocional, impulsividade, primitividade, instintividade leva o nome de Transtorno de Conduta. Convencionalmente até a pessoa atingir a maioridade, daí em diante será Transtorno Antissocial.
As regras de conduta que imponham limitações e educação social não são aprendidas. Explosão de raiva, obstinação na adolescência, roubo, jogo, destruição de propriedade, brigas, desafios, mentiras, rebeldia, tudo conjugado entre o orgulho e a excentricidade. Rebeldia ostensiva contra o pai e se transfere para professores e competidores. Atitudes desafiadoras marcarão os relacionamentos.
Fraudes, sadismo, passam a atender seus desejos. A ausência de afetividade, egoísmo, narcisismo, exibicionismo, são traços frequentes. Via de regra o sociopata exige muito e pouco dá. O excesso de exigência é característica importante. Não tem consciência crítica, é incapaz de se colocar no lugar do outro para avaliar o seu próprio comportamento.
Apesar da evidente nocividade e inadequação da sua conduta, sempre está satisfeito com ela. Não demonstra ansiedade, culpa ou remorso, sua ardilosidade pode resultar na atribuição se seus erros à outras pessoas.
Satisfazer de imediato seus desejos é uma das características marcantes, sem nenhuma preocupação quanto aos sentimentos daqueles com quem se relacionam. Isso faz com que não mantenham relações afetivas estáveis.
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Os fatores implicados na Agressão e Violência devem ser considerados sob dois aspectos: 1.- A pessoa, 2.- O meio
A Pessoa
Os aspectos próprios da criança são, basicamente, o temperamento e o caráter, assim como diferenças de sexo e as condições neurológico-cognitivas.
Temperamento
Tradicionalmente se observa que as crianças agressivas costumam ter algum traço difícil na personalidade. Tal observação se traduz, popularmente, por termos como personalidade forte, genioso, temperamental ou coisas assim. Esses adjetivos culturalmente mais aceitos tendem a dissimular a verdadeira opinião dos pais e dos avós sobre essas crianças.
Considerando tipos de temperamento tais como, ativo, variável e tímido, vamos observar que os temperamentos ativo e variável se correlacionam mais positivamente com agressividade em meninas. Em meninos as correlações hostilidade-temperamento são mais significativas entre aqueles do tipo ativo (Hinde, Tamplim e Barrett, 1993).
Certos aspectos de dificuldade no controle emocional, assim como algumas outras características temperamentais observadas ainda em bebês, são bons indicadores de conduta agressiva em idade pré-escolar e aos 8 anos.
As pessoas que trabalham em berçários de hospitais podem testemunhar as diferenças entre os bebês. Tem aqueles que choram mais, gritam, resmungam, dormem mais, ficam quietos, agitados, etc. Essas diferenças falam a favor de força do temperamento e da constituição na maneira do ser se relacionar com o mundo.
O temperamento, responsável pela maneira como a pessoa se relaciona com a realidade, pode ser entendido como uma espécie de moderador das relações interpessoais das crianças com seus cuidadores. Através desse conceito, as crianças com um temperamento mais ativo, intenso, irritável, têm maior probabilidade de reagir de forma inapropriada ou exagerada diante de pequenas dificuldades.
Essas crianças, devido à conduta explosiva, tendem a criar estresse na relação com suas mães. E estas, por sua vez, acabam propensas a dificultar o contato com esses filhos, normalmente considerados “difíceis”, julgando-os realmente crianças problemáticas. Essa dinâmica implicaria uma interação mãe-filho deficiente, a qual poderia ser o início do desenvolvimento de condutas agressivas (Pattersom, Dishiom e Reide).
Condição neurobiológica
Algumas pesquisas procuram relacionar a atividade da enzima Monoaminoxidase (MAO) plaquetária diminuída com a baixa capacidade de controle dos impulsos. Níveis baixos do neurotransmissor serotonina também foram relacionados a alguns comportamentos complicados, como por exemplo, o suicida, piromaníaco, agressivo e cruel.
Na área dos transtornos explosivos e agressivos, investigações sugerem que o aumento de serotonina pode moderar brilhantemente o caráter impulsivo e irritável nas pessoas agressivas. Por outro lado, enquanto pode haver déficit de serotonina nas pessoas agressivas, outros neurotransmissores podem estar aumentados, como por exemplo a dopamina e a noradrenalina. Portanto, há tempos já se sabe que o Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade se associa com disfunção da dopamina nos circuitos frontal-estriados, enquanto anomalias no sistema da serotonina se associam com a conduta agressiva.
As estruturas límbicas e os lobos frontal e temporal são os centros onde se situam as áreas relacionadas à expressão da agressividade. Comparando-se a ativação lobo frontal do hemisfério direito com o lobo frontal do hemisfério esquerdo, descobre-se que em meninas de 4 e 8 anos com Transtorno de Oposição na Infância há uma maior atividade frontal direita, mas os meninos, também com Transtorno de Oposição na Infância, não mostraram esta assimetria. Também não apresentam assimetria e nem predomina a atividade frontal esquerda as meninas sadias. Os meninos sadios, por sua vez, têm uma maior atividade frontal direita (avaliados com Spect – Ressonância Magnética com emissão de pósitrons).
Alguns autores (DeLacoste, Horvath e Woodwarde) sugerem que a testosterona no útero promove o crescimento do hemisfério direito em meninos, e o estresse pré-natal materno pode interferir neste padrão fazendo que se desenvolva mais o hemisfério esquerdo que o direito em homens, favorecendo condutas agressivas (temperamento).
Mas nem por causa dessas observações as assimetrias no córtex frontal implicam direta e obrigatoriamente numa categoria diagnóstica, elas apenas podem refletir um estilo afetivo característico e uma vulnerabilidade para alguns transtornos emocionais (Baving, Laucht e Schmidt).
Outra novidade nessa área de pesquisa é a relação dos Movimentos Gerais do bebê e a disposição para desenvolver algum transtorno neurológico, do tipo Transtorno de Atenção com Hiperatividade ou alguma outra conduta agressiva (Hadder-Algra e Groothuis). No período que vai da concepção até 3 a 4 meses de vida, o bebê realiza Movimentos Gerais característicos que se dividem em três fases: “preterm”, “writhing” e “fidgety”. Tem-se visto que uma fase “fidgety” (inquietação, intranquilidade) medianamente anormal, no sentido da falta de fluidez nos movimentos, é preditiva de problemas de conduta em idade escolar.
Experimentos realizados com animais sugerem que uma ligeira anormalidade da fase “fidgety” se associa com uma disfunção no sistema monoaminérgico, o qual explicaria sua relação com problemas de atenção. Estas disfunções monoaminérgicas poderiam ser consequentes a pequenas hipóxias (falta de oxigênio) precoces, incluindo no momento do parto.
As implicações clínicas dessas investigações são muito interessantes: um menino com uma fase “fidgety” meio anormal, por exemplo, estaria predisposto a desenvolver um transtorno neurológico menor, um Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade e agressividade, sempre e quando haja condições ambientais adversas suficientes.[/et_pb_text][/et_pb_column][et_pb_column type=”1_2″ _builder_version=”4.6.6″ _module_preset=”default”][et_pb_text _builder_version=”4.7.7″ _module_preset=”default” hover_enabled=”0″ sticky_enabled=”0″]
Condição cognitiva
As crianças com problemas de conduta podem ter dificuldades na leitura e déficits nas habilidades verbais. Moffitt encontrou um Quociente Intelectual 8 pontos abaixo da média em meninos com problemas antissociais (de conduta). Esses atrasos no desenvolvimento mental puderam ser relacionados com vínculo desorganizado na idade de 18 meses e com a falta de cuidados da mãe (Lyons-Ruth, Alperm e Repacholi).
Tem-se observado que a consciência relacionada às representações mentais da memória das experiências passadas podem ter implicações no controle (ou descontrole) da conduta agressiva. Uma criança que rememora eventos hostis, por exemplo, tenderia a reagir de maneira mais hostil, interpretar situações ambíguas ou neutras como se fossem ameaçantes desencadeia respostas agressivas (Salzer, Lairde e Dodge).
Diferenças de sexo
Tem-se dito sempre que os meninos são mais agressivos que as meninas, que há mais casos de meninos agressivos que de meninas. Ultimamente, entretanto, essas diferenças estão diminuindo, provavelmente devido às mudanças socioculturais.
As eventuais diferenças de conduta entre os sexos emergem na idade escolar com o processo de socialização da criança. Os meninos, quem sabe por uma questão de maior imaturidade psicoemocional, estão menos preparados psicologicamente que as meninas para a socialização, vida em grupo, participação cooperativa e, por isso, costumam ter mais problemas de adaptação e de orientação.
A hipótese que alega essa diferença de maturidade psicoemocional se estrutura na observação de defasagem dos meninos em relação às meninas da mesma idade na linguagem e nas habilidades motoras. Alguns autores afirmam que as meninas tendem a desenvolver condutas cooperativas mais precocemente, modelo que logo se aplica à situação escolar. Também se sugere que os meninos possam desenvolver, ao invés de condutas cooperativas, condutas competitivas. E isso favoreceria um modelo mais agressivo de comportamento (Prior, Smart, Sansom e Oberklaide).
Alguns trabalhos procuram mostrar, também, que mães pouco afetivas podem constituir uma situação de risco e predispor meninos e meninas ao desenvolvimento de condutas agressivas. Entretanto, não se sabe ainda ao certo porque, mantendo-se esta situação de risco durante 3 a 4 anos, os meninos aumentavam ou mantinham a agressividade e as meninas a diminuíam. De qualquer forma, parece que a hostilidade materna é preditiva de violência e conduta agressiva para ambos os sexos.
Outros fatores de riscos parentais para o desenvolvimento de conduta agressiva precoce seriam, por exemplo, a ocorrência de depressão materna antes do parto, a patologia emocional materna, família com um só dos pais presentes, estressores familiares, baixo nível econômico e conflito matrimonial.
O Meio
Existem muitos estudos com menores infratores na Europa e nos Estados Unidos indicando que a principal causa do comportamento delinquente estaria relacionada às condições socioeconômicas. É, sem dúvida, uma visão bastante acanhada do problema e a palavra “principal” pode nos cegar para outros aspectos; trata-se de um problema do ser humano e, ao se privilegiar quase exclusivamente as condições socioeconômicas, estaríamos tirando do cenário exatamente o principal personagem, o próprio ser humano, mais precisamente, a personalidade do ser humano delinquente.
Dentro do enfoque sócio-político da delinquência, a psicóloga Maria Delfina elaborou um trabalho com jovens de Santos e São Paulo, mostrando alguns fatores de risco que podem levar o jovem à delinquência. Para ela os principais fatores de risco para o comportamento dos infratores estão nas interações com a família e com os ambientes sociais mais próximos, como a escola, por exemplo. Destaca Maria Delfina as discórdias conjugais, a existência de doenças mentais na família e a rejeição pelos colegas.
A influência da renda familiar no comportamento dos menores tem um papel menos determinante, segundo esta pesquisa. A psicóloga analisou 40 menores entre 12 e 18 anos das cidades de Santos e de São Paulo. Contrariando a tese de a delinquência ser proporcional à pobreza, entre os infratores entrevistados pela psicóloga, 4 estavam situados na faixa de 2 salários mínimos; três tinham renda de 3 a 6 salários e três se concentravam na faixa de 11 a 13 salários.
Contrariando a tendência em achar que os mais pobres são mais delinquentes, a pesquisa mostrou que no grupo dos menores não-infratores o rendimento familiar mais alto foi de 20 salários, enquanto que, entre os infratores, o maior rendimento familiar foi de 40 salários.
Outro fator de risco para a criminalidade, aparentemente mais importante, foi a escolaridade. Segundo Maria Delfina, no grupo de infratores, entre os que tinham idade para concluir o ensino fundamental, 15 não o fizeram. Uma pesquisa anterior, de 1997, realizada com 4.245 menores infratores, mostrou que 96,6% não haviam concluído o ensino fundamental. Destes, 15,4% eram analfabetos. É importante salientar que a literatura mostra porcentagens entre 10% e 20% de jovens delinquentes que apresentam algum tipo de problema psicológico passível de intervenção clínica.
Visões mais psicodinâmicas do problema consideram a delinquência infanto-juvenil relacionada ao aumento do sentimento de desamparo, típico da nossa modernidade cultural, onde a descrença generalizada nos valores tradicionais, como a família, igreja, escola, etc. leva a uma intensa busca do prazer pessoal e do individualismo, em detrimento dos ideais coletivos.
Nesse cenário cultural o sistema de produção, o modelo de prestígio pessoal e dos ideais de consumo substitui ou elimina de vez qualquer ideal pessoal que não se enquadre nesta referência. Uma outra origem para esta patologia social seria a imposição de padrões de valores éticos duvidosos e da busca incondicional de sucesso a que nossos jovens estão submetidos. Com tudo isso, os valores culturais de felicidade são transformados em ideais a qualquer preço.
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Os pais como modelos e como educadores (ou não)
Os elementos contemporâneos cogitados no estudo sobre o aumento da violência e agressividade dos adolescentes passa também pelo declínio do papel do pai (e da mãe), subtraído que foi por vários elementos da atualidade. Primeiro vem a dissolução das famílias. Na falência da função paterna (ou materna), a busca pelo prazer consumista desembesta a rédeas soltas para grande número de jovens.
Em segundo lugar vem a tirania da liberdade plena, incondicional e total. A essa exigência se dá o rótulo de progressismo e de politicamente correto. Liberdade é um termo que deveria ser usado no plural, liberdades. Liberdade para isso, para aquilo… e não para tudo, como exigem os adolescentes. A liberdade plena e incondicional interessa fortemente para aqueles que sobrevivem, e muito bem, do afã juvenil em ir, comprar, beber, beber, comprar e ir. E esses mercenários da juventude não são, exatamente, donos de escolas, mas sim empresários da noite, traficantes, os propagandistas de drogas e costumes…
Em terceiro, vem a propaganda do orgasmo proporcionado pelo prazer como um fim em si mesmo, prazer do consumo, do poder, do não-perder-um-minuto, do fazer porque “todos fazem”… Convencem os jovens, por má fé, que em não se tendo…, não se é feliz. A transformação de pessoas reconhecidamente transgressoras em espécies de ídolos e de modelos de vir-a-ser, cujas atitudes criminosas são públicas e impunes, é um dos mais fortes estímulos à delinquência.
Em quarto, de acordo com palavras de Paulo Ceccarelli, se seguirmos as mudanças no Código Civil referentes ao Direito Paterno veremos que, desde o Direito Romano até hoje, houve um enfraquecimento sistemático do poder do pai sobre o filho. Tais mudanças foram mais dramáticas no final do Século XIX e início do XX, com as novas leis de mercado. Cada vez mais, em nome do “interesse da criança”, instituições sociais passaram a substituir o pai. Toda vez que o “bem-estar da criança” está supostamente em jogo, o pai pode ter seu poder familiar limitado ou anulado.
Mas, não devemos tomar sempre por falência da função e da autoridade paterna a omissão voluntária ou descaso para com os filhos. É antes, a perda da batalha travada entre o pai e um exército muito mais numeroso. Do exército “dos inimigos” participam boa parte da mídia, que mostra a glória do sucesso, da fama e do consumo, mas não mostra os meios lícitos de se atingir essas metas, boa parte da propaganda, que convence ser obrigatórias muitas coisas, hábitos e atitudes que são, de fato, facultativas e boa parte dos ditadores da moda e dos costumes, a quem interessa que as coisas tenham o rumo que estão tomando.
A falta de habilidades sociais e eventuais traços antissociais dos pais são considerados importantes fatores de risco familiar (Pattersom e Bank). Os traços antissociais maternos são os principais contribuintes para o desenvolvimento de interações coercitivas as quais, em ambientes familiares, excluem e dificultam a utilização de técnicas positivas de motivação e guia na educação dos filhos.
Pais com traços antissociais da personalidade, além de não transmitirem uma imagem exemplar e meritosa aos filhos, podem ter dificuldades para dar mostras de aprovação e incentivo para as boas atitudes de seus filhos, não respeitam sua autonomia e espaço social, além de disciplinarem inadequadamente, com excesso de permissividade quando devem ser mais rígidos e, outras vezes, exageradamente agressivos desnecessariamente.
E as mães? Algumas mães talvez sejam as principais artífices da falta de dever, responsabilidade e limites de seus filhos. Atitudes super protetoras, tão ou mais graves que seu oposto, a negligência materna, acabam resultando em pessoas sem nenhuma tolerância à frustração. E pessoas sem tolerância à frustração costumam tomar a força o que querem ou, quando não conseguem, costumam encher as filas dos histéricos nos ambulatórios de psiquiatria. A sociedade parece desculpar prontamente essas mães, afinal, como dizem, mãe é mãe…
Talvez as mães confundam o papel materno com a permissividade extrema em busca da simpatia de seus filhos. Outras vezes pretendem, com essa absoluta falta de limites para seus filhos, serem tidas por moderninhas e joviais. Gostam de dizer que são “amigas dos filhos”. Mas os jovens estão carentes de mães, não de amigos.
A grande maioria das mocinhas adolescentes grávidas contam prontamente para suas mães seu estado de gestante, normalmente porque têm certeza que serão prontamente compreendidas, perdoadas e aceitas. Como se constata, essa atitude benevolente serve muito bem para uma segunda e terceira gestações indesejadas.
Algumas crianças envolvidas em situações agressivas não aprenderam as habilidades sociais necessárias e desejáveis para relacionar-se com os demais, não são disciplinados para a consecução de objetivos e não aceitam críticas. Isso muitas vezes reflete um modelo de conduta aprendido no ambiente doméstico.
Com freqüência as mães dessas crianças agressivas tendem a atribuir mais hostilidade às condutas de seus filhos, qualificando negativamente traços de suas personalidades e ressaltando sempre a má conduta da criança. Em vários estudos aparece uma correlação entre a agressividade infantil e a tendência das mães a realizar atribuições hostis à conduta desses filhos. (Dix e Lochmam). Não é raro que a mãe constantemente estabeleça comparações desvantajosas e depreciativas entre as condutas agressivas dessas crianças problemáticas com outras crianças e, às vezes, com seus próprios irmãos.
Psicopatologia familiar
Tem-se relacionado tanto a hostilidade como sintomas depressivos da mãe com condutas agressivas em escolares. A depressão materna prediz problemas comportamentais em pré-escolares e multiplica por seis o risco de transtorno de conduta agressiva na criança. Estes sintomas depressivos da mãe podem estar presentes nas primeiras etapas da vida da criança e condicionar o estabelecimento de um vínculo afetivo inseguro ou desorganizado (Jané, Araneda, Valero e Domènech).
Outros transtornos dos pais relacionados à agressividade infantil seriam Transtorno de Personalidade Antissocial, Depressão Maior e Abuso de Sustâncias. Essas disfunções são muito mais comuns entre os pais de crianças com Transtorno de Conduta ou com Transtorno de Conduta combinado com Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade, do que entre crianças que só apresentam Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (Biedermam, Munir e Knee).
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Dinâmica Familiar de Risco
Vê-se, através do panorama cultural contemporâneo, que a patologia social de descaminho da juventude e adolescência pode propiciar uma falta completamente patológica de limites, um excesso estéril de satisfação e uma busca desenfreada de um não-sei-o-que desde que seja para agora. Incentiva-se o jovem para que “chegue lá” a qualquer custo, embora não se saiba exatamente onde é esse lá.
Vivemos também a época da inflação do ego do adolescente. Os filhos vivem a crença de ser objeto exclusivo de amor incondicional dos pais. Nada se cobra deles, bastando existirem para serem incondicionalmente amados e jamais reprimidos, nunca censurados ou limitados em nome do psicologicamente correto. Toda essa glorificação da liberdade desmedida e despropositada para prevenir facciosos traumas futuros.
Atirar o jovem nessa liberalidade que não conhece limites é a maneira mais eficaz de desenvolver neles um narcisismo ilimitado. Mais cedo ou mais tarde as sanções sociais e atos de autoridade invariavelmente impostos pela sociedade trarão um elevado ônus psíquico. O excesso de proteção é, talvez, a maior causa do sentimento de abandono que essas crianças sofrerão quando terão de enfrentar o mundo real.
Adolescentes inseridos neste panorama de faça-o-que-quiser-porque-jovem-pode-tudo acaba tornando-os carentes de referências e identidades verdadeiras, remetendo-os a orfandade de modelos familiares e sujeitando-os aos grupos hedonistas igualmente sem identidades. Na absoluta ausência de metas e objetivos maiores, derrapam para as drogas, para a violência cega e sem objetivos, para uma sexualidade compulsiva e obrigatória, etc.
Deve-se entender a dinâmica familiar não apenas como as relações pais-filhos, mas sobretudo, como as interações que se dão entre todos os membros da família. Dentro deste contexto familiar, há certos processos que se destacam por uma possível implicação no desenvolvimento de sintomatologia agressiva na criança. Vamos à essas implicações:
1 – Hostilidade e competitividade
Um dos temas mais implicados na adaptação emocional infantil tem sido o conflito conjugal. Sabe-se que quando a hostilidade entre o casal se expressa abertamente a criança mostra claros sinais de ansiedade, inclusive em idades muito precoces (Cumming e Daves). Entretanto, quando esta situação conflitante não envolve a criança, o impacto não é tão negativo.
Embora não tenham trabalhos muito consistentes sobre as reais sequelas do conflito matrimonial sobre as emoções dos filhos nos primeiros anos de vida, pode-se supor, com boa chance de acerto, que a hostilidade conjugal atua como fator ambiental de estresse, incitando a criança a experimentar um desequilíbrio emocional interno, insegurança e alto grau de incerteza.
Com o tempo, este desequilíbrio constante poderia evoluir para a frustração e impulsividade, dando lugar a problemas de conduta. Dessa forma, o componente hostilidade-competitividade do casal seria um importante fator de risco para o desenvolvimento de sintomatologia agressiva.
2 – Diferenças de interação entre os pais
O distanciamento ou a exclusão de um dos pais na vida da criança (e da família) pode representar para ela um expressivo vazio familiar. Isso acaba trazendo sentimentos de insegurança, ansiedade, tristeza, etc., levando ao desenvolvimento de sintomatologia agressiva. Vem daí o ditado popular “o importante é participar”, contrariando a crença daqueles que consideram suficiente, apenas o aporte material.
3 – Harmonia familiar
A harmonia familiar atuaria como fator de proteção e segurança necessários ao desenvolvimento confortável da criança, contribuindo para uma melhor adaptação emocional ao meio e favorecendo um desenvolvimento sadio de condutas sociais.
4 – Apoio mútuo de ambos os pais
As investigações sobre famílias têm se concentrado, sobretudo, no influente papel da interação mãe-filho, mas pouco se tem falado dos efeitos do apoio mútuo dos dois pais ao filho (coparenting). O apoio mútuo está diretamente relacionado à coesão familiar, um elemento muito importante no bom desempenho de todos os itens anteriores.
Essa necessidade de apoio mútuo remete à outra questão importante: como pais separados promovem a coesão familiar? Quando o outro cônjuge não está presente, que imagem deste é passada para a criança? O outro é desqualificado, enaltecido, aprovado, etc.? Os resultados de alguns estudos apoiam a hipótese de que altos níveis de hostilidade-competitividade e baixos níveis de harmonia familiar se associam a probabilidade elevada de agressividade na idade escolar.
Muitos são os casais que, separados ou não, vivem depreciando-se um ao outro para os filhos. Alguns estudos mostram que os meninos menos problemáticos eram aqueles que tinham um pai que promovia a coesão familiar e uma mãe pouco crítica com a postura desse pai (McHale e Rasmussem).
Observa-se ainda, que as mães provenientes de ambientes familiares estressantes, tendem a ser mais críticas com seus maridos diante de seus filhos. Durante o período pré-escolar, as condutas agressivas aparecem mais nas crianças que veem de lares onde as mães são mais críticas com seus maridos. Portanto, tanto a atitude hostilidade-competitividade, como a atividade excessivamente crítica da mãe sobre o pai aparece como elementos de grande influência no surgimento de conduta agressiva em idades pré-escolares.
Outro aspecto que não tem sido objeto de muitas investigações é a implicação dos irmãos no desenvolvimento de problemas de conduta. O conflito entre irmãos é também considerado fator agravante no desenvolvimento de condutas agressivas, sempre e quando se dá conjuntamente com negligência por parte dos pais. O efeito é sempre pior quando os conflitos se dão entre irmãos maiores para com os menores, os quais tendem a imitar a agressividade daqueles (Garcia, Shaw, Winslow e Yaggi).
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Mídia, TV e Contexto social
Há muitos anos, diante da pergunta feita por um jornalista sobre a responsabilidade da televisão na agressividade e violência humanas, o Dr. René Penna Chaves respondeu; “- Não creio que Cain tenha se inspirado na televisão para matar seu irmão Abel…” Tentava, o Dr. René, valorizar o peso do caráter sobre as circunstâncias ambientais.
A questão da influência da televisão nas condutas das crianças, especialmente sobre as condutas agressivas é sempre polêmica. A maioria dos estudos assegura que os meninos tendem a imitar as ações violentas que vêm na TV, as meninas tendem a ser mais tolerantes com a agressividade e aceita-la melhor, assim como, tendem a desenvolver outras formas de agressão.
Além disso, tem-se observado que os meninos agressivos normalmente escolhem programas mais violentos e que há mais meninos adictos a esses programas que meninas (Huesmanm e Miler). Porém, nem todas as investigações confirmam estas observações. Há autores que atribuem o suposto impacto da TV como um auxílio à compreensão e interpretação da criança sobre o que aparece na tela (Huesmanm, Erom, Kleim et al.).
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Ballone GJ – Violência da Criança e Adolescente – in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.net/ revisto em 2019
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