Escola e oscilações emocionais

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Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem agir tanto positivamente quanto, consciente ou não, negativamente. 

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Por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário entre a família e a sociedade, a escola oferece um cenário propício para a avaliação emocional das crianças e adolescentes. Na escola o desempenho dos alunos pode ser avaliado e eles podem ser comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social.

Com algum preparo e sensibilidade e dispondo de maior oportunidade o professor estaria mais apetrechado do que os próprios pediatras para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças.

Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais dos alunos.

Os alunos podem trazer para a escola um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer consigo alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) ou, extrinsecamente, podem refletir as consequências emocionais de suas vivências sociais e familiares.

Como exemplo de condição emocional intrínseca estão os traços psíquicos inerentes à pessoa, próprias do desenvolvimento da personalidade, dos traços herdados e das características pessoais de cada um.

Incluem-se aqui quadros, por exemplo, de Ansiedade de Separação na Infância, de Transtornos Obsessivo-Compulsivos, Autismo Infantil, Deficiência Mental, Déficit de Atenção.

Incluem-se também nas condições pessoais os quadros associados aos traços depressivos da personalidade, como é o caso da Depressão na Adolescência e Depressão Infantil, além de outros problemas sérios associados à propensão aos quadros psicóticos, como a Psicose Infantil, Psicose na Adolescência e associados aos transtornos de personalidade, a exemplo dos Transtorno de Conduta, entre outros.

Entre as questões externas à personalidade e capazes de se traduzirem em problemas emocionais, encontram-se as dificuldades adaptativas da Adolescência e da Puberdade, do Abuso Sexual Infantil, os problemas relativos à Criança Adotada, à Gravidez na Adolescência, à Violência Doméstica, aos problemas das separações conjugais dos pais, morte na família, doenças graves, etc.

O preparo e bom senso do professor é o elemento chave para que essas questões possam ser melhor abordadas. A problemática varia de acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os traços pessoais de personalidade de cada aluno.

De um modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas a uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência.

As crianças e adolescentes, como ocorre em outras faixas etárias, cada uma a seu modo, reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida.

É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que veem à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas.

Erram alguns professores menos avisados, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações. Ou, o que é pior, erram mais ainda ao acreditarem que submetendo indistintamente todos alunos às mais diversas situações, as dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da ameaça do ridículo.

Tentar corrigir dificuldades através da imposição de desafios e da avaliação publica, na realidade, pode piorar muito o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer frequentar aquela classe ou, em casos mais graves, não querer mais ir à escola.

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Recusa em ir à escola
A Recusa em ir à escola pode ocorrer em uma criança pequena que está indo à escola pela primeira vez ou em uma criança ou adolescente que está fazendo a transição para uma nova série ou escola, ou pode surgir em uma criança vulnerável sem um estressor externo evidente. Nesses casos pode tratar-se de uma adaptação emocional.

De qualquer forma a recusa em ir à escola requer intervenção imediata, porque quanto mais tempo o padrão disfuncional durar, mais difícil será interrompê-lo.

Em crianças menores a recusa em ir à escola geralmente está associada à ansiedade de separação na infância, na qual o sofrimento da criança está relacionado ao desconforto emocional de separar-se do pai ou da mãe. Pode ocorrer também em crianças com fobia da escola, na qual o medo e o sofrimento são voltados para a instituição em si.

Em qualquer um dos casos, ocorre uma ruptura grave na vida da criança. Apesar da ansiedade de separação leve ser natural, especialmente em crianças muito pequenas indo à escola pela primeira vez, o tratamento será necessário quando a criança insistentemente não consegue ir à escola.

Transtornos de ansiedade e depressivos costumam estar presente quando a recusa em ir à escola ocorre pela primeira vez em um adolescente. Crianças com transtorno de ansiedade de separação costumam apresentar preocupações extremas de que eventos catastróficos acontecerão com sua mãe, com a figura de apego ou com elas mesmas como resultado da separação.

Crianças com transtorno de ansiedade de separação também podem exibir diversos outros medos e sintomas de depressão, incluindo queixas somáticas como cefaleias, dores de estômago e náusea. Ataques de raiva e apelos desesperados podem surgir quando a preocupação de que um dos pais será machucado durante a separação ocorrem com certa frequência. Em adolescentes as razões pelas quais se recusam a ir à escola costumam ser queixas físicas.

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Crianças mais novas podem ter mais angústia na adaptação escolar
Para as crianças menores, por exemplo, existem as ameaças de ridicularização pelas mais velhas, e esse sentimento de ridículo público é tão mais maléfico quanto mais retraída e introvertida for a criança.

Já, para os adolescentes, as ameaças de ansiedade geradas em ambiente intraclasse são o desempenho aquém da média nos times esportivos, nos trabalhos em grupo, as diferenças socioeconômicas entre os colegas, as diferenças no estilo e nas possibilidades de vida, no vestuário, etc.

Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador (professor, dirigente ou staff escolar), ao menos uma boa dose de bom senso e uma abordagem direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e metodológico da prática escolar.

O tão mal afamado “aluno-problema“, pode ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização passa a ser um fardo a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante.

Para casos assim o conhecimento e sensibilidade dos professores pode se constituir em um bálsamo para os corações e mentes conturbados

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A dimensão da infância
A noção cultural em torno da infância e da adolescência varia de acordo com a época. Na Idade Média, por exemplo, a duração da infância era reduzida ao mínimo possível, provavelmente devido à necessidade da mão de obra dos infantes. Logo que a criança manifestasse uma certa autonomia de movimentos, era automaticamente incluída no mundo dos adultos, na condição de um pequeno adulto, apto, portanto, à produção.

Antes de meados da década de 60 as regras comportamentais dentro de casa eram algo mais rígidas. Quando as coisas não saiam de acordo com a orientação paterna, haviam os castigos, o corte das regalias e ponto final. Depois dessa fase, veio a época dos acordos entre pais e filhos, a recomendação politicamente correta dos diálogos, discussões e decisões conjuntas.

Com o psicologismo vigente da década de 70, a infância e adolescência passaram a ter uma autonomia desmedida, muitas vezes irresponsável. Essa autonomia liberal veio crescendo irreversivelmente até os dias de hoje.

Liberdade era a palavra chave, muitas vezes confundida com irresponsabilidade e inconseqüência, e não apenas das próprias crianças e adolescentes mas, inclusive, dos próprios pais.

Detectando Problemas Emocionais na Idade Escolar
Os pais podem não perceber, não reconhecer ou não aceitar problemas emocionais em seus filhos, mas quanto aos educadores, muitas vezes são eles os primeiros a observar os sintomas iniciais de um problema psiquiátrico na infância e adolescência.

Essa facilidade deve-se, entre outras razões, ao fato de poderem ter uma crítica mais desapaixonada do problema, sem o envolvimento afetivo que os pais têm. Além disso, estando preparados, os educadores são as pessoas mais adequadas para orientar os pais sobre transtornos dessa natureza.

Sinais e Sintomas.
Entre os sinais que a criança pode manifestar em eventual transtorno psíquico, figuram o isolamento ou o prejuízo no relacionamento com outras crianças de sua idade, tanto no âmbito escolar como social, tal como o retraimento e a falta de comunicação. Se a criança ou adolescente que até há pouco tempo vinha mantendo um comportamento melhor ajustado, com rendimento escolar aceitável e que, de repente, modifica seu comportamento e rendimento escolar, algo pode estar acontecendo na esfera psíquica.

Em crianças e adolescentes os transtornos mais comuns são aqueles relativos a depressão, transtornos de aprendizagem, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de comportamento, de ansiedade, doenças psicossomáticas, problemas de personalidade e, menos freqüentemente, o autismo e a esquizofrenia.

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Fatores Extrínsecos capazes de causar Transtornos Emocionais
Existem trabalhos que avaliam situações e circunstâncias capazes de produzir transtornos emocionais. A partir de tais eventos foi elaborada uma lista de gravidade relativamente decrescente, pois, o grau de importância emocional desses eventos pode variar de pessoa a pessoa, de acordo com a faixa etária e outras características pessoais.

 Ranking dos eventos que produzem transtornos emocionais
(ordem decrescente de importância)

1. Perda de um dos pais (morte ou divórcio)
2. Urinar na sala de aula
3. Perder-se; ser deixado sozinho
4. Ser ameaçado por crianças mais velhas
5. Ser o último do time
6. Ser ridicularizado na classe
7. Brigas dos pais
8. Mudar de classe ou de escola
9. Ir ao dentista/hospital
10. Testes e exames
11. Levar um boletim ruim para casa
12. Quebrar ou perder coisas
13. Ser diferente (sotaque ou roupas)
14. Novo bebê na família
15. Apresentar-se em público
16. Chegar atrasado na escola

A partir dessa lista, pode-se ver alguns fatores aflitivos do dia-a-dia dos alunos. Observe-se, por exemplo, que urinar na sala de aula é a segunda maior preocupação e, por comparação, um novo bebê na família aparece em 14o. lugar. Isso sugere que, para uma criança ou adolescente em idade escolar, as coisas que a depreciam diante de seus colegas podem provocar níveis mais elevados de frustração, estresse, ansiedade ou depressão.

O mesmo fenômeno pode acontecer com as minorias étnicas ou dos alunos culturalmente diferentes, como por exemplo, portadoras de sotaque. Evidentemente não devemos nunca esquecer que algumas crianças são mais vulneráveis a transtornos emocionais do que outras.

As variáveis ambientais, particularmente aquelas que dizem respeito ao funcionamento familiar, também podem influenciar muito a resposta das crianças e adolescentes aos estressores escolares e, consequentemente, ao surgimento de algum transtorno emocional. Há uma espécie de efeito de proteção exercido pelos bons relacionamentos familiares que se estende até a adolescência.

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Separação dos pais
Uma das mais comuns experiências ambientais capazes de determinar alterações emocionais nos alunos é a separação conjugal dos pais. Na escala de Madders vem em primeiro lugar.

Durante os momentos difíceis da separação conjugal, tanto os pais quanto, de um modo geral, a própria criança (um pouco menos, em relação aos adolescentes) esperam que os professores assumam uma atitude mais incisiva e uma maneira mais compreensiva e afetuosa ao lidar com o aluno emocionalmente abalado.

Mesmo quando os pais finalmente se separam, as crianças geralmente precisam de algum tempo (2 anos ou mais) para se adaptar à nova situação. Tudo leva a crer ser preferível que os pais que estão se separando deixem claro o rompimento, apesar desta atitude poder ser muito angustiante para os filhos, procurando oferecer explicações compatíveis com o grau de entendimento das crianças.

As pesquisas sugerem que quanto menores forem os filhos, menos desejam a separação dos pais, ainda que o relacionamento entre eles seja bastante problemático. A maioria dos filhos pequenos prefere que os pais permaneçam juntos e, mesmo após o divórcio ou o novo casamento, ainda fantasiam a possibilidade de uma reconciliação. Elas passam por um processo semelhante ao da perda e do luto.

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As crianças em idade escolar são perfeitamente capazes de observar e vivenciar qualquer clima de hostilidade e animosidade entre seus pais. Ainda que, na fase pré-separação, a tática de beligerância dos pais seja do tipo “agressão pelo silêncio”, dependendo da idade da criança haverá percepção sobre o tipo de clima que existe entre o casal e que o casamento está atravessando sérias dificuldades.

A autoestima da criança é fortemente beneficiada pelo sentimento de fazer parte de uma identidade herdada dos pais (de ambos). Suas características geralmente são comentadas por amigos e parentes, comparando-a com os pais e tornam-se parte da identidade pessoal da criança.

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Durante a separação e depois dela, as críticas que os pais fazem um ao outro podem levar a criança a sentir que parte da sua própria identidade também é ruim e sem valor. Frequentemente, há uma dramática perda da autoestima durante a separação e o divórcio e isso pode levar ao isolamento social, revolta, agressividade, desatenção, enfim, alterações comportamentais próprias de um estado depressivo (típico ou atípico). Essas alterações no comportamento do aluno podem ser considerados um aviso sobre a necessidade de ajuda e apoio.

O que pode melhorar a afetividade das crianças na separação conjugal dos pais são informações claras e honestas sobre o futuro. Mas nem sempre os próprios pais sabem muito a esse respeito, tornando a iniciativa dos professores nesse sentido muito mais difícil.

Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares pois, tanto o ambiente escolar quanto os professores e amigos continuam constantes em sua vida durante esse período de grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito das dificuldades que enfrentam em casa (neste caso, a separação). Novamente, serão as alterações em seu desempenho e comportamento que denuncia a existência de problemas emocionais.

A sensação de solidão, tristeza e a dificuldade de concentração na escola, tudo isso contribui para uma depressão infantil ou da adolescência, complicando muito o inter-relacionamento pessoal e o rendimento escolar. Pode haver dificuldade de concentração, motivação insuficiente para completar tarefas, comportamento agressivos com os colegas e faltas em excesso. Não se afasta, nesses casos, a necessidade dos professores orientarem algum ou ambos os pais para a procura de ajuda especializada para o aluno.

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para referir:
Ballone GJ – Escola e oscilações emocionais. in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.net, revisto em 2019.

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