Blaser e Poeldinger estudaram a evolução do conceito de angústia, admitindo que se deve a Kierkegaard a primeira distinção entre temor a um objeto e angústia, livre e flutuante, desprovida de objeto. Esta distinção foi adotada pelo psiquiatra e filósofo alemão Karl Jaspers, tendo deixado claro o seu conceito ao escrever que a angústia é um sentimento frequente e torturante, e que o medo sempre se refere a alguma coisa, enquanto a angústia é sem objeto.
Desde então, esta tem sido a orientação seguida pelos tratadistas, entre os quais se encontra Binder, que desenvolveu amplas considerações no sentido de estabelecer os limites entre medo e angústia:
“Se procurarmos estabelecer a diferença entre esses dois estados de ânimo, a introspecção nos mostrará que a vivência afetiva de encontrar-se em perigo aparece em duas modalidades diferentes:
1 – Em uma forma diferenciada, em que o referido sentimento surge em estruturas psíquicas amplamente configuradas, precisas e determinadas; quando se costuma falar quase sempre da presença de medo ou temor, e;
2 – Em forma mais primitiva, que se designa de modo geral como angústia e que corresponde a estratos psíquicos mais profundos que, com freqüência, são menos claramente conscientes e conservam conexões psíquicas mais difusas e menos articuladas.
Alguém teme algo ou sente medo diante de algo, enquanto alguém se angustia, e nestas locuções se expressa que no temor ou no medo do objeto perigoso aparece mais claramente destacado do indivíduo e é percebido, imaginado ou pensado como uma articulação e uma delimitação clara e determinada, enquanto na angústia os processos do conhecimento que a precedem são, freqüentemente, muito mais vagos e indiferenciados, características que correspondem a estratos psíquicos mais primitivos”.
Angústia Vital
Lopez Ibor considera a angústia vital como o elemento básico da personalidade humana, podendo surgir sem características patológicas mas, em condições mórbidas, está representada por seus graus mais acentuados. A angústia se acha corporalizada.
De acordo com Binder, esta forma de angústia apodera-se do consciente quando existem condições corporais íntimas ameaçadoras da vida. “Surge de modo mais claro nos estados de hipoxemia e anoxemia de qualquer natureza, seja devido a espasmos das coronárias (angina do peito), à perda de sangue (sempre que não leve à inconsciência), à dificuldade respiratória (asma brônquica, estrangulação) ou a asma cardíaca.
Bash considera que, nesses casos, a reação psíquica é perfeitamente normal: “O objeto se apresenta no consciente sob a forma de sensações viscerais”. A própria debilidade constitucional, seja do sistema ou de sua regulação vegetativa, pode determinar o aparecimento de sensações desagradáveis, as quais são captadas como ameaça à integridade do eu, estando, nesse caso, a angústia vital ligada à depressão ou à transtorno orgânico. A angústia vital, exceto nos casos de depressão, indica um grave transtorno orgânico.