Segundo o Dicionário de Psicologia Prática, parte da psicologia que, apoiando-se nos métodos de investigação e análise psicológica. procura descobrir no inconsciente do paciente as tendências, desejos, complexos e tudo aquilo que perturba a sua mente, trazendo à tona da consciência esses elementos perturbadores e revelando consequentemente o mal para que se possa aplicar a psicoterapia.
A Psicanálise compreende tanto a teoria freudiana dos fenômenos psíquicos, como a técnica para estudar o inconsciente. O ponto de partida de Freud para o estabelecimento de sua teoria foi essencialmente clínico. Em sono hipnótico, uma paciente de Breuer e Freud revelou vários episódios de sua vida, sentindo-se depois aliviada. Surgiu assim o método catártico, fundamental na terapêutica psicanalítica. Dai Freud concluiu que os sintomas histéricos, (sua paciente era uma histérica) são símbolos comemorativos de certos sucessos traumáticos da vida pregressa do paciente, os quais podem deixar de perturbar a mente do indivíduo, quando trazidos a luz da consciência.
Partindo dessas e de outras experiências, Freud construiu todo um sistema, onde desempenha papel fundamental o conhecimento das diversas fases psíquicas do desenvolvimento do indivíduo. Desde cedo Freud deu grande importância aos fatos eróticos na formação da personalidade. Atribuiu todavia um sentimento bastante lato à noção de libido e da própria sexualidade que, na concepção psicanalítica, não se restringe ao âmbito da região genital, mas abrange toda uma série de fenômenos relacionados com a obtenção do prazer corporal. Segundo a Psicanálise, a criança passa nos primeiros meses de vida por uma fase de sexualidade difusa por todo o corpo, e que somente mais tarde se concentrará nas zonas erógenas.
Nos primeiros anos de vida a atenção da criança, sua tendência sexual, é atraída por um dos pais: o menino pela mãe e a menina pelo pai. Todavia, sob a ação repressora do meio ambiente, a libido infantil entra num período de latência e a criança aprende a recalcar seus desejos e a escondê-los. Com o desenvolvimento, o indivíduo se abre para os colegas do sexo oposto e supera as fases anteriores, mas podem permanecer resquícios, em maior ou menor proporção, dessas dificuldades sexuais infantis, determinando certas formas de conflitos psíquicos ou de anormalidade na conduta sexual.
A Psicanálise atribui ainda grande importância aos fenômenos do inconsciente. Muitos dos atos de nossa vida, não apenas os instintivos, mas também os aparentemente reflexivos, realizam-se sem que deles tenhamos consciência. Se os impulsos e tendências do inconsciente são contrários à orientação da consciência, eles não se realizam abertamente porque a censura os recalca. Mas as tendências reprimidas não são eliminadas; continuam agitando 0 inconsciente e provocando conflitos psíquicos.
A Psicanálise tem por função exteriorizar essas tendências recalcadas. Mas como o estudo do psiquismo não se baseia em dados concretos e claramente demonstráveis, a psicanálise procura resolver problemas que ainda há pouco nem sequer eram formulados e cuja existência é ainda, muitas vezes, contestadas. Como os neuróticos são formados geralmente pela corresponsabilidade do indivíduo e da sociedade, esta procura constantemente rejeitar as descobertas da Psicanálise que, direta ou indiretamente, condena certos comportamentos coercivos de nossa estrutura social.
Não resta porém a menor dúvida que, enquanto a Psicanálise descobre as origens dos males psíquicos, ela revela os caminhos a serem seguidos para que o mal, seja evitado ou remediado. Graças à divulgação dada por Jung e Adler, às descobertas de Freud e Breuer, o ritmo proporcional de aparecimento de neuróticos em nossa sociedade tem sido contido. Além disso resta a esperança de que à medida em que essa “doutrina” de análise psíquica for sendo vista com mais naturalidade e menos desconfiança por parte dos responsáveis pela formação dos indivíduos, a sociedade dos homens tornar-se-á mais livre e, consequentemente, mais feliz.
O freudismo permanece ainda na concepção dominante em Psicanálise, mas já passou o tempo em que eclipsava todos os outros que se ocupavam do problema. Embora após Freud, os psicanalistas tenham seguido rumos muitas vezes diferentes, a doutrina psicanalítica depende hoje de outros grandes psicólogos e psiquiatras como Erich Fromm, Lipot Szondi, Adler e Jung, principalmente.
Cem esses sucessores de Freud, a Psicanálise lançou novas luzes sobre o inconsciente e pôs mais em relevo o papel deste, no conjunto da vida psíquica. É preciso porém reconhecer que se a psicologia foi enriquecida e consideravelmente renovada pela psicanálise, esta contribuiu para a perda acadêmica daquela. Tratando com neuróticos e indivíduos mais ou menos anormais, o psicanalista é levado a ver desequilíbrio em toda parte e, supondo-o, provoca-o.
Em todo caso, o domínio do inconsciente desvendado primeiramente por Freud, tornou-se hoje o campo de estudo de outros grandes nomes de nosso século.