é um neologismo aportuguesado da expressão francesa Bou ffée Délirant. Entende-se Bufê Delirante, pela psiquiatria tradicional e descritiva dos grandes tratadistas, como uma condição psicótica aguda e transitória associada com turvação da consciência, excitação psicomotora e comportamento agitado, seguida de amnésia anterógrada. O quadro agudo tem bom prognóstico (como costuma ocorrer nos quadros agudos da psiquiatria).

Em essência (e fisiopatologicamente), o Bufê Delirante se assemelha às psicoses agudas e transitórias, relacionadas a estresse agudo. A descrição original da apresentação clínica contém cinco características cardinais:

1. início abrupto;
2. delírios estruturados com alucinações ocasionais;
3. um certo grau de turvação da consciência associada com instabilidade emocional;
4. ausência de sinais físicos;
5. uma remissão rápida e completa.

Mais recentemente, outras características têm sido assinaladas: a possibilidade de precipitação por estressores psicossociais, o alto risco de recorrência de episódios após intervalos assintomáticos e a independência nosológica do episódio em relação à esquizofrenia, ainda que um estado (crônico) de esquizofrenia possa desenvolver-se após uma ou mais recaídas.

Um dos sinônimos classificatórios do Bufê Delirante é a Psicose Reativa Breve, ou Transtorno Delirante Transitório. A Psicose Reativa Breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e, habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros distúrbios psicóticos, como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos.

O prognóstico é bom e a persistência de sintomas residuais não ocorre. Durante o surto observa-se incoerência e acentuado afrouxamento das associações, delírios, alucinações e comportamento catatônico ou desorganizado. Há componentes afetivos com mudanças bruscas de um afeto para outro, perplexidade e confusão.

A Organização Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças (CID), recomenda que esta categoria de psicose deve ser restringida ao pequeno grupo de afecções psicóticas, em grande parte ou totalmente atribuídas a uma experiência existencial recente. Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores ambientais tem a maior influência etiológica.

Trata-se de reações cuja natureza não é só determinada pela situação psicotraumática, mas também pelas predisposições da personalidade. A maioria das reações psíquicas mórbidas desenvolve-se em função de uma perturbação de caráter que predispõe a elas. Tal perturbação será fruto de um desenvolvimento psicorreativo anormal.

O desenvolvimento da Psicose Reativa pode satisfazer a necessidade do paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.