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Por definição, o mutismo seletivo é um transtorno encontrado em crianças e caracterizado por uma contínua recusa em falar em determinadas situações sociais.
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Crianças muito quietas, que na escola falam pouco com os colegas e que têm dificuldade para responder às perguntas do professor, costumam ser classificadas de tímidas. As crianças com esse perfil podem, na verdade, sofrer de um distúrbio de fundo emocional: o mutismo seletivo.
Ao se encontrarem com outras pessoas as crianças com mutismo seletivo não iniciam a conversa ou não respondem reciprocamente quando falam com elas. Esta dificuldade da fala ocorre em interações sociais, tanto com outras crianças quanto com adultos.
Geralmente essas crianças com mutismo seletivo falam na sua intimidade doméstica com membros da família imediata, mas com frequência não falarão nem mesmo com amigos próximos ou parentes ainda próximos, como avós ou primos. Mesmo em suas casas, quando um adulto de fora do círculo familiar ou outra criança estranha está presente e lhes dirige a palavra elas permanecem mudas. Esta perturbação é marcada com frequência por intensa ansiedade social.
As crianças com mutismo seletivo comumente se recusam a falar na escola, o que leva a prejuízos acadêmicos ou educacionais, uma vez que os professores terão dificuldade para avaliar suas habilidades. A dificuldade na fala pode interferir na comunicação social. Por outro lado, as crianças com esse transtorno ocasionalmente usam meios não verbais de comunicação, como por exemplo, ruídos vocais, apontar mimicamente, escrever, etc.
Os primeiros sintomas de mutismo seletivo são geralmente percebidos entre um a três anos de idade e incluem timidez, relutância para falar em algumas situações e um das pessoas estranhas. Esses sintomas ficam óbvios quando a criança é convocada a responder e/ou interagir em situações sociais, inclusive o pré-escolar, na escola elementar e nos ambientes sociais.
As complicações e dificuldades geradas pelo mutismo seletivo são muitas. Às vezes essas crianças não conseguem nem pedir para ir ao banheiro na escola. Até há pouco tempo pensava-se que esse distúrbio atingia uma em cada 1.000 crianças, mas um estudo desenvolvido pela American Academy of Child and Adolescent Psychiatry mostrou que essa proporção pode chegar a sete para 1.000, o que tornaria o mutismo seletivo duas vezes mais frequente do que o autismo.
No Brasil são raros estudos sobre mutismo seletivo, assim como são raros também os profissionais especializados para o diagnostico precoce e tratamento deste transtorno. Trata-se de uma situação caracterizada pela recusa da criança em falar em determinados locais, principalmente locais públicos ou diante de pessoas que não seja de sua estreita intimidade, como acontece, por exemplo, na escola, na presença de pessoas estranhas e no ambiente social em geral.
As características associadas ao mutismo seletivo podem incluir timidez excessiva, medo de constrangimento, isolamento e retraimento sociais, apego afetivo excessivo, traços compulsivos, negativismo, ataques de birra ou comportamento de oposição leve. O transtorno presente em todos os casos, entretanto é a ansiedade. É comum ainda que essas crianças recebam um diagnóstico adicional de outro transtorno de ansiedade, geralmente transtorno de ansiedade social (fobia social).
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Os primeiros relatos de crianças com mutismo datam do século IX, porém, o quadro foi descrito em 1877 por Kussmaul como uma afasia voluntária em pessoas que não falavam em algumas situações, mesmo sem problema na comunicação oral.
Em 1934, Tramer usou o termo mutismo eletivo para crianças que só se comunicavam em certas situações, mas não falavam na maior parte das situações sociais. Com o passar do tempo, e com uma maior compreensão do quadro, o mutismo seletivo foi reconhecido como uma desordem da infância.
Hoje o mutismo seletivo, possivelmente relacionado com o transtorno de ansiedade social, embora seja um transtorno independente, é caracterizado na criança como falta persistente de fala em uma ou mais situações sociais específicas, sendo a mais típica o ambiente escolar.
Um padrão comum para uma criança com mutismo seletivo é falar quase exclusivamente em casa com a família, mas não em outros lugares, em especial na escola. Em consequêcia, crianças com mutismo seletivo podem ter dificuldades acadêmicas ou até ser reprovadas devido a uma falta de participação. Essas crianças costumam ser tímidas e ansiosas e apresentam risco mais elevado de transtorno depressivo.
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As crianças com mutismo seletivo são capazes de compreender, falar e produzir linguagem em ambientes limitados, ou seja, em casa pode se comunicar normalmente como também falar ao telefone com colegas. Esses fatores fazem parte da manifestação mais comum do quadro: não falar na escola e com adultos fora de casa. De qualquer maneira essas crianças estão interessadas em se comunicar, seja com gestos, olhares ou sinais, ao contrário de boa parte das crianças com diagnóstico de autismo.
Alguns comportamentos podem estar associados ao mutismo seletivo, como por exemplo, dificuldade de olhar olho no olho, expressão facial pouco expressiva, certa imobilidade psicomotora fora do ambiente familiar. Entretanto, o paciente mutista seletivo pode remexer-se nervoso quando em situações sociais mais ansiosas. Alguns pacientes podem retrair-se quando algum adulto tenta se aproximar, ou quando fisicamente tocados podem exibir formas diferentes de linguagem corporal.
Outras características comportamentais podem estar associadas ao mutismo seletivo: timidez excessiva, dependência dos pais, acessos de birra, agressividade, isolamento social, tristeza, excessiva rigidez e perfeccionismo, além da evitação do contato olho no olho já comentado.
As características comportamentais do núcleo familiar mais observadas em casos de mutismo seletivo seriam comportamento de super proteção familiar, conflitos psicológicos não resolvidos, traumas anteriores envolvendo perda por mortes, separação, etc, pouco envolvimento paterno, excessiva dependência dos pais pelo fato de não falar. Entretanto, tais características resultam de poucas pesquisas realizadas e não devem ainda serem tidas como condições absolutas.
O mutismo seletivo é conceitualizado como uma recusa ansiosa a falar; entretanto, mais crianças com o transtorno do que o esperado apresentam história de atraso no discurso. Um achado interessante mostra que as crianças com essa condição apresentam risco mais elevado de distúrbio no processo auditivo, o que pode interferir no processamento eficiente de sons. Em sua maior parte, contudo, problemas do discurso e da linguagem em crianças com mutismo seletivo são sutis e não podem ser responsabilizados pelo diagnóstico de mutismo seletivo.
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Atualmente existem muitas críticas quanto ao uso do termo “mutismo seletivo”, pois passa a falsa ideia que a criança escolhe propositalmente não falar, enquanto, na verdade, não se sente segura para se comunicar em determinados espaços e situações.
Apesar do aumento do risco de atraso na aquisição do discurso e da linguagem, as crianças com mutismo seletivo são perfeitamente capazes de falar com competência quando não se encontram em situação que lhes provoque ansiedade. Algumas crianças com o transtorno quando estão na escola se comunicam por meio de contato visual ou gestos não verbais, mas não verbalmente.
O mutismo seletivo tem causa obscura e, até o momento, parece ter origem multifatorial. Acredita-se que a influência dos fatores ambientais e situações interpessoais sejam de grande peso para o desenvolvimento do mutismo seletivo. Ele pode ser deflagrado por uma experiência negativa pela qual a criança passou – uma violência física ou verbal, ou uma grande decepção.
A genética também tem um peso importante: estatísticas mostram que muitas crianças afetadas pelo transtorno têm um parente próximo com histórico de transtornos emocionais e a patologia é mais encontrada nos filhos de pais tímidos ou distantes.
Em alguns casos o mutismo seletivo ocorre após algum trauma, como morte, início escolar, sequestro, violência. Todos de alguma maneira relacionados à separação do cuidador da criança, sendo considerado um tipo de transtorno fóbico.
Apesar dos sintomas poderem ser observados em torno dos 3 anos de idade, início do mutismo seletivo é mais bem caracterizado antes dos 5 anos de idade, mas a perturbação pode não receber atenção devida até a entrada na escola, quando existe aumento nas solicitações, como a leitura em voz alta, por exemplo.
A persistência do transtorno em idades maiores é variável. Embora relatos clínicos sugiram que muitas crianças superam o mutismo seletivo, em alguns casos, o mutismo seletivo será substituído por transtorno de ansiedade social.
A própria personalidade da criança pode favorecer aparecimento do transtorno. As crianças com temperamento mais tímido ou com inibição comportamental podem ser mais propensas ao desenvolvimento desse quadro, assim como também parece haver uma importância na história parental de timidez, isolamento e ansiedade social. Devido à sobreposição significativa entre mutismo seletivo e transtorno de ansiedade social, pode haver fatores genéticos compartilhados por ambos.
A influência do comportamento dos pais nos relacionamentos com outras pessoas, bem como suas alterações de humor podem dar à criança impressões problemáticas sobre o relacionamento humano, gerando certa ansiedade fóbica social.
Assim, a inibição social como hábito e costume por parte dos pais pode servir como modelo para a reticência social e o mutismo seletivo em crianças. Os pais de crianças com mutismo seletivo foram também descritos como sendo super protetores ou mais controladores do que os pais de crianças sem nenhum transtorno ansioso.
As crianças de famílias que imigraram para um país de língua diferente podem se recusar a falar esta nova língua devido ao desconhecimento ou inibição. Essas crianças que emudecem após imigração para país com outra língua não pode recebe esse diagnóstico, já que o fato pode ocorrer em resposta ao isolamento social ou pelo choque cultural.
Em geral o mutismo seletivo não está associado com a dificuldade de aprendizagem, consequentemente, programas da instrução especial devem ser considerados cautelosamente. Por outro lado, no país não há nenhum programa de instrução especial nas escolas públicas disponíveis para estas crianças. Quando indicados, programas individuais precisariam ser projetados individualmente.
Critérios Diagnósticos – DSM-5
A. Fracasso persistente para falar em situações sociais específicas nas quais existe a expectativa para tal (p. ex., na escola), apesar de falar em outras situações.
B. A perturbação interfere na realização educacional ou profissional ou na comunicação social. C.A duração mínima da perturbação é um mês (não limitada ao primeiro mês de escola). D.O fracasso para falar não se deve a um desconhecimento ou desconforto com o idioma exigido pela situação social. E.A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno da comunicação (p. ex., transtorno da fluência com início na infância) nem ocorre exclusivamente durante o curso de transtorno do espectro autista, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
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para referir:
Ballone GJ – Mutismo Seletivo. in. PsiqWeb, Internet – disponível em http://www.psiqweb.net, 2018
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