Personalidade

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TEORIA GERAL

A busca por explicações sobre a personalidade tem mobilizado as mais diversas áreas do conhecimento humano desde sempre e a tendência em classificar pessoas, baseado nas características da personalidade, é tão antiga quanto a humanidade. Ninguém, absolutamente ninguém, deixa de classificar a seu modo as pessoas que conhece, ainda que intimamente, involuntariamente e até inconscientemente. Todos nós temos uma espécie de arquivo subjetivo das pessoas que julgamos explosivas, simpáticas, sensíveis, desleais, preocupadas, ansiosas, mentirosas, amorosas, rancorosas, afetuosas, alegres, introvertidas e assim por diante.

Na Grécia, Hipócrates (460-377 a.C.), o pai da medicina, classificava a personalidade em quatro tipos de acordo com a presença de determinadas substâncias no organismo, como supunha. No século XVII, o filósofo John Locke foi um dos primeiros a teorizar que a mente humana nasce vazia como um papel em branco e que a personalidade seria fruto das experiências ao longo da vida. Logo depois, o francês Jean Jacques Rousseau criou o conceito do bom selvagem inspirado nas descobertas de povos indígenas nas Américas. Para ele os humanos nasceriam inocentes e pacíficos. Males como ganância e violência seriam produtos da civilização.

A tendência universal de classificar as outras pessoas se baseia, em um dos aspectos, nos traços da personalidade. Hipócrates apresentou essa tendência classificatória através de sua teoria dos quatro humores corporais – sangue, fleuma, bile branca e bile negra – segundo a qual, a predominância de qualquer um desses quatro humores caracterizaria o temperamento das pessoas, bem como a inclinação para determinadas doenças.

O primeiro cientista da era moderna a estudar seriamente a questão da natureza versus criação foi o inglês Francis Galton (1822-1911), no fim do século XIX. Pioneiro no estudo de gêmeos, Galton, primo de Charles Darwin, pretendia mostrar que a inteligência e os talentos da elite intelectual inglesa eram passados de pai para filho.

No Renascimento e na era moderna o debate se deu, principalmente, em torno do grau de participação que a natureza e o ambiente teriam na formação da personalidade. Por muito tempo e até quase recentemente os intelectuais insistiam na tese da personalidade humana ser produto exclusivo do ambiente. Talvez essa insistência tenha sido uma atitude inconsciente de reagir à série de discriminações e atrocidades cometida na Europa e Estada Unidos durante boa parte do século 20 com propósitos étnicos.

Em episódios que espocavam aqui e ali, geralmente revelados apenas décadas mais tarde, judeus, ciganos, negros, deficientes físicos, homossexuais e outros grupos étnicos ou estigmatizados foram esterilizados ou mortos para evitar que transmitissem seus genes à posteridade. O apogeu trágico e brutal dessas atitudes pretensamente eugênicas ocorreu na Alemanha nazista, mas não exclusivamente lá, infelizmente. Acontece ainda dissimuladamente aqui e ali.

Baseado na teoria de Hipócrates, Cláudio Galeno (131-200 DC), em sua monografia “De Temperamentis” desenvolveu a primeira tipologia do temperamento. Descreveu quatro temperamentos básicos, os quais se desdobravam em nove (não vêm ao caso aqui). Eram os quatro: sanguíneo, bilioso ou colérico, melancólico e fleumático.

Immanuel Kant (1724 – 1804), mil e quinhentos anos depois, aprimorou as características dos quatro tipos de temperamento citados por Galeno. O tipo sanguíneo é caracterizado pela força, rapidez e emoções superficiais. O tipo melancólico, designado pelas emoções intensas e vagarosidade das ações. O tipo colérico, rapidez e impetuosidade no agir e o fleumático, caracterizado pela ausência de reações emocionais e vagarosidade no agir.

DNA e Personalidade  
Da metade do século XX até agora, a partir da descoberta da estrutura do DNA pelo americano James Watson e pelo inglês Francis Crick em 1953, até o mapeamento completo do genoma humano em 2003, abriu-se um campo de exploração sem precedentes para entender as origens biológicas da personalidade. Hoje se sabe que os comportamentos dependem da interação entre fatores genéticos e ambientais.

Além disso, as descobertas mais recentes nesse campo mostram que a influência dos hábitos e do estilo de vida de cada um na ação dos genes é maior do que se pensava. Pessoas com genes associados à depressão têm mais probabilidade de desenvolver a doença se forem expostas a eventos traumáticos durante a vida. Fala-se que questões vivenciais podem servir como gatilho para disparar certas predisposições geneticamente determinadas.

As revelações de que a genética pode influenciar comportamentos mudam a visão das pessoas sobre questões filosóficas e do cotidiano.  A ideia de que os bebês vêm ao mundo com características inatas multiplica a angústia dos pais que dão aos filhos uma educação adequada e eles não correspondem às suas expectativas. Na verdade, muitas coisas não dependem dos pais, mas sim da natureza, (Pinker). O biólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, autor de O Gene Egoísta, vai além. “A genética do comportamento mudará muita coisa. Se partirmos do pressuposto de que nossa mente é regida por algo além dos conceitos éticos e morais aprendidos, como punir um assassino?“, ele questiona. “Quando um computador não funciona, em vez de puni-lo, nós o consertamos.” Afirmação ousada e analogia duvidosa.

Na década de 70 os estudos com gêmeos, incluíam filhos biológicos e adotivos, mostraram que as crianças adotadas têm traços de personalidade mais parecidos com os de seus pais biológicos do que com os dos pais adotivos. Os estudos revelaram também que gêmeos idênticos exibem aspectos da personalidade semelhantes.

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Introversão e Extroversão (tipos de personalidade na visão de Jung)
“Dentre os conceitos de Jung, aqueles sobre introversão e extroversão são os mais usados. Jung descobriu que cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado para seu interior ou para o exterior, sendo que a energia dos introvertidos se dirige em direção a seu mundo interno, enquanto a energia do extrovertido é mais focalizada no mundo externo.

Entretanto, ninguém é totalmente introvertido ou extrovertido. Algumas vezes a introversão é mais apropriada; em outras ocasiões, a extroversão é mais adequada. Mas as duas atitudes se excluem mutuamente, de forma que não é possível manter ambas ao mesmo tempo.Jung também enfatizava que nenhuma das duas é melhor do que a outra, afirmando que o mundo precisa dos dois tipos de pessoas. Darwin, por exemplo, era predominantemente extrovertido, enquanto Kant era introvertido por excelência.

O ideal para o ser humano é ser flexível, capaz de adotar qualquer dessas atitudes quando for apropriado, o ideal para o ser humano é não poder ser classificado, é ser uma mistura bastante incomum entre duas culturas.

Os introvertidos concentram-se prioritariamente em seus próprios pensamentos e sentimentos, em seu mundo interior, tendendo à introspecção. O perigo para tais pessoas é imergir de forma demasiada em seu mundo interior, perdendo ou tornando tênue o contato com o ambiente externo.O cientista distraído, estereotipado, é um exemplo claro deste tipo de pessoa absorta em suas reflexões em notável prejuízo do pragmatismo necessário à adaptação.

Os extrovertidos, por sua vez, se envolvem com o mundo externo das pessoas e das coisas. Eles tendem a ser mais sociais e mais conscientes do que acontece à sua volta.Necessitam se proteger para não serem dominados pelas exterioridades e, ao contrário dos introvertidos, se alienarem de seus próprios processos internos.Algumas vezes, esses indivíduos são tão orientados para os outros que podem acabar se apoiando quase exclusivamente nas ideias alheias, ao invés de desenvolverem suas próprias opiniões.

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A personalidade é refém absoluta dos genes?
A presença desses genes, entretanto, não significa que a pessoa obrigatoriamente desenvolverá o comportamento ligado a ele. O que existe é uma predisposição, geralmente influenciada pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive. Ter predisposição genética à depressão, por exemplo, não basta para a pessoa ficar deprimida, pois os mesmos genes são encontrados também em pessoas não deprimidas.

Para os genes ligados aos traços se manifestarem outros fatores são necessários, tais como as vivências, o ambiente social, as condições de saúde geral e assim por diante. Os traços de personalidade, porém, são produtos de muitos genes – e não de apenas um, como ocorre com a maioria das características físicas e das doenças.

Os estudos com gêmeos têm revelado a natureza hereditária do perfil emocional das pessoas. Esses experimentos permitiram concluir que as principais características da personalidade – como introversão ou extroversão, vulnerabilidade à neurose ou estabilidade emocional, abertura ou não a experiências, atenção ou dispersão – são em média 50% herdadas.

Mesmo em atitudes culturais como a religião, por exemplo, o impacto dos genes é muito forte. O conservadorismo político, outro exemplo, é um traço que, segundo estudos da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, tem 60% de influência genética. Os pesquisadores dessa universidade veem acompanhando 8.000 gêmeos, três centenas deles são gêmeos idênticos e separados da família no nascimento há mais de 20 anos. Certos comportamentos antes considerados fruto do aprendizado são fortemente influenciados pela genética ou pela epigenética.

Epigenética é um outro tipo de hereditariedade não ocorre através dos genes ou do DNA. É a chamada herança epigenética. A epigenética é a transmissão de experiências ocorridas com os pais para os filhos e que não ocorre através do DNA.

A epigenética pode explicar os hábitos alimentares caracterizados pelo elevado consumo de fast-food. Estudos apontam que talvez o problema não seja apenas nutricional, mas também ligado à epigenética. Acredita-se que, especialmente, os hábitos alimentares das gestantes durante o primeiro trimestre gestacional, podem impactar significativamente no metabolismo do filho e contribuem para futuros hábitos alimentares.

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Ambiente, genética e personalidade
Como se forma a personalidade humana? O que é mais importante na formação e desenvolvimento da personalidade? Essas questões acompanham a curiosidade humana desde tempos imemoráveis. Atualmente, embora a dúvida continue, já podemos refletir baseados em hipóteses bastante interessantes.

O indivíduo como se encontra aqui-e-agora é, indubitavelmente, um produto daquilo que ele trouxe ao mundo com aquilo que o mundo fez com ele, em outras palavras, o sujeito é uma combinação de seu genótipo com as influências do ambiente sobre esse genótipo. Em outras palavras, Fenótipo = Genótipo + Ambiente. Essa é a fórmula universalmente aceita pela ciência.

Entre tantas tendências destaca-se um tronco ideológico segundo o qual os seres humanos seriam criados iguais quanto sua capacidade potencial. Neste caso, a ocorrência das diferenças individuais seria interpretada como uma decisiva influência ambiental sobre o desenvolvimento da personalidade.

De acordo com tal enfoque, havendo no mundo uma hipotética igualdade de oportunidades, os seres humanos seriam todos iguais quanto suas realizações, já que, potencialmente seriam todos iguais. Assim pensando, se a todos fossem dadas oportunidades iguais, como por exemplo, oportunidade musical ou artística, seria impossível destacar-se um Chopin, Mozart, Monet, Rembrandt, porque a potencialidade de todos seus colegas de classe seria a mesma. A única diferença entre Einstein e os demais teria sido uma simples questão de oportunidade e circunstâncias ambientais. Neste caso a personalidade, a inteligência, a vocação e a própria doença mental seriam questões exclusivamente ambientais.

A ideia de buscar fora da pessoa os elementos que expliquem seu comportamento e sua desenvoltura vivencial teve ênfase com as teorias de Rousseau, segundo o qual era a sociedade quem corrompia o homem. Subestimou-se a possibilidade da sociedade refletir, exatamente, a totalidade das tendências humanas. São seres humanos que trazem em si um potencial corruptor o qual, agindo sobre outros indivíduos sujeito à corrupção, produzem um efeito corruptível. Ou seja, trata-se de um demérito tipicamente e exclusivamente humano.

Outra concepção acerca da personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e às malformações físicas, mas também, determinaria às peculiares maneiras do indivíduo relacionar-se com o mundo: seu temperamento, seus traços afetivos, etc.

As considerações extremadas neste sentido descartam qualquer possibilidade de influência do meio sobre o desenvolvimento psicoemocional e atribuem aos arranjos sinápticos e genéticos a explicação de todas as características da personalidade. Entretanto, uma das descobertas mais interessantes do projeto Genoma colocou em cheque essa hipótese organicista. Foi o fato de se verificar que os seres humanos compartilham entre si 99,99% de seus genes e, desta forma, as diferenças cromossômicas entre duas pessoas seriam ínfimas.

Pelo lado da biologia, se a diferença dos cromossomos entre duas pessoas gira em torno de 0,01%, como se justificaria a enorme diferença de personalidade entre essas duas pessoas? Pelo lado do ambiente, se o meio onde se desenvolvem dois irmãos é basicamente o mesmo, o que justificaria também a enorme diferença entre as personalidades de ambos?

Buscando um meio termo, como apelo ao bom senso, pode-se considerar a totalidade do ser humano como sendo um balanço entre, no mínimo, duas porções que se conjugam de forma a produzir a pessoa tal como é: uma natureza biológica, tendo por base nossa natural submissão ao reino animal através das leis da biologia, da genética e dos instintos, e uma natureza existencial, suprabiológica e que transcende o animal que repousa em nós. A pessoa, ser único e individual, distinto de todos outros indivíduos de sua espécie, traduz a essência de uma peculiar combinação bio-psico-social.

Pensando assim, os genes herdados se apresentam como possibilidades variáveis de desenvolvimento em contacto com o meio e não como certezas inexoráveis de desenvolvimento. Sensatamente, o ser humano não deve ser considerado nem exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes disso, uma combinação destes dois elementos em proporções completamente desconhecidas.

O ser humano não deve ser considerado um produto exclusivo de seu meio, tal como um aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de qualquer atributo mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode, tampouco, ser considerado um punhado de genes, resultando numa máquina programada a agir desta ou daquela maneira, conforme teriam agido exatamente os seus ascendentes biológicos.

Seguindo essa ideia a definição de Personalidade poderia ser esboçada da seguinte maneira:

Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, da existência singular que experimentamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser, de sentir e de desempenhar o seu papel social“.

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Os traços da personalidade 
Para a psiquiatria os tipos de personalidade ou os tipos psicológicos são classificados de acordo com o conjunto de traços que caracterizavam a maneira de ser da pessoa, o modo como a pessoa interage com seu mundo objectual, ou seja, como o sujeito se relacionava com o objeto.

Carl Jung (1875 – 1961) classificava as pessoas de acordo com dois tipos básicos de atitude (dos quais também derivam vários subtipos), a extroversão e a introversão, características de origem biológica. A extroversão, segundo ele, era governada por expectativas e necessidades sociais, estando orientada para a adaptação e reações exteriores, enquanto a introversão teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos psíquicos.

Alfred Adler (1870 – 1937) reconhecia quatro tipos de temperamento, os quais, de certa forma, foram ainda baseados em Galeno, porém, definidos de acordo com o interesse social e nível de energia manifestado pelas pessoas. Adler denominava de tipo governante as pessoas com certo nível de agressividade, tirania e dominação, correspondendo ao tipo colérico de Galeno. Falava do tipo dependente, para pessoas sensíveis, que se acomodam em uma concha existencial para se protegerem dos eventos externos. O tipo dependente possui baixos níveis de energia, são cronicamente cansados, pouco dispostos e correspondem ao tipo fleumático de Galeno.

O terceiro tipo de Adler é chamado de evitação e representa pessoas que tendem a se afastar do contato direto com os outros e com as circunstâncias. Essas pessoas também têm níveis baixos de energia, são predominantemente tristes e correspondem ao tipo melancólico de Galeno. Finalmente o tipo socialmente útil, representando as pessoas saudáveis, que apresentam interesse social e energia, atléticas e vigorosas, relacionadas ao tipo sanguíneo de Galeno.

Alguns traços de personalidade, de fato, parecem ter uma potencialidade geneticamente determinada, faltando saber com que probabilidade esse potencial se manifestará ou não na vida da pessoa. O sequenciamento do genoma humano permitiu que cientistas identificassem uma série de genes relacionados ao comportamento. Foram mapeados genes relacionados à tendência para adquirir certos traços de personalidade, ou a desenvolver hábitos ou vícios – desde que tais genes sejam “disparados” por estímulos ambientais durante a vida da pessoa.

Uma das mais recentes pesquisas dos genes relacionados ao comportamento humano foi conduzida pela Universidade de Essex, na Inglaterra, e se refere ao gene responsável pelo transporte da serotonina, um neurotransmissor associado à tonalidade afetiva, bem como ao bem-estar e felicidade, entre outros sentimentos e sensações. Esses genes estariam relacionados à maneira como cada um processa as informações positivas ou negativas – ou seja, à tendência a ser otimista ou pessimista.

Os trabalhos da geneticista brasileira Mayana Zatz da Universidade de São Paulo, em parceria com o geneticista João Ricardo de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, em pesquisas para tentar descobrir a influência genética de doenças psíquicas levaram à descoberta do gene do otimismo. Isso pode nos fazer mais tolerantes com quem teima em ver apenas o lado negativo do mundo. Para a psiquiatria essas descobertas embasam o tratamento do mau humor (Distimia) com medicamentos que aumentam o nível da serotonina, geralmente antidepressivos.

Acredita-se que entre os brasileiros o gene bom humor é encontrado em 40% das pessoas – um verdadeiro recorde se comparado aos ingleses, com apenas 16% de portadores. O pesquisador Ricardo Kanitz, da PUC do Rio Grande do Sul, atribui esse índice de otimismo dos brasileiros à mistura de etnias e nacionalidades da qual se compõe nosso país. De qualquer maneira, felizmente ou infelizmente, parece claro que o brasileiro é mais propenso a olhar o mundo com certo otimismo.

Passo a passo a ciência descobre que a genética pode influir muito na formação das características e no comportamento das pessoas. Talvez as pessoas com índole calma ou explosiva tenham uma participação genética importante em seu comportamento, muito além do patrimônio aprendido. Como neste caso, a ciência se preocupará em ir a fundo no caso da homossexualidade, da inteligência, dos comportamentos obsessivos, histéricos, fóbicos e assim por diante.

O que se pretende, hoje em dia, é que os pesquisadores não tenham de optar pelo sistema orgânico ou psicológico, como acontecia antes. Não cabem mais, de um lado, os defensores da tese de que nascemos todos iguais e a personalidade se forma pelo aprendizado e pelas experiências pessoais e, de outro lado, defensores de que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos.

A genética do comportamento vem mostrando que não só o ambiente e nem só o DNA formam a personalidade. Atualmente considera-se que os traços tenham um componente genético, porém, sua manifestação depende de fatores ambientais. O gene carrega o traço, mas é o ambiente que puxa o gatilho para ele se manifestar.

De qualquer forma, já se tem certeza de que os genes são capazes de influenciar o comportamento humano. Já foram encontrados genes que tornam as pessoas mais vulneráveis a comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também foram detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.

TEORIAS DA PERSONALIDADE
Todas as vezes que se coloca lado a lado duas pessoas com intenção de estabelecer comparações, qualquer que seja o aspecto a ser medido e comparado, sempre existirá diferenças entre ambas. São essas diferenças entre os indivíduos que os tornam únicos e inimitáveis.

Por outro lado, apesar de tais diferenças, observam-se outras características comuns a todos os seres humanos, tal como uma espécie de marca registrada da espécie. Assim, existem elementos comuns e capazes de identificar todos indivíduos como pertencentes a uma mesma espécie, portanto, elementos característicos da natureza humana e, por outro lado, outros atributos particulares e pessoais capazes de diferenciar individualmente um ser humano de todos os demais.

Para demonstrar didaticamente este duplo aspecto da constituição humana tome-se, por exemplo, um canteiro de rosas amarelas. Embora todos os indivíduos do canteiro tenham características comuns e suficientes para serem considerados e identificados como rosas amarelas, é praticamente impossível encontrar dois exemplares exatamente iguais. Portanto, apesar de todos esses indivíduos possuírem traços comuns, tais como, perfume, pétalas, espinhos e cor, cada um deles tem suas características individuais, tamanho, número de pétalas, tonalidades diferentes, espinhos mais realçados…

No ser humano normal, da mesma forma, existem características universais comuns a todos indivíduos, como por exemplo, duas pernas, dois braços, um nariz, angústia, ambição, amor, ódio, ciúme, etc. Entretanto, em cada indivíduo essas características combinar-se-ão de maneira completamente pessoal tornando cada um singular.

Diante dessas características iguais e diferentes podemos afirmar que os seres humanos são essencialmente iguais e funcionalmente diferentes, ou seja, as pessoas são iguais quanto à essência humana (ontológica), porém, uns funcionam diferentemente dos outros. Todas as ideologias baseadas na igualdade genérica entre os seres humanos e com total descaso para com as diferenças funcionais, apesar do aspecto pseudo humanista do discurso eloquente e retórico, apesar do romantismo ético e moralmente correto, cientificamente serão ideologias completamente falsas.

Nossa igualdade é apenas essencial, jamais funcional. As teorias sobre uma igualdade plena entre seres humanos pecam, inclusive, por negarem uma das principais características de nossa espécie, que é a perene vocação das pessoas em buscarem se destacar umas das outras.

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As Funções Psíquicas
Jung identificou quatro funções psicológicas que chamou de fundamentais: pensamento, sentimento, sensação e intuição.

Cada uma dessas funções pode ser experienciada tanto de maneira introvertida quanto extrovertida.

O Pensamento. Jung via o pensamento e o sentimento como maneiras alternativas de elaborar julgamentos e tomar decisões. O pensamento está relacionado com a verdade, com julgamentos derivados de critérios impessoais, lógicos e objetivos.

As pessoas nas quais predomina a função do pensamento são chamadas de reflexivas. Esses tipos reflexivos são grandes planejadores e tendem a se agarrar a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com contraditória evidência.

O Sentimento. Tipos sentimentais são orientados para o aspecto emocional da experiência. Eles preferem emoções fortes e intensas, ainda que negativas, a experiências apáticas e mornas.

A consistência e os princípios abstratos são altamente valorizados pela pessoa sentimental. Para ela, tomar decisões deve estar de acordo com julgamentos de valores próprios – como, por exemplo, valores de bem ou de mal, do certo ou do errado, do agradável ou do desagradável -, ao invés de julgar em termos de lógica ou eficiência, como faz o reflexivo.

A Sensação. Jung classifica a sensação e a intuição juntas, como as formas de apreender informações, diferentemente das formas de tomar decisões.

A sensação se refere a um enfoque na experiência direta, na percepção de detalhes, de fatos concretos. A sensação reporta-se àquilo que uma pessoa pode ver, tocar, cheirar. É a experiência concreta e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise da experiência.

Os tipos sensitivos tendem a responder à situação vivencial imediata, e lidam eficientemente com todos os tipos de crises e emergências.

Em geral eles estão sempre prontos para o momento atual, adaptam-se facilmente às emergências do cotidiano, trabalham melhor com instrumentos, aparelhos, veículos e utensílios do que qualquer um dos outros tipos.

A Intuição. A intuição é uma forma de processar informações em termos de experiência passada, objetivos futuros e processos inconscientes. As implicações da experiência (o que poderia acontecer, o que é possível) são mais importantes para os intuitivos do que a experiência real por si mesma.

Pessoas fortemente intuitivas dão significado às suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos.

Os intuitivos processam informação muito depressa e relacionam, de forma automática, a experiência passada com as informações relevantes da experiência imediata.

As hipóteses sobre a personalidade, mais precisamente as Teorias da Personalidade, podem ter enorme influência sobre o modo como são elaboradas as ideologias políticas, interpretações antropológicas, programas sociológicos…

Enfim, as especulações sobre a formação daquilo que nós temos de mais humano, a Personalidade, determina maneiras como a sociedade representa o próprio ser humano.

Existem duas tendências, uma que prioriza as diversas culturas na formação da personalidade e outra, ao contrário, que prioriza os atributos pessoais; Etnocentrismo e Egocentrismo, respectivamente.

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Semelhanças Essenciais  
A data do aparecimento do ser humano na face da Terra vai recuando no tempo na medida em que avançam os métodos das descobertas da arqueologia. A ideia de que o homem de Neanderthal tenha sido um ancestral do Homo sapiens tem sido cada vez mais contestada por antropólogos e paleontólogos, cogitando-se a tese de que há mais de cinco milhões de anos já existiam homens capazes de fabricar utensílios e cultuar seus mortos. Contudo, apesar do ser humano ter conseguido modificar suas possibilidades de ação e seus modos de existência somente há poucos e recentes séculos de sua história, muitas atitudes e sentimentos do homem pré-histórico continuam presentes e se repetindo no ser humano moderno.

É incontestável, sem dúvida, o grande salto dado pelo desempenho mental humano, ainda que, desacompanhado de mudanças substanciais em sua biologia. O ser humano foi capaz de saltar da pedra lascada ao acelerador de partículas, do fogo à fusão nuclear e, sabe-se lá até onde mais chegará. Apesar disso, muita coisa ficou indelevelmente impressa na maneira de ser do indivíduo moderno que remonta aos seus ancestrais das cavernas.

A atividade mental contemporânea do ser humano é totalmente diferente daquela de seus ancestrais, principalmente no que diz respeito à aquisição do conhecimento. Trata-se, conforme expõe Herreira com clareza, de uma espécie de destino biológico da espécie em sua jornada dirigida ao conhecimento, a qual se promove através da utilização progressiva dos ilimitados recursos do sistema nervoso humano.

Se há cinquenta mil anos o ser humano ia à luta com sua clava, hoje ele se empenha no combate com armas automáticas, drones e armas químicas ou biológicas. A motivação, entretanto, o sentimento e objetivo desta desavença ente seres humanos são os mesmos, tanto na pré-história quanto hoje. Se na pré-história os ancestrais humanos cultuavam seus mortos, julgando que se transformavam em deuses, hoje se consola na ideia de que eles vão a Deus depois de mortos. Nas questões existenciais essenciais não houve grandes mudanças.

De acordo com Jung, nenhum biólogo pensaria em admitir que os indivíduos adquiram todo seu modo de comportamento apenas a partir do nascimento, a partir das coisas que aprenderá daí em diante. Bem mais provável é que o jovem pardal teça seu ninho característico porque é um pardal e não um coelho. Assim também, é mais provável que o ser humano nasça com sua maneira de comportar-se especificamente humana e não com a do hipopótamo. São manifestações comportamentais que “já vêm prontas” e que vêm se repetindo em cada pessoa que nasce sabe-se lá desde quando.

É assim que se percebem elementos de notável semelhança na essência dos seres humanos, expressões e modos característicos próprios da espécie. Podemos encontrar formas psíquicas no indivíduo que ocorrem não somente em seus ascendentes mais próximos, mas em outras épocas distantes milhares de anos, nas quais os indivíduos estão ligados apenas pela arqueologia. Jung apresenta as Semelhanças Essenciais do ser humano como certas formas típicas de comportamento característico, os quais, ao se tornarem conscientes, assumem o aspecto de representações do mundo ou maneiras humanas de representar a realidade.

Também serve para ilustrar um pouco mais a questão das Semelhanças Essenciais a ideia dos instintos. Eles aparecem como formas típicas de comportamento da espécie, podendo estar ou não associados a um motivo consciente. Freud chama atenção para estas características universais da pessoa: os Instintos Básicos. Ele enfatiza notadamente o instinto para a preservação da vida, tanto da vida individual, sob a forma de afastamento da dor ou busca do prazer, quanto da vida da espécie, através da sexualidade e vocação à reprodução.

Freud cita ainda o instinto da morte, o qual, apesar de contestado por muitos autores, quando voltado para o exterior conduz à agressão. Pela teoria dos instintos, serão inúteis as tentativas do ser humano livrar-se das inclinações agressivas, já que elas são indispensáveis para a execução dos instintos.

Didaticamente poderíamos considerar os Arquétipos e os Instintos como duas faces de uma mesma moeda; enquanto os instintos trazem em seu bojo uma conotação biológica e que remete às sombras do passado animalesco, os arquétipos colocam o ser humano num patamar mais elevado e diferenciado, ou seja, mais espiritualizado.

Na filosofia, a busca de uma característica humana marcante foi vislumbrada por Schopenhauer como sendo a Vontade. O fato de sentir e querer é a atitude mais básica que o ser humano conhece, portanto, é uma característica comum a todos. Assim, o intelecto se coloca a serviço desta forma irracional ou supraracional chamada Vontade. Posteriormente Nietzsche acrescentou à vontade de Schopenhauer o Poder: motivação básica e universal entre os homens.

A vontade do poder serviu de orientação aos estudos de Alfred Adler para a compreensão psicodinâmica deste impulso natural humano, retirando-se do termo “poder” qualquer conotação pejorativa. Para Adler, o poder atendia as mesmas exigências dos instintos básicos de Freud e a motivação da atitude comum aos seres humanos estava firmemente atrelada à sua vontade do poder: poder sobre os demais semelhantes. O que mudaria entre as pessoas seria o tipo de poder em questão; poder material, político, intelectual, estético, de autoridade, de privilégios e assim por diante.

Adler compara, fenomenologicamente, o poder desejado pelos diversos tipos de pessoas; pelo bandido que deseja ser o mais pérfido entre seus pares, do indivíduo caridoso, que manifesta sua aspiração de poder ter supremacia caridosa entre seus companheiros de altruísmo. Evidentemente não cabe aqui uma preocupação valorativa ou ética, mas apenas a constatação do fenômeno.

De qualquer forma, seja a necessidade íntima de um deus que conforta, seja a perene tendência em preservar a vida ou garantir a espécie, seja a constante busca do prazer, uma vontade que motiva ou um poder que estimula, vê-se sempre um elemento da personalidade que se perpetua ao longo de toda história humana. Trata-se de atitudes existenciais diante da vida que acompanham a espécie humana através de infindáveis gerações. Essas são as verdadeiras Tendências Naturais do ser humano.

Embora a essência das Tendências Naturais não pareça depender do tempo e do espaço atuais, pelo fato de terem existido, de existirem e de continuarem existindo em qualquer momento e qualquer civilização, suas manifestações

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comportamentais e emocionais devem estar sempre adequadas ao modelo sociocultural onde a pessoa se insere e adaptadas às possibilidades de ação de cada um. Em outras palavras, as Tendências Naturais Humanas devem ser disciplinadas, domesticadas e adequadas às circunstâncias e possibilidades de cada um.

As Tendências Naturais nunca se manifestam de maneira pura e primitiva, mas maquiadas, domesticadas e aculturadas. Uma conduta instintiva pura é praticamente impossível de manifestar-se em condições psíquicas normais. Tais impulsos primitivos se diluem pelas pressões das circunstâncias e pelas peculiaridades afetivas de cada um e se mascaram de tal forma que acabam ficando dissimuladas pelo caráter da pessoa. O impulso sexual, por exemplo, na normalidade psíquica, não surge de forma primitiva a ponto da pessoa arrastar a outra a força para a cama. Normalmente marca-se um jantar… Muitas vezes a ânsia de poder se dissimula em altruísmo, generosidade e outras “máscaras sociais”.

Durante toda sua existência a pessoa é compelida a atender as Tendências Naturais, essencialmente as mesmas em todos indivíduos. As maneiras pelas quais tais tendências serão atendidas mostrarão as diferenças entre as pessoas, entre as gerações e entre os povos. A tendência ao poder, por exemplo, pode se manifestar de diversas maneiras nas diferentes pessoas; prazer em ter poder, em sentir-se superior aos demais nos mais variados aspectos existenciais. Um monge poderia manifestar esta tendência buscando o prazer de sentir-se o mais humilde entre seus pares, superior a todos os demais em termos de humildade e abnegação. Sentiria uma satisfação suprema, perante Deus, ao saber-se o mais humilde entre os mortais. O intelectual, através do o poder do saber, conquistaria seu prazer percebendo-se o mais erudito em sua área. O amante, através do poder de cativar, ou o poder material do rico, a autoridade do político, a coragem do soldado, o qual teme mais a opinião de seus camaradas do que a arma do inimigo, e assim por diante.

Apesar da busca do prazer atender certos anseios pessoais, os meios de se conquistar esse prazer devem estar em concordância com as circunstâncias socioculturais. Mas, de qualquer modo, o universal fenômeno da busca do prazer – com suas mais variadas apresentações – é observado entre todos os seres humanos conscientes.

Para a manutenção de uma situação de equilíbrio entre a pessoa e seu meio ou entre ela e si própria é necessário haver harmonia entre três elementos; o peso ou força de suas tendências, as possibilidades de seu ego em atender suas necessidades e as condições de realização oferecidas pelo ambiente. As situações de emergência podem determinar atitudes primitivas, porém eficientes em direção à sobrevivência, apesar de emancipadas da ética. Há um ditado que diz: quando a miséria entra pela porta da frente a virtude sai pela janela.

Há uma tendência ao aparecimento de comportamentos primitivos sempre que houver uma flagrante ameaça aos instintos básicos, como se houvesse uma regressão ao estado biológico natural (predominantemente instintivo), como um desempenho comandado por um nível mais inferior de psiquismo, nível este onde as considerações mais sublimes da moral e da ética ficassem suspensas em benefício de objetivos mais imediatos e pragmáticos.

Os instintos aparecem sempre idênticos entre os indivíduos de uma mesma espécie, porém, apenas enquanto funcionam instintivamente, sem o polimento da domesticação. O aparelho psíquico do ser humano tem por função a transformação da pulsão instintiva original de acordo com as exigências de sua cultura e de suas emoções.

Embora o instinto seja, em si, comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie, no ser humano as manifestações desses instintos são peculiares a cada pessoa, elas atendem às peculiaridades do padrão emocional de cada um, enfim, atendem às características da personalidade de cada um. Nem por conta dessa domesticação pode-se anular o instinto básico original, ele é apenas transformado e adequado ao indivíduo e às exigências de seu meio.

Diferenças Funcionais
Ao lado das Tendências Naturais, as quais identificam todas as pessoas como pertencentes à mesma espécie, existem as peculiaridades próprias e particulares com as quais cada uma se apresentará e se relacionará com o mundo. Allport ilustra as diferenças funcionais de cada um ao descrever os Traços Pessoais; arranjos individuais e constitucionais determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor intensidade, resultariam em uma característica psíquica capaz de particularizar uma pessoa entre todas as demais.

Os traços herdados são possibilidades de vir a ser e não a certeza de que será. Há uma quantidade enorme de traços possíveis de transmissão hereditária, porém, apenas parte desses traços se manifestará no indivíduo.

A maneira singular e própria da pessoa interagir com seu mundo, decorrente de seus traços pessoais, pode ser chamada de Disposição Pessoal. Sendo esta a combinação dos traços que se manifestam na pessoa, então a Disposição Pessoal se confunde com a própria personalidade, ou seja, a maneira particular da pessoa de lidar com a vida, com o mundo e com suas próprias emoções.

É possível, como mostraram inúmeros autores, agrupar indivíduos de acordo com determinadas características psíquicas mais ou menos comuns entre eles formando grupos. Temos assim as classificações ou a tipologia da personalidade. É assim que se reconhecem os introvertidos, extrovertidos, sensitivos, pensativos, intuitivos, sentimentais ou, de outra forma, os explosivos, melancólicos, obsessivos, e assim por diante.

A classificação das personalidades baseada em traços busca reconhecer os traços predominantes naquela determinada personalidade ou na maneira de ser. Isso não quer dizer, de forma alguma, que as personalidades globais das pessoas classificadas desta ou daquela maneira sejam idênticas em todos do mesmo grupo: entre todos introvertidos, por exemplo, cada qual dispõe de uma personalidade peculiar e o fator – comum a todos do mesmo grupo – que permitiu serem classificados é uma tonalidade afetiva depressiva e sua consequente apresentação social introvertida.

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PERSONALIDADE: o meio ou os genes?
Há em biologia uma fórmula muito significativa e de validade indiscutível: FENÓTIPO = GENÓTIPO + AMBIENTE. Entende-se por Fenótipo o estado atual no qual se encontra o indivíduo aqui e agora, por Genótipo entende-se seu patrimônio genético e, em nosso caso, por Ambiente entendemos as influências do destino existencial sobre o desenvolvimento do ser.

De maneira geral, o estado em que se apresenta o indivíduo num dado momento deve ser entendido como uma conjugação entre seu patrimônio genético e a influência ambiental a que se submeteu. Em outras palavras, uma somatória daquilo que ele trouxe para a vida com aquilo que a vida lhe deu. Podemos assim, considerar a personalidade como sendo composta de elementos constitucionais ou genotípicos e de elemento ambientais ou paratípicos. O resultado final do indivíduo, tal como se encontra no momento atual, será o seu fenótipo.

A discussão sobre a força do ambiente ou da constituição na formação da personalidade é antiga, acirrada, infindável e inconclusiva. A tendência moderna e politicamente correta é entender o sujeito como resultado da influência preponderante do meio, porém, como o politicamente correto tende à acentuada demagogia, melhor seria uma concepção mais sensata.

A ciência médica, acostumada que está a considerar relacionamentos causais para os fenômenos que estuda, sente-se incomodada quando alguma tendência sociogênica atribui à delinqüência, por exemplo, um reflexo direto da pobreza (ambiental). Fosse assim, pelo menos em nosso meio a delinqüência seria, no mínimo, milhares de vezes mais presente.

É por causa de idéias assim, as quais procuram estabelecer relações diretas entre sentimentos e acontecimentos, que a sociedade não consegue entender a Depressão como um estado não necessariamente associado a alguma coisa má que tenha acontecido para a pessoa deprimida.

Por outro lado, a medicina psiquiátrica também se incomoda com as afirmações exageradamente orgânicas, como por exemplo, sobre a hipótese do comportamento agressivo ser conseqüência exclusiva de um bracinho mais longo de determinado cromossomo. Contribuindo para atenuar esta perpétua discussão, podemos pensar em um modelo de quatro mecanismos de influência para a formação da personalidade. São eles:

1 – Mecanismo Constitucional Direto

O mecanismo genético direto sugere uma influência dos genes e/ou da constituição de maneira direta na formação da personalidade. Neste caso, a influência ambiental é muito pequena e a participação biológical é quase absoluta. São poucas as situações que se enquadram neste mecanismo e a maioria delas refere-se aos casos de deficiência mental, como por exemplo, a Trissomia 21 ou Síndrome de Down, entre outras.

De um modo geral, são situações onde o patrimônio genético determina solidamente a configuração do indivíduo de modo decididamente irreversível, praticamente imune às alternativas terapêuticas atuais (grife-se “atuais”). Diz-nos o bom senso que de acordo com os avanços da genética, tais situações tendem a rarear cada vez mais. A detecção precoce de genes anômalos ou patogênicos e o conhecimento acerca da penetrância de tais genes prometem um futuro mais otimista na área da concepção humana. Entretanto, atualmente tais procedimentos corretivos da formação genética desenvolvem-se, predominantemente, na esfera da prevenção e não do tratamento.

O termo correto para os fatores biológicos atrelados à pessoa é genético-constitucional e não apenas genético. Há diferenças entre um elemento apenas genético e outro constitucional. Genético significa, em tese, hereditário, herdado. Constitucional, por sua vez, significa que faz parte da constituição da pessoa, podendo ou não ser genético. Um fator genético significa também ser constitucional, mas o contrário não se dá. As malformações proporcionadas pela toxoplasmose ou pela rubéola, por exemplo, são de natureza constitucional, embora não seja genética.

2 – Mecanismo Constitucional Indireto

Neste caso, muito embora os traços marcantes da personalidade possam ser determinados por fatores constitucionais, uma atuação decisiva do ambiente pode alterar o curso do desenvolvimento da pessoa. Uma surdez congênita, por exemplo, capaz de determinar uma personalidade peculiar por conta das limitações de desenvolvimento, essa alteração será significativamente atenuada caso a pessoa possa se beneficiar de recursos especializados de treinamento e educação.

As alterações constitucionais proporcionam maior ou menor probabilidade de se tornarem características na personalidade dependendo da atuação ambiental. Um indivíduo que tenha em si probabilidade genética de ser alto, por exemplo, poder ter o desenvolvimento da estatura prejudicada se o meio não lhe fornecer condições adequadas de nutrição. O contrário é verdadeiro; probabilidades genéticas de baixa estatura podem ser compensadas com nutrição, exercícios, etc.

Encontram-se nesta possibilidade os transtornos emocionais considerados endógenos. É o caso da esquizofrenia, por exemplo, que pode ou não se manifestar durante a vida do indivíduo apesar da probabilidade constitucional-genética. A eclosão franca da doença dependerá de um complexo conjunto de circunstâncias psicossociais. Também a predisposição à depressão poderia ser entendida através deste mecanismo, assim como outras condições psicopatológicas de comprovada concordância familiar.

3 – Mecanismo Ambiental Geral

O ambiente ou o espaço sócio-cultural a que pertence o indivíduo pode favorecer o desenvolvimento de alguns traços peculiares em sua personalidade, principalmente na forma de relacionamento para com o mundo. Os estímulos, as solicitações, as oportunidades de treinamento, as normas de convivência, enfim, todo o conjunto de recursos oferecido à pessoa através do sistema sócio-cultural e ambiental poderá determinar características da pessoa existir.

O ambiente desempenha ação modeladora sobre as potencialidades constitucionais da personalidade, ou seja, o ambiente pode alterar os rumos do desenvolvimento geral da pessoa. Situam-se aqui os estados emocionais e de formação psicológica resultantes das vivências apesar da existência de fatores constitucionais.

A chamada negligência parental (abandono por parte dos pais) pode exercer marcantes alterações no desenvolvimento emocional da pessoa, assim como as profundas perdas sofridas, a vitimização das guerras e coisas assim. Essas alterações seriam de maneira global sobre o desenvolvimento da personalidade.

4 – Mecanismo Ambiental Específico

Aqui a influência dos elementos ambientais se dá de forma especifica, ou seja, em aspectos específicos da Personalidade. A desnutrição, o alcoolismo, certas infecções, intoxicações, etc., são intercorrências ambientais que atuam na personalidade especificamente neste ou naquele aspecto, como por exemplo, retardo mental, paranóia, epilepsia, etc. Este é também o caso de um traumatismo craniano, após o qual o indivíduo tenha passado a apresentar convulsões ou demenciação. Isso quer dizer que sem determinado fator ambiental específico a personalidade tomaria outro rumo e o indivíduo se apresentaria na vida com outro desempenho existencial.

Embora esta proposta dos quatro mecanismos de influência possa facilitar uma reflexão acerca da formação da personalidade e dos transtornos da personalidade, isso não deve ser tomado como uma questão hermética. Tanto para o desenvolvimento da personalidade normal, quanto da não-normal, sempre haverá uma condição multifatorial, uma conjunção de mais de um destes mecanismos de influência. Atualmente o mais sensato é admitir uma natureza bio-psico-social na origem da personalidade e o peso com que cada um desses elementos participam será extremamente variável e individual.

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Transtornos de Personalidade
Os Transtornos de Personalidade são importantes porque eles podem representar propensões, podem ser preditivos ou prenunciar transtornos emocionais mais específicos.

Pessoas com Transtornos de Personalidade inegavelmente têm maior risco para os diversos transtornos psíquicos, incluindo os transtornos afetivos ou do humor, transtornos de ansiedade, dependência química, esquizofrenia, entre outros.

As pessoas com Personalidades Esquizotípica, por exemplo, estão em risco aumentado de esquizofrenia e aqueles com Personalidade anancástica ou obsessiva-compulsiva estão em maior risco de desenvolverem o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).

A presença de um Transtorno de Personalidade também complica a evolução da maioria dos transtornos mentais, seja por razões psicopatológicas propriamente ditas, seja pelas dificuldades de inter-relacionamento pessoal (portanto, com terapeutas e instituições também). Por causa disso podem ser chamados de personalidade pré-mórbida, sempre que evoluírem para transtornos psíquicos francos.

Além dos psiquiatras estarem atentos à presença de transtorno de personalidade, devem também ampliar o conceito classificatório desses transtornos, pois, frequentemente o distúrbio pode não corresponder a qualquer um dos tipos descritos nos manuais ou listados em glossários psiquiátricos.

Outra questão incômoda à psiquiatria é decidir se os transtornos de personalidade são passíveis de tratamento e se as pessoas com esse diagnóstico devem ser reconhecidos como doentes.

Os transtornos de personalidade não devem ser considerados como doenças mentais, apesar da sua indiscutível relevância para a prática clínica.

Entretanto, é importante considerá-los como sérios fatores de risco e/ou fatores complicadores para outros transtornos mentais, da mesma forma que a obesidade é considerada um risco fator para outras doenças, como por exemplo, diabetes, infarto do miocárdio, cálculos biliares, entre outras.

A Organização Mundial de Saúde inclui os Transtornos de Personalidade nos transtornos mentais e do comportamento. O termo transtorno é usado na CID-10 para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis e classificáveis, na maioria dos casos associados com sofrimento e com interferência nas funções pessoais.

Agressividade e Personalidade
Os impulsos agressivos e destrutivos podem fazer parte do Transtorno Explosivo Intermitente (DSM.IV).

Tais impulsos, esporádicos, tanto podem fazer-se contra objetos como contra pessoas, inclusive contra a própria pessoa, configurando assim todas as formas e graus de hétera e/ou auto-agressividade.

Na realidade, contrário do que alguns pacientes acham e até dizem com uma ponta de orgulho que “quando fico nervoso fico fora de mim” ou “sou calmo até que não mexam comigo”, esse comportamento não é uma atitude corajosa ou meritosa.

Trata-se, de fato, de um fracasso e incompetência em resistir aos impulsos agressivos, resultando em sérias agressões e destruição de propriedade.

Assim sendo, a característica do Transtorno Explosivo Intermitente é a ocorrência de episódios definidos de fracasso em resistir a impulsos agressivos, acarretando sérios atos agressivos ou a destruição de propriedades.

O grau de agressividade expressada durante um episódio é amplamente desproporcional a qualquer estressor desencadeante.

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para referir:
Ballone GJPersonalidade – Geral, in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.net, 2021.

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Referências

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Allport GW – Personalidade, EDUSP, 1973, SP.

Bouchard Jr. TJ, David T, Lykken DT, McGue M, Segal NL, Tellegen A – Sources of human psychological differences: the Minnesota study of twins reared apart. Science, Oct 12, 1990 v250 n4978 p223(6)

Herrera AO – A Grande Jornada: a Crise Nuclear e o Destino Biológico do Homem, Ed. Paz e Terra, 1982.

Jung CG – Tipos Psicológicos, Vozes, 1984, Petrópolis.

Nietzsche F – Humano, Demasiado Humano, Ed. Martins Fontes, 1973.

Plomin R, Spinath FM – Intelligence: Genetics, genes, and genomics. Journal of Personality and Social Psychology, 2003, 86, 112-129.

Plomin, R, Foch TT – A twin study of objectively assessed personality in childhood. Journal of Personality and Social Psychology, 39, 680-688, 1980.

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Strelau J – Temperament: A Psychological Perspective. New York: Plenum, 1998.

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Zatz, M – Clonagem e células-tronco. Estudos avançados, São Paulo, v.18, n.51, p.247-256, maio/ago. 2004

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