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Estima-se, hoje em dia, que uma em cada 10 pessoas maiores de 80 anos será portadora da Doença de Alzheimer a cada ano que passa. A mesma probabilidade vale para 1 a cada 100 pessoas maiores de 70 e 1 a cada 1000 pessoas maiores de 60 anos.
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Em 1906, ao fazer uma autópsia, o médico alemão Alois Alzheimer (1864-1915) descobriu lesões no cérebro do morto que ninguém havia relatado antes. Ao microscópio, viu tratar-se de um problema dentro dos neurônios, os quais pareciam atrofiados e cheios de placas estranhas e fibras retorcidas, enroscadas umas nas outras. Desde então, esse tipo de degeneração nos neurônios ficou conhecido como placas senis, até hoje consideradas característica fundamental da Doença de Alzheimer.
Estima-se, hoje em dia, que uma em cada 10 pessoas maiores de 80 anos será portadora da Doença de Alzheimer a cada ano que passa. A mesma probabilidade vale para 1 a cada 100 pessoas maiores de 70 e 1 a cada 1000 pessoas maiores de 60 anos. Esta é a avaliação de 1999, feita pela Federação Espanhola de Associações de Familiares de Enfermos de Alzheimer (AFAF). Assim sendo, a Doença de Alzheimer acomete de 8 a 15% da população com mais de 65 anos (Ritchie & Kildea).
A Doença de Alzheimer é uma das formas de demência neurodegenerativas, mas não se pode generalizar todas as demências como sendo Doença de Alzheimer. As quatro causas mais frequentes de demência são a Doença de Alzheimer, a demência vascular, a demência com corpos de Lewy e a demência frontotemporal. Atualmente fala-se muito em demência mista, devido constatação de mais de um fator associado em um mesmo quadro demencial.
Existem atualmente em todo o mundo entre 17 e 25 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer, o que representa 70% do conjunto das doenças que afetam a população geriátrica. A Doença de Alzheimer é a terceira causa de morte nos países desenvolvidos, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e para o câncer. Os pacientes de Doença de Alzheimer já são quatro milhões nos Estados Unidos. No Brasil, embora falte dados precisos, estima-se que meio milhão de idosos são acometidos, no mínimo. Apesar de tratar-se de uma doença predominantemente senil, essa questão deve preocupar o público de qualquer idade, pois, em um futuro próximo esses números passarão a fazer parte das perspectivas de vida daqueles que hoje ainda são jovens.
Apesar da Doença de Alzheimer continuar sendo uma síndrome de causa desconhecida e incurável até o momento, nos últimos anos as perspectivas da ciência vivem um certo otimismo realista, pois, considerando as possibilidades da medicina já estar conseguindo retardar os sintomas da doença, vislumbra-se agora fortes possibilidade de cura.
Na Doença de Alzheimer as alterações mais visíveis são da memória e da linguagem, enquanto na demência da Doença de Parkinson a execução prática e a atenção são as atividades mais comprometidas.
Apesar dos atuais requintes na investigação neurológica, ainda existe um fato intrigante; a falta de correlação entre o que se vê do cérebro velho nas imagens de tomografia, ressonância magnética e autópsias e o que se constata nos sintomas cerebrais. Alguns idosos permanecem com a função cerebral e cognitiva normais durante a vida, mesmo tendo imagens de importantes alterações cerebrais, notadamente de lesões sabidamente relacionadas à Doença de Alzheimer. Essas constatações servirão, sem dúvida, para ajudar esclarecer os tão pesquisados mecanismos de neuroproteção.
Trabalho publicado na revista Neurology avaliou autópsias de 36 pessoas que mostravam as placas de lesão neurológica próprias da Doença de Alzheimer. Entre essas pessoas 12 delas tinham a função mental absolutamente normal até o momento da morte, apesar da existência das placas de lesão, e 24 tinham diagnóstico de Doença de Alzheimer. Entretanto, observou-se que o volume cerebral, em particular da região chamada hipocampo, era maior nas pessoas com função mental normal (Erten).
Isso sugere que as lesões cerebrais detectadas nos exames de tomografia e ressonância magnética não devem significar, obrigatoriamente, o comprometimento da função. Não obstante, algumas lesões já podem ser usadas para diferenciar o chamado comprometimento cognitivo leve do prejuízo cognitivo da Doença de Alzheimer, como é o caso da atrofia do lobo temporal medial.
A Doença de Alzheimer é uma doença do cérebro que afeta primeiro a memória, o raciocínio e a comunicação das pessoas. Ela é a causa mais comum de prejuízo geral e progressivo da função mental. Antigamente a demência era conhecida como “senilidade” e comodamente considerada um sinal normal e inexorável do envelhecimento. Hoje sabemos que a Doença de Alzheimer e outras formas de demência não fazem, de maneira nenhuma, parte de um envelhecimento normal (chamada senescência). Os velhos não são inexoravelmente caducos.
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A figura acima mostra, do lado esquerdo, o cérebro normal. No lado direito vê-se atrofia cerebral. Os sulcos mais largos em cima e os ventrículos maiores em baixo.
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Onde a D. Alzheimer está classificada – denominação mais recente
Os atuais Transtornos Neurocognitivos (TNC) referidos no DSM-5 são aqueles referidos na classificação anterior, o DSM-4, como Demências. A classificação atual recomenda que essas síndromes de TNC sejam especificadas de TNC maior, TNC leve e seus subtipos de acordo com a etiologia (causa). Os subtipos maiores e leves de TNC incluem 13 tipos de TNC. Seriam:
TNC devido à Doença de Alzheimer,
TNC vascular,
TNC com corpos de Lewy,
TNC devido à doença de Parkinson,
TNC frontotemporal,
TNC devido a lesão cerebral traumática,
TNC devido a infecção por HIV,
TNC induzido por substância/medicamento,
TNC devido à doença de Huntington,
TNC devido à doença do príon,
TNC devido a outra condição médica,
TNC devido a múltiplas etiologias e
TNC não especificado.
Apesar de os déficits cognitivos estarem presentes em muitos transtornos mentais, apenas aqueles transtornos cujas características centrais são cognitivas é que fazem parte dessa categoria de TNC.
Caso prejuízo cognitivo estivesse presente no nascimento ou em idade muito precoce o quadro seria denominado Deficiência Mental.
A Demência está incorporada ao recém nomeado transtorno neurocognitivos maior, embora não esteja excluído o uso do termo Demência.
Além disso, o DSM-5 reconhece um nível menos grave de prejuízo cognitivo, o transtorno neurocognitivo leve, o qual pode também ser foco de cuidados médicos.
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Sintomas
O déficit de memória costuma ser o sintoma mais evidente da Doença de Alzheimer, entretanto, não é o único nem, talvez, o mais incômodo. Outros sintomas que comprometem a capacidade cognitiva (de consciência), tais como as dificuldades na comunicação verbal, no reconhecimento de pessoas e objetos e na execução de atividades comprometem severamente o nível de vida desses pacientes.
Por outro lado, o declínio progressivo da função cognitiva também não é monopólio da Doença de Alzheimer e pode acontecer, inclusive, no processo de envelhecimento normal. Recentemente tem-se dito que na Doença de Alzheimer haveria, não um simples declínio da função cognitiva, cuja expressão sugere um processo fisiológico e normal do envelhecimento, mas sim, um prejuízo na função cognitiva incompatível e desproporcional à idade do paciente.
Esse prejuízo cognitivo, característico da doença de Alzheimer, pode manifestar-se apenas em um grau muito leve, com ligeiras confusões, até graus severos, onde o paciente perde a noção de orientação, de sua identidade… Esse grau mais severo, felizmente, costuma estar presente depois de 6-8 anos de evolução da doença, calculando-se, grosseiramente, uma perda de cerca de 5 a 15% da cognição por ano, dependendo do caso.
A Doença de Alzheimer é uma das doenças cerebrais possivelmente reconhecidas como causa de depressão no idoso. Provavelmente não podemos considerar a Doença de Alzheimer um fator isolado na origem da Depressão no paciente demenciado. Mas, podemos considerar a Doença de Alzheimer um fator a mais no complexo mecanismo das causas médicas e neurológicas da depressão.
Os pacientes com Doença de Alzheimer que sofrem depressão, frequentemente têm antecedentes familiares de Transtornos Depressivos (Harwoode), o que permite sugerir que os fatores hereditários são importantes na gênese dos sintomas depressivos dos pacientes com Doença de Alzheimer.
Pode ser que algumas alterações neuro-anatômicas típicas da Doença de Alzheimer sejam causas dos sintomas depressivos.
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Doença de Alzheimer – Causa
A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa que atinge principalmente idosos acima dos 60 anos, caracterizada pela redução da atividade neuronal de forma progressiva levando ao comprometimento cognitivo e perda de memória. A Doença de Alzheimer (DA) é o tipo mais comum de Demência. As pessoas com algum tipo de prejuízo cognitivo representam 5-10% da população com 65 anos ou mais e, entre esses, mais de 50% dos casos são devidos a DA (Jellinger). No Brasil a DA corresponde a 54% dos diagnósticos de demência, com prevalência de 1% dos 65 aos 69 anos e de 37% nas idades superiores aos 84 anos5.
Por conta dessa enorme incidência de DA, tem havido um considerável interesse no diagnóstico precoce dessa patologia, principalmente levando-se em conta os avanços terapêuticos recentes e as perspectivas relativamente otimistas com relação a novas drogas ativas no Sistema Nervoso Central.
A causa da DA suspeitada até o momento diz respeito a mutações nos genes da presenilina (presenilina I e II) e no gene da proteína precursora do amilóide (APP -amyloid precursor protein) que afetam a proteína precursora do amilóide e seu metabolismo, corroborando assim com a hipótese do depósito da substância amilóide para o surgimento da Doença de Alzheimer. As pesquisas sugerem que o acúmulo de um peptídeo chamado beta-amilóide, por superprodução ou por incapacidade de degradação, levaria ao acúmulo de substância amilóide, causando as chamadas placas amilóides no tecido cerebral causando a morte celular (Plassman).
Já se pode atribuir a apoliproteína E (ApoE) um fator risco para DA. Embora essa ApoE não seja considerada a causa da doença, é o determinante genético mais conhecido de suscetibilidade para DA de início tardio. Existem três alelos comuns para o gene da ApoE: e2, e3 e e4. O alelo e4 é que oferece um maior risco de Doença de Alzheimer do tipo dose-dependente, enquanto o alelo e2 pode ser protetor (Poirier). O início da Demência do Tipo Alzheimer é gradual e envolve declínio cognitivo contínuo. Em vista da dificuldade de se obter evidências patológicas diretas da presença da Doença de Alzheimer.
Procura-se hoje em dia, no empenho de se ter um diagnóstico o mais precoce possível, avaliar cuidadosamente o chamado Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), que representa um déficit nas tarefas de memória episódica (do dia-a-dia), mas que é ainda insuficiente para preencher os critérios de diagnóstico para Demência. Muitas pessoas com CCL podem se encontrar em um estágio pré-clínico de DA (Petersen) e essa progressão até a Demência plena poderá levar vários anos.
Um outro esforço de diagnóstico tem sido feito com as imagens de ressonância magnética (RM). Tudo leva a crer que pacientes com a Doença de Alzheimer nos estágios mais precoces e com CCL, podem revelar evidências de atrofia do hipocampo e da região medial do lobo, porém, até o momento, tais anormalidades não são específicas o bastante para terem valor de diagnóstico definitivo.
Mais recentemente, pós Ressonância Magnética (RM), recorre-se a Tomografia Computadorizada de Perfusão por Emissão de Fóton (SPECT) e Ressonância Magnética Funcional (FMR), além da Espectroscopia de Ressonância Magnética (MRE) e Tomografia por Emissão de Pósitron (PET). Todos esses exames podem melhorar a exatidão diagnóstica, embora ainda não sejam específicos para DA e nem tenham validade absoluta.
Transtorno Neurocognitivo Maior – onde se inclui a Doença de Alzheimer
Critérios Diagnósticos – DSM-5
A. Evidências de declínio cognitivo importante a partir de nível anterior de desempenho em um ou mais domínios cognitivos (atenção complexa, função executiva, aprendizagem e memória, linguagem, perceptomotor ou cognição social), com base em:
1. Preocupação do indivíduo, de um informante com conhecimento ou do clínico de que há declínio significativo na função cognitiva; e
2. Prejuízo substancial no desempenho cognitivo, de preferência documentado por teste neuropsicológico padronizado ou, em sua falta, por outra investigação clínica quantificada.
B. Os déficits cognitivos interferem na independência em atividades da vida diária (i.e., no mínimo, necessita de assistência em atividades instrumentais complexas da vida diária, tais como pagamento de contas ou controle medicamentoso).
C. Os déficits cognitivos não ocorrem exclusivamente no contexto de delirium.
D. Os déficits cognitivos não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno depressivo maior, esquizofrenia).
Determinar o subtipo devido a:
Doença de Alzheimer, Degeneração lobar frontotemporal, Doença com corpos de Lewy, Doença vascular, Lesão cerebral traumática, Uso de substância/medicamento, Infecção por HIV, Doença do príon, Doença de Parkinson, Doença de Huntington.
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Curso da Doença de Alzheimer
O início do quadro demencial pode ser suspeitado pelas alterações do comportamento e do humor, mesmo quando a memória ainda não mostrou sinais de deterioração. A maioria dos pacientes com Doença de Alzheimer, em torno de 80%, já havia apresentado outros problemas psiquiátricos anteriormente. Acredita-se que pessoas com história antiga de depressão recorrente têm até cinco vezes mais probabilidade de desenvolver a Doença de Alzheimer.
Entre o estado normal e o desenvolvimento da Doença de Alzheimer os pacientes costumam apresentar um comprometimento cognitivo leve ou um comprometimento comportamental leve (Taragano).
Outro ponto a ser valorizado é que a Doença de Alzheimer irá acentuar traços de personalidade previamente existentes. A pessoa que manifestou tendência depressiva durante sua vida pregressa, por exemplo, com a Doença de Alzheimer terá mais chances de ter depressão. Caso a pessoa tenha tido traços de ansiedade, inquietação, de autoridade, com a Doença de Alzheimer poderá mostrar um comportamento agressivo e irritadiço.
Por tudo isso, pode-se dizer que alterações comportamentais acontecem na Doença de Alzheimer com certa frequência e a personalidade do paciente pode sofrer mudanças. As mudanças mais comumente observadas são a melancolia, a regressão, apatia, irritabilidade, desconfiança e impaciência.
De 30 a 50% dos pacientes com essa doença apresenta algum tipo de delírio. O delírio é uma crença de natureza absurda e solidamente irremovível. De 10 a 25% deles têm alucinações e a maioria, de 40 a 60% pode ter sintomas depressivos.
Outra alteração possível, principalmente no início do quadro demencial, é a chamada confabulação. São estórias criadas pelo paciente, quando perguntado, com o propósito de preencher o vazio criado por não lembrar a resposta de perguntas simples, como por exemplo, – onde mora?, – quantos filhos tem? – que dia é hoje? A confabulação é diferente do delírio porque o paciente não tem a certeza do que diz e quando confrontado aceita outra versão ou dá respostas diferentes à mesma pergunta.
Entretanto, é difícil caracterizar esse eventual delírio porque, na maioria das vezes, existe uma desorientação tão grande em relação ao local, à data e às pessoas que se confunde a confusão mental com o delírio.
A alteração cognitiva progressiva faz com que o paciente com Doença de Alzheimer confunda facilmente a realidade. Para ele não é clara a diferença entre o presente e o passado, assim como não é clara a diferença entre esse ou aquele filho ou parente.
A confusão que o paciente demenciado faz entre familiares pode causar frustração nas pessoas envolvidas, acostumadas que estavam a serem bem identificadas. Cada situação constrangedora merece ser tratada diferentemente, depois de avaliado se é importante que o paciente saiba realmente quem é essa pessoa ou não. Algumas vezes as coisas podem ser deixadas como estão, outras vezes devem ser lembrada a identidade da pessoa confundida.
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O diagnóstico da DA é feito por achados clínicos e testes neurológicos, porém a sua confirmação definitiva só pode ser feita por exame histopatológico (biopsia do cérebro), infelizmente pós-mortem. A necessidade de detecção da DA precocemente resultou no surgimento de ferramentas de diagnóstico para prever o resultado de demência entre os pacientes com sintomas muito leves de disfunção cognitiva, ou mesmo em indivíduos sem sintoma algum.
O diagnóstico por PET, uma técnica capaz de detectar a doença de forma precoce através da formação de imagens tridimensionais geradas pela emissão de radiação por radiofámacos específicos, marcando alterações fisiopatológicas, como por exemplo, a presença de proteínas beta-amiloides, proteínas Tau e redução do metabolismo neuronal.
Como a DA é caracterizada por níveis muito elevados de uma molécula chamada beta-amilóide no cérebro, há um exame de varredura de neuro-imagem chamado PiB PET, o qual pode ser usado para identificar pessoas que irão desenvolver a doença de Alzheimer até 18 meses mais cedo do que todos os diagnósticos disponíveis atualmente.
Exame do líquido cefalorraquideano (liquor) também pode oferecer recursos de diagnóstico. Existe a presença de alterações no liquor em pacientes com DA, notadamente do peptídeo bA-42 e da proteína Tau mesmo em indivíduos ainda sem sintomas.
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O que já se sabe
Desde o início do século é sabido que a Doença de Alzheimer está ligada a duas categorias de lesões cerebrais: Uma delas, são grandes placas (Placas Senis) de uma proteína chamada beta-amilóide intracelulares, que tem efeitos tóxicos sobre os neurônios.
Outra categoria de danos, são os microtúbulos, verdadeiros nós em estrutura essenciais dos neurônios. Estes ficam retorcidos e emaranhados, prejudicando seu funcionamento.
Durante muito tempo isso era tudo o que se sabia sobre o assunto, e ninguém podia dizer que entendia realmente o que estava acontecendo.
Por que o cérebro se enchia dessas placas tóxicas e de neurônios deficientes?
Acredita-se, até agora, que a causa da Doença de Alzheimer seja devida a uma complexa combinação de fatores genéticos e pessoais. Em sua forma familiar, a Doença de Alzheimer pode ser devida a alterações nos cromossomos 21, 14 e 1, e seria transmitida da forma autossômica dominante mas, segundo estatísticas, a forma familiar seria apenas 5% dos casos.
Aproximadamente 50% das pessoas com história familiar de Alzheimer acaba desenvolvendo a doença.
Só nos últimos anos surgiram as primeiras pistas concretas sobre o problema.
A mais importante veio de um gene defeituoso no cromossomo 19, chamado Apo-E, cuja função é secretar a apolipoproteína-E, que é uma molécula que faz o transporte de colesterol no sangue.
Apesar de não ter nada a ver com o cérebro, o Apo-E tem uma ligação inegável – e até contraditória – com a Doença de Alzheimer. Basta ver que existem três versões desse gene, denominadas Apo-E2, Apo-E3 e Apo-E4. A versão E2 protege contra a Doença de Alzheimer.
A E4 aumenta bastante o risco da doença e faz os sintomas aparecerem bem antes da idade em que normalmente se manifestam (Demência Pré-senil). A E3, finalmente, fica num estágio intermediário. Ou seja, os pacientes que têm essa versão do gene às vezes ficam protegidos e às vezes, prejudicados.
A pessoa pode ter qualquer uma das três versões do Apo-E, cada uma numa quantidade diferente. Além disso, ele herda uma cópia da mãe e outra do pai, e elas nem sempre são idênticas.
Com isso, dá um certo trabalho saber qual é a quantidade exata de cada versão do Apo-E e, a partir daí, descobrir o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer. A análise é feita por meio de um exame de sangue.
Agora já se sabe que se alguém tem duas cópias da versão Apo-E4 sua chance de adoecer é muito alta, de 50%. Isso quer dizer que metade das pessoas com dois E4 apresentam sintomas antes dos 70 anos.
O curioso é que o E4 estava há décadas associado a doenças cardíacas, mas em 1993, Allen Roses, da Universidade de Duke, vinculou esse gen também a Doença de Alzheimer. De lá para cá, começou-se a vigiar mais de perto todas as ações desse gene e, constatou-se que ele pode realmente criar os efeitos químicos que se vêem nos pacientes com Doença de Alzheimer. Pode ser ele o produtor das Placas Senis de proteína beta amilóide.
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A Depressão e outros problemas na Doença de Alzheimer
Tem sido amplamente discutido até onde a depressão que acompanha a Doença de Alzheimer pode ser considerada uma consequência fisiológica e direta dessa condição médica neurológica. A dúvida é saber se essa depressão concomitante é causada pela Doença de Alzheimer, se é apenas concomitante ou se é um fator precipitante e/ou agravante da demência (Green).
Os números da depressão entre pacientes demenciados são variados entre as várias pesquisas, entretanto, pode-se considerar que superam 20%, muitas vezes chegando ao redor de 50% dos pacientes. De qualquer forma, a depressão está muito mais presente no paciente demenciado do que na população geral da mesma faixa etária, a qual gira em torno de 15% (Swartz). Outro dado significativo, é que em mulheres e nos casos onde a demência surge mais precocemente, as pessoas parecem sofrer mais frequentemente de depressão (Lawlor, Harwood).
De qualquer forma, é importante ter em mente que a incidência de depressão em pacientes com demência tem sido estimada em até 86% dos casos (Brodaty, Elmstahl). São números desagradavelmente altos, mas quando se utilizam os critérios mais rígidos para diagnóstico de Episódio Depressivo, a depressão aparece entre 10 e 20% dos pacientes com Doença de Alzheimer. Com critérios mais flexíveis podem ser obtidos números entre 40 e 50% (Reding, Kral, Wragg).
Toledo considera que a depressão pode ser mais comum nas demências não-Alzheimer. Ele acha que há mais depressão na demência por corpos de Lewy, na demência da doença de Huntingtom ou na doença de Parkinson, onde se constata em até 50% dos casos, e maiores ainda na chamada demência vascular, onde a depressão se torna mais grave e duradoura (Ballard, Simpson, Newman, Reichman).
A presença de depressão na Doença de Alzheimer implica em pior prognóstico pois, além do comprometimento da capacidade funcional do paciente, causado pela própria Doença de Alzheimer, a depressão por si só causa também um prejuízo da motivação, da iniciativa, disposição e ânimo. Essa associação (Alzheimer – Depressão) predispõe à internação do paciente e se associa a maior mortalidade (Pearson, Rovner).
Alguns autores têm considerado a possibilidade da ocorrência de depressão na Doença de Alzheimer seria fruto de um traço pessoal depressivo prévio. Essa hipótese sugere que os pacientes com antecedentes de depressão por conta de alguma predisposição pessoal depressiva teriam, na ocorrência da Doença de Alzheimer mais tarde, a concomitância do quadro depressivo (Strauss, Strauss).
Por outro e interessante lado, existem autores conjeturando se os sintomas depressivos que surgem pela primeira vez em idosos sem antecedentes pessoais depressivos não seriam um indício precoce ou um estado pré-clínico de uma demência futura incipiente, tal como se tratasse de sinais premonitórios ou prodrômicos da demência (Berger, Chen, Wetherell).
As manifestações depressivas nas fases iniciais costumam ser as mesmas da depressão típica sem Doença de Alzheimer, tais como tristeza, tendência ao choro, ansiedade, medo, apatia, desesperança, o transtorno de sono, o desassossego e perda de peso. Embora o suicídio não seja tão frequente, a ideação suicida ou achar que morrendo seria melhor pode ser constante (Rao).
Em geral as manifestações da depressão no paciente com demência são inversamente proporcionais à disfunção cognitiva. Isso significa que a depressão que aparece no comprometimento cognitivo leve ou moderado pode se tornar um problema maior do que a eventual depressão em quadros cognitivos mais profundos (Fischer, Lewy).
Em comparação com o típico Episódio Depressivo do Transtorno Depressivo Recorrente, a depressão da Doença de Alzheimer tende a apresentar mudanças de humor mais breves e recorrentes, portanto, o humor é algo mais instável, mais próximo do que se chama de labilidade afetiva. Na depressão os pacientes mais velhos costumam ter menos problemas de autoestima e sentimento de culpa que aqueles mais jovens, porém, eles têm mais queixas somáticas, mais anorexia e perda de peso, mais transtornos psicomotores e mais doenças clínicas associadas.
Na depressão da Doença de Alzheimer a presença da ansiedade é apenas moderada (Bungener), entretanto a tríade apatia-desânimo-desinteresse, assim como insônia e anorexia podem estar marcantemente presentes. Também em outros tipos de demência, notadamente no tipo cortical e sub-cortical, a apatia é provavelmente o comportamento mais frequente (Marin). A apatia também pode aparecer com mais intensidade quando a Doença de Alzheimer acomete predominantemente regiões frontais.
Aliás, a apatia na Doença de Alzheimer pode estar presente em até 90% dos casos e é um dos sintoma menos tolerado pelas pessoas que cuidam desses pacientes. Normalmente os cuidadores se queixam que os pacientes não têm iniciativa, motivação ou interesse em quaisquer atividades ou mesmo nas relações interpessoais. É, pois, extremamente importante que os cuidadores tenham essa noção, para não exigirem de seus pacientes aquilo que eles não podem dar.
A insônia é uma queixa frequente em pacientes com Doença de Alzheimer, acometendo aproximadamente 45% deles. Essa insônia, quando existe, é progressiva, começa por um aumento gradual dos despertares noturnos, tem pouco sono REM além da diminuição das ondas lentas do sono. O típico transtorno do sono na Doença de Alzheimer, entretanto, não é a insônia, mas, paradoxalmente, a hipersonia (excesso de sono), a qual aparece como consequência de despertares muito cedo. Essa é a fase onde os acompanhantes dizem que o paciente “trocou o dia pela noite” (McCurry).
Na Doença de Alzheimer também têm sido observados muitos Transtornos Alimentares, tanto no sentido da anorexia, como da hiperfagia. Uma das alterações mais típicas talvez seja a alteração da preferência alimentar, como por exemplo, a súbita preferência por os doces, antes indiferentes (Cullen). Não estão claras quais são as causas dessas mudanças, mas elas podem se relacionar com mudanças biológicas internas e com mudanças ambientais. Neurologicamente os pacientes têm menor capacidade de detectar as sensações internas da necessidade de comida ou da saciedade da fome.
Observam-se ainda nos pacientes demenciados algumas mudanças na esfera sexual. Todos parecem concordar com uma diminuição da atividade sexual e perda da libido como uma das mudanças mais comuns, entretanto, há casos com hiper-sexualidade, tanto sob a forma de aumento da libido, como surgimento de eventuais agressões sexuais. A hiper-sexualidade, quando presente, pode caracterizar um quadro chamado de Síndrome de Kluver-Buci, onde a hiper-sexualidade se manifesta juntamente com hiperfagia e hipersonia.
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Do lado esquerdo a ilustração mostra um cérebro normal e à direita, na Doença de Alzheimer.
Patologia
Nos estágios mais adiantados da Doença de Alzheimer, a memória a curto prazo começa a declinar, juntamente quando parte do hipocampo, que faz parte do Sistema Limbico, degenera. Com isso, a habilidade em executar tarefas rotineiras também declina.
Enquanto a Doença de Alzheimer se espalha através do cortex cerebral (a camada exterior do cérebro), a capacidade de crítica e
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julgamento declinam, crises emocionais podem ocorrer e a linguagem se compromete. A progressão da doença conduz à morte de maior parte de tecido nervoso, proporcionando expressivas mudanças do comportamento, tais como vaguear sem rumo e agitação.
Proteínas associadas às Doença de Alzheimer e Parkinson interagem para ampliar os efeitos degenerativos de cada doença, indicando que terapias bloqueadoras da produção ou do acúmulo dessas proteínas poderiam trazer mais benefícios do que se pensava, segundo estudo publicado na última edição de Proceedings of the National Academy of Sciences.
As Doença de Alzheimer e de Parkinson são desordens neurológicas distintas, mas cerca de um terço dos pacientes com Alzheimer desenvolvem Parkinson, e alguns pacientes com Parkinson apresentam sinais da Doença de Alzheimer.
Para explorar as possíveis conexões entre as doenças, cientistas da Escola de Medicina UCSD e do Instituto de Doenças Neurológicas Gladstone desenvolveram cepas de camundongos que produziam duas proteínas humanas – proteína precursora amilóide humana (hAPP) e proteína alfa-sinuclaina humana (hSYN) – que se acumulam no organismo nas Doença de Alzheimer e de Parkinson, respectivamente. Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences, 24/09/2001.
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