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Indiferentes aos critérios da psicopatologia, pessoas se sentem mal ou, como é comum dizerem, – “doutor, não que eu sinta algum mal estar, mas sinto uma profunda falta de bem estar”.
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Normose, um desconforto emocional estatisticamente comum.
O termo Normose é sugerido no livro Normose: a patologia do normal, do filósofo francês Jean-Yves Leloup. Trata-se de um desconforto emocional que acomete a pessoa, apesar de tudo estar absolutamente normal em sua vida, ou seja, apesar de estar tudo conforme as normas recomendadas para a felicidade “obrigatória”. Quer dizer; estando tudo bem e normal, parece haver um fortíssimo apelo cultural para a pessoa sentir-se obrigatoriamente feliz e coercitivamente bem.
Segundo Pierre Weil, a normose pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir aprovados por consenso geral ou pela maioria em determinada sociedade e que, segundo essa abordagem, pode provocar sofrimento, doença e morte.
A necessidade de se aprofundar na normose é exigência do cotidiano da clínica psiquiátrica. O paciente entra, senta e diz: – Doutor, de repente me vem um pensamento desconfortável, mais ou menos me questionando sobre o que estou fazendo aqui, uma angústia sobre o sentido de minha vida, um balanço meio pessimista sobre o que fiz esses anos todos….
Assim os psiquiatras são incomodados com uma dúvida: como vamos aliviar ou tratar quem não tem um diagnóstico psiquiátrico? Antes disso, aparece a dúvida sobre o emprego das palavras terapia, terapêutica, tratamento para a pessoa que não tem um diagnóstico médico ou não está convencionalmente doente.
É adequado o termo normose por ser comum às situações do dia a dia de psiquiatras e psicólogos no atendimento de pessoas queixosas de angústia, ansiedade, depressão e estresse, sem que o quadro satisfaça os critérios das classificações e manuais de diagnóstico, ou mesmo, sem que se detecte uma causa aparente para esse desconforto. Não obstante, indiferentes aos critérios da psicopatologia, essas pessoas se sentem mal ou, como me disse um deles, – não que eu sinta algum mal estar doutor, mas sinto uma profunda falta de bem estar.
A normose, então, é uma situação que se encaixa no “conjunto de normas que definem o que é desejável por consenso em uma determinada sociedade”, mas, não obstante, é capaz de provocar sofrimento, doença e morte. É intrigante o fato de trata-se de algo patológico por conceito, já que pode causar sofrimento, logo, por ser mórbido, porém sem que seus protagonistas tenham consciência de sua natureza doentia.
Dentro do consenso do conjunto cultural das normas existe a normalidade saudável, a qual enriquece o existir humano, proporciona reflexões, entusiasmo, interesse e conhecimento, assim como a normalidade neutra, que não leva ao sofrimento, mas também não acrescenta nada, como por exemplo o hábito de almoçar ao meio-dia ou fazer amor aos sábados.
A consequência da normose é um sentimento ou sensação de culpa pelo mal-estar existencial, já que tudo está funcionando bem e normalmente. Não há problemas profissionais, não há problemas familiares, nem de saúde, sociais, financeiros, enfim, de acordo com o hábito de pensar, sentir e agir recomendado pelo consenso social, tudo deveria estar muito bem. Não obstante, apesar de tudo estar objetivamente normal a pessoa tem angústia, experimenta subjetivamente sentimentos sofríveis.
O conflito e sensação de culpa por estar se sentindo mal, apesar das coisas estarem normais, deve-se à crença enraizada segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas deseja, pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado normal e, por conseguinte, deve servir de guia para a felicidade geral. No entanto, a pessoa que está diante do psicólogo ou psiquiatra está dizendo não se sentir feliz, apesar de todos pensarem que ela deveria estar feliz.
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Niilismo, frustração e Normose
Diante desse mal-estar normótico a pessoa pode apresentar uma frustração inespecífica ou um certo niilismo. Segundo Eunice Carvalho, niilismo significa uma perda de ideal pelo desaparecimento de uma referência desejável mobilizadora, e se revela por uma atitude meramente contemplativa pelo desalento. O niilismo, segundo Rossano Pecoraro, é a desvalorização e morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta aos porquês. Como assinala ainda – “… (o niilismo) não diagnostica a doença do nosso tempo, como tenta indicar um remédio”.
Por um lado, o niilismo provém do desencanto causado pela profanação da cultura do mundo moderno, visto que as concepções religiosas ou outros valores tendem a se desintegrar. Por outro lado, o niilismo surge numa espécie de momento da modernidade marcada pela ausência de valores absolutos.
Procuramos detectar alguma atitude niilista em pacientes com o mal-estar emocional normótico, parodiando o niilismo da filosofia descrito brevemente acima. Sobretudo porque o niilismo pode ser considerado um movimento negativo, quando faz prevalecer os traços de desinteresse, de tedio, declínio, ressentimento, incapacidade de avançar, paralisia, apatia, a relatividade dos valores e o vale-tudo permitido.
O desencantamento e a desesperança do niilismo é o que mais chama atenção na atitude emocional da normose. Apesar de tudo estar normal, assustadoramente normal, há um desencanto e uma desesperança na afetividade da pessoa que apresenta atitude normótica. Parece haver uma frustração do passado, referente às coisas que talvez não tenham saído como pretendido, uma frustração futura pelas perspectivas pessimistas e uma frustração atual, porque o destino não coincide simultaneamente com a vontade.
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Vazio Existencial e Normose
Na normose carece uma finalidade, faltam respostas aos porquês e, como consequência, a pessoa segue meio entorpecido pelas normas, conceitos, estereótipos e hábitos de pensar coletivos sem questionar a validade e o propósito disso tudo, sem procurar mais os porquês. Pessoas se conduzem como autômatos, obedientes e sem noção da finalidade de suas atitudes, experimentam um espaço vazio onde deveria estar o juízo e a valorização da existência. De fato, a frustração desembesta de rédeas soltas.
A normose, que resulta da submissão paulatina e imperceptível à um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais e em torno dos quais existe um consenso de normalidade, acaba tendo consequências patológicas e/ou letais. Incrível pensar nisso. Na realidade temos efeitos nocivos da normose no meio ambiente por conta do uso de agrotóxicos e inseticidas, na área da saúde geral através do consumo de drogas, cigarro ou álcool, na área social onde se considera normal a banalização da violência e em quase todas as áreas da atividade humana, passando pela informática e pela moral. Fica entorpecida a percepção e questionamento de todos esses “normais” exatamente pelo consenso universal.
A vacuidade existencial, o vazio de valores, de propósitos, objetivos, perspectivas e metas anteriormente considerados sintomas francamente neuróticos, hoje são tidos como normais, perigosamente normais.
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Normose, o conceito
Na realidade Normose é muito mais um conceito holístico do que um diagnóstico psicopatológico. A ideia se refere a normas, crenças e valores sociais que causam angústia e podem ser fatais. Pessoas que vivem em perfeita concordância com a normalidade e fazem aquilo que é socialmente esperado, politicamente correto e acabam sofrendo, tendo angústia, depressão e ficando doentes.
É comum justificar a manutenção de atitudes não saudáveis por serem tidas como “normais”, algo que “todo mundo faz”, porém essas atitudes não são automatica e obrigatoriamente boas, mas a ideia de normalidade porque todos fazem acaba perpetuando hábitos duvidosos.
A cultura de uma sociedade molda seus membros de acordo com a ideia do que seria desejável: sujeito bem-sucedido aos trinta anos ou menos, posse de tudo que se considera indispensável para a felicidade, tipo casa, piscina, carro bom, dinheiro no banco, família bonita.
São pessoas que têm o normal para serem felizes. A questão que pode causar angústia é: E AGORA? Infeliz, não, feliz, também não… apenas um enorme sentimento do nada.
Muitas vezes as atitudes adotadas automaticamente não são saudáveis, mas são tidas como normais por serem algo que “todo mundo faz”. Porém tal justificativa é meramente estatística..
Teoricamente as normas culturalmente recomendadas deveriam ter a função de preservar a saúde física, emocional, a harmonia e qualidade de vida.
Essa postura seria uma crença social segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas sente, acredita ou faz deve ser considerado normal.
Consequentemente, deve servir de guia para o comportamento geral, um roteiro para o politicamente correto. Não se sabe até que ponto a propaganda e o marketing teriam sido responsáveis por corromper a regra dos benefícios automáticos dessa normalidade.
Conceitoalmente a Normose pode ser considerada a obediência automática ao conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria das pessoas, mas que, não obstante, podem levar ou não prevenir sofrimentos e doenças.
A Normose acontece predominantemente, por exemplo, em pessoas que se propõem a uma jornada de trabalho, muitas vezes insatisfatória, na tentativa de iniciar, manter ou melhorar o padrão de vida, ou em pessoas que perseguem exaustivamente a ideia de corpo perfeito, assim designada pela mídia, em quem se seduz ao mundo impalpável dos recursos digitais e das redes sociais, causadores de eterna insatisfação. Tudo isso normalmente recomendado pelo sistema sociocultural.
A linguagem psicanalítica usa o termo Normopatia, referindo-se à uma normalidade estereotipada ou à uma hipernormalidade reativa, decorrente de um processo de adaptação defensiva. A patologia surgiria em função de exigências externas de comportamento.
Assim, em obediência ao “modelo normal”, a pessoa Normopática mostra-se aparentemente normal, mas com imensa dificuldade de compreender e atender suas necessidades intrapsíquicas, produzindo um afastamento de seu próprio ser em nome do coletivo
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para referir:
Ballone GJ – Normose, a patologia do normal. in. PsiqWeb, Internet – disponível em http://www.psiqweb.net, 2021
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