Cérebro e Violência

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A fisiopatologia da agressão e da violência é um vasto campo por onde deverão desfilar infindáveis e inconclusivas hipóteses e pesquisas.

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Mente & Cérebro

Não se trata de considerar a violência sob a ótica psicodinâmica, nem das variáveis socioculturais ou do ponto de vista ético. Isso seria mais atrelado à psicologia, antropologia, à moral e à ética. Aqui a violência terá abordagem neuropsiquiátrica.

Para fins didáticos, considere-se a relação mente-cérebro como se fosse, por analogia, uma unidade de trabalho composta de um cavalo e um cavaleiro em cima. O cavalo, nesse exemplo, representa a parte cerebral e o cavaleiro a parte mental. Assim, um cavaleiro muito habilidoso seria capaz de conduzir satisfatoriamente um animal pouco domesticado, ainda que tivesse uma natureza impetuosa. Por outro lado, um cavaleiro frágil ou pouco hábil, terá muita dificuldade para realizar um bom trabalho, mesmo sendo o cavalo adequado.

Durante um relacionamento agressivo, geralmente o cérebro (eixo hipotálamo-hipofisário) envia um sinal às glândulas suprarrenais determinando a liberação de adrenalina na corrente sanguínea. Tal como acontece na Reação de Alarme da Síndrome Geral de Adaptação. Há, rapidamente, um aumento da excitação fisiológica e do nível de vigilância do organismo. Simultaneamente, também procedente das suprarrenais, os níveis sanguíneos de cortisol livre aumentam numa clara demonstração da interação entre os estímulos externos e a fisiologia interna.

O inverso da sequência neurofisiológica parece ser também verdadeiro, de acordo com o que sugere os experimentos de Raynes com peixes lutadores. O pesquisador estimulou a agressividade nestes peixes colocando álcool na água, enquanto a mesma coisa foi feita com noradrenalina.

Outros experimentos demonstram que a agressividade pode ser alterada modificando-se a taxa metabólica de certos neurotransmissores do sistema nervoso central, mais precisamente da noradrenalina, serotonina e dopamina. Parece ser também de importância fundamental o papel dos hormônios sexuais no perfil da agressividade do indivíduo.

Existe, inegavelmente, uma sólida inter-relação entre estímulos externos e a fisiologia interna no mundo animal. Importante também é a relação entre a fisiologia interna e a resposta comportamental. Vimos que um estímulo estressor pode determinar um aumento na secreção de hormônios e neurotransmissores, colocando o indivíduo numa posição de alarme, pronto para a luta ou para a fuga. Por outro lado, esta posição de alarme também pode ser determinada a partir do aumento (experimental) destas substâncias sem, necessariamente, a presença do agente estressor vivencial.

Os neurotransmissores alterados no processo da agressão são encontrados no Sistema Límbico, fisiologicamente, e isso chamou a atenção dos pesquisadores para esta área do Sistema Nervoso Central (SNC). E é aí que se situa o elemento topográfico e anatômico da agressão: o Sistema Límbico. Este é fisiologicamente relacionado ao controle e elaboração da maioria dos comportamentos motivados.

Sobre os hormônios sexuais, durante séculos se sabe que um garanhão selvagem castrado torna-se muito mais dócil. Da mesma forma que a castração de um touro selvagem transforma-o num boi trabalhador e submisso. Nos seres humanos a castração terapêutica foi institucionalizada nos países escandinavos, particularmente na Dinamarca, e seu uso restringe-se praticamente aos criminosos sexuais.

A legislação desses países coloca a castração terapêutica como uma opção voluntária do prisioneiro, cuja não concordância implica em reduzidas chances de sair da prisão. Baseado nas poucas centenas de casos estudados, pode-se dizer que a castração proporciona uma pacificação geral nestes prisioneiros e há um número relativamente pequeno de recidivas, segundo Johnson.

Psicodinamicamente, a agressão deve ser considerada à luz da conjuntura sociocultural. Há inúmeras reflexões filosóficas sobre o natural (ou não) potencial agressivo e violento do ser humano. Rousseau teimava em reconhecer uma certa bondade natural do indivíduo, o qual, colocado diante de uma sociedade corruptora transformaria sua boa natureza em atitude social condenável. Thomas Hobbes, ao contrário de Rousseau, afirmava ser vil e mau a condição natural do ser humano. Sua sociabilidade aceitável e meritosa devia-se à atuação modeladora da sociedade, normalmente através dos mecanismos de coerção e gratificação.

Enfim, a fisiopatologia da agressão e da violência é um vasto campo por onde deverão desfilar infindáveis e inconclusivas hipóteses e pesquisas. Além disso, as circunstâncias existenciais a que se submete o indivíduo durante sua trajetória de vida tendem a turvar uma visão mais organicista sobre comportamentos motivados.

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Um dos níveis mais criticado e desvalorizado no estudo da violência é o nível biológico. Defender a existência e a importância das abordagens biológicas no estudo da agressão implica entrar em um tema polêmico, frequentemente utilizado pelos meios de comunicação social como explicação científica de casos pontuais.

No entanto, convém não esquecer que a utilização da biologia como explicação do comportamento não é recente, pois, há bem menos de um século a biologia e o darwinismo social serviram de base para o colonialismo, o racismo e a procura da raça pura. Contudo, não considerar o nível biológico, elimina de início um dos elementos do triplo sistema psicopatogênico atualmente reconhecido, o sistema biopsicossocial. 

Psicopatologicamente, a violência e a agressão não podem ser considerados características de nenhum estado mórbido particular. Como deve saber qualquer profissional da área psico com bom senso e observação, existem sólidas relações entre a Epilepsia do Lobo Temporal e crises de furor e agressividade.

Também incluem-se os casos de Embriagues Patológica como exemplo de agressividade exagerada e responsável por inúmeros crimes de agressão. Este estado se caracteriza por uma mudança abrupta e profunda na personalidade motivada pela ingestão de bebida alcoólica (mesmo em pequena dose).

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Epilepsia do Lobo Temporal

Além da natureza tumoral de lesões produtoras de comportamento violento, o tipo mais comum de doença cerebral associada à agressão e violência tem sido a Epilepsia do Lobo Temporal. Mark e Ervin documentaram muito bem o caso de Jennie, uma adolescente considerada como criança modelo.

Um dia, ao ser criticada por ouvir alto demais seus discos, teve um acesso destrutivo e quebrou tudo que estava em seu quarto. Seus estados de ânimo variavam entre o angelical e o demoníaco e, finalmente, depois de estrangular um bebê de meses por não suportar seu choro. Jennie foi institucionalizada. Como seu irmão tinha epilepsia, aventou-se a possibilidade de sua extrema agressividade ser ocasionada por uma doença cerebral orgânica.

Posteriormente constatou-se um foco irritativo temporal esquerdo, o qual entrava em atividade quando a paciente era estimulada a sentir raiva. O eletroencefalograma conseguido durante a estimulação por choro de bebê mostrou claramente a alteração desencadeada pela irritação da paciente.

Genética e agressividade

Geneticamente podemos dizer da fisiopatologia da agressão que, de fato, não se trata de um traço de personalidade invariavelmente herdado, mas os fatores de influência na agressão podem ser, seguramente, transmitidos geneticamente. Tais fatores incluem o perfil de atividade hormonal, os limiares de ativação das estruturas cerebrais e, evidentemente, as epilepsias geneticamente transmitidas.

Em cães, é bem sabida a potencialidade agressiva de determinadas linhagens, entretanto, nos seres humanos, tendo em vista as inúmeras variáveis ambientais e culturais essa conclusão não tem sido possível.

A citogenética tem permitido uma eficiente identificação dos cromossomos humanos e algumas alterações relacionadas ao comportamento mais agressivo. Somente um, entre os 23 pares de cromossomos, difere os machos das fêmeas: a mulher tem um par igual (XX) enquanto o homem tem um cromossomo igual ao da mulher (X) e um outro diferente (Y), portanto, o XY, característico do sexo masculino, determina a distribuição hormonal e as demais características do homem. No estudo da agressão tem particular interesse uma anomalia cromossômica caracterizada por um Y a mais, ou seja, um genótipo aberrante XYY ao invés do XY normal.

Numa população de prisioneiros violentos, Moyano encontrou uma incidência de 3,5% de homens XYY, enquanto na população geral é estimada uma incidência entre 0,7 e 0,2%. O mesmo autor termina seu trabalho concluindo que a configuração XYY se constitui num fator predisponente à conduta agressiva exagerada, embora não pareça ser um elemento exclusivo como determinante da mesma.

Neste sentido, poderia aventar-se a hipótese de que o cérebro dos sujeitos portadores de um cromossomo Y extra estaria semi-programado para a conduta agressiva e anti-social, mas que esta só se manifestaria, em toda sua amplitude, quando se somasse uma série de elementos ambientais adversos. Ainda que esta anomalia cromossômica possa, de fato, estar associada à agressividade e violência, não se trata aqui de doença mental.

Os opositores da hipótese XYY para a agressividade argumentam que a maior estatura e maior compleição dos portadores dessa anomalia favoreceriam, psicodinamicamente, uma tendência à agressão. Isso se daria em decorrência da maior possibilidade de êxito social através da violência, já que, normalmente, são indivíduos mais fortes. Além disso, tais pessoas são bastante estimuladas ao comportamento violento pelo fato de despertarem, nos demais, a expectativa de atuação agressiva. A sociedade atribui naturalmente aos fortes um papel social de homens mais capazes fisicamente.

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Sistema Límbico: O Centro das Emoções

Organicamente o comportamento agressivo e violento pode ser determinado por fatores químicos, funcionais e anatômicos, ou seja, tanto microscópicos, incluindo os elementos atrelados à eletrofisiologia cerebral, quanto macroscópicos, atrelados à integridade anatômica do órgão.

O Sistema Límbico inteiro pode ser considerado o substrato neural para o comportamento relacionado à motivação e à emoção. Desta forma, o Sistema Límbico inclui estruturas como o Tálamo, o Epitálamo, o Hipocampo, o Hipotálamo, as Amígdalas, o Cíngulo e a região do Septo. Todas estas áreas têm sido aplicadas na regulação do comportamento agressivo, juntamente com os lobos temporais.

Filogeneticamente o cérebro humano poderia ser dividido em 3 unidades:

  1. cérebro primitivo (autopreservação, agressão)
  2. cérebro intermediário (emoções)
  3. cérebro racional (tarefas intelectuais)

O Cérebro Primitivo é constituído pelas estruturas do tronco cerebral, ou seja, pelo bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo, pelos bulbos olfatórios e pelo mais antigo núcleo da base cerebral, o chamado Globo Pálido. Esse cérebro, anatomicamente delimitado da forma descrita, corresponde ao cérebro dos répteis.

O Cérebro Intermediário, que aparece inicialmente nos mamíferos primitivos, já é formado pelas estruturas do Sistema Límbico e corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores.

O Cérebro Superior, encontrado filogeneticamente nos atuais mamíferos superiores, tais como nos primatas, golfinhos e seres humanos, compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais, formado por um tipo de córtex mais recente e denominado neocórtex e por alguns grupos neuronais subcorticais.

Essas três camadas cerebrais vão aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto (ontogenia), representando cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies, do lagarto até o Homo Sapiens.

Observou-se na superfície medial do cérebro dos mamíferos uma região constituída por células cinzentas (neurônios) que foi chamado de Lobo Límbico. Uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico.

Como vimos então, a parte de nosso cérebro mais primitiva é herança evolutiva dos répteis, e abriga os mecanismos neuronais básicos da reprodução e da auto conservação, o que inclui o ritmo cardíaco, circulação sanguínea e respiração. Num anfíbio, este é quase todo Sistema Nervoso Central que existe.

Os elementos comportamentais comuns entre seres humanos e répteis, supostamente relacionados a essas estruturas primitivas, seriam a seleção do lugar (do lar), a territorialidade, o envolvimento na caça, o acasalamento, cuidar da cria e a formação de hierarquias sociais e seleção de líderes. Tem origem aqui também a participação nos comportamentos ritualistas.

Salvo algumas exceções, parece que estes comportamentos formam parte das condutas burocráticas e políticas do ser humano atual. Talvez, conforme diz Eduardo A. Mata, quando falamos que “matou a sangue frio“, estamos fazendo uma didática metáfora ao sangue frio dos répteis.

O Sistema Límbico já se encontra em torno desse cérebro de réptil primitivo, sob forma de rudimentos do Sistema Límbico que existe no ser humano. O comportamento dos mamíferos, desde as classes mais inferiores, até as mais desenvolvidas, incluindo os humanos, difere dos répteis não só na maior quantidade de comportamentos possíveis, mas também na qualidade desses comportamentos, surgindo nos mamíferos mais evoluídos a emoção.

É muito importante saber que as expressões da fúria gerenciadas pelo Sistema Límbico são notavelmente similares entre um gato, um cão e um ser humano submetidos à mesma situação emocional. Isto significa que esse tipo de reação não sofreu mudanças na escala filogenética evolutiva dos mamíferos.

Chama atenção também, para a importância do Sistema Límbico, o fato da quase totalidade dos psicofármacos atuarem exatamente nesse local. Os sistemas neuroendócrino, neuroimune, neurovegetativo e os ritmos circadianos, todos têm no Sistema Límbico sua sede e, por isso, são todos fortemente influenciados pelas emoções

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O Sistema Límbico é a porção do Sistema Nervoso Central responsável pela regulação das emoções, tais como amor, paixão, alegria, ira, pavor, ódio, tristeza e por alguns comportamentos lúdicos, como as brincadeiras, por exemplo. Também responde por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória.

Esse sistema comanda comportamentos importantes, necessários à sobrevivência, interferindo no funcionamento das vísceras e na regulamentação do metabolismo.

Assim, o Sistema Límbico é o responsável pela avaliação afetiva das circunstâncias da vida, realização da integração do sistemas nervoso, endócrino e imunológico e organização de uma reação adequada.

O Sistema Límbico passou a ser caracterizado como o circuito neuronal relacionado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais, já tendo sido incluídas em sua estruturas o hipotálamo, amígdala, núcleos da base, área pré-frontal, cerebelo e septo.

O hipocampo, inicialmente inserido no Sistema Límbico, não parece ter participação decisiva nos mecanismos neurais das emoções, tendo papel, outrossim, na consolidação da memória, incluída aquela de conteúdo emocional, daí estar relacionado – ainda que não seja pertencente ao Sistema Límbico.

Hormônios e Agressividade
Em relação à relação da agressão com hormônios, a testosterona tem sido o hormônio sexual mais importante. Experimentos têm demonstrado que a agressividade determinada pelo isolamento prolongado pode ser diminuída com tratamento a base de estrogênio e, em menor proporção, com progesterona.

Os níveis dos hormônios reprodutivos femininos, que são o estrogênio e a progesterona, oscilam durante o ciclo menstrual. Essas variações hormonais podem afetar os níveis de neurotransmissores, os quais têm um papel importante na regulação do humor, com destaque para a serotonina.

Sintomas emocionais ou comportamentais comuns no transtorno pré-mentrual – ou Transtorno Disfórico Pré-Menstrual – incluem irritabilidade, entre outros (depressão, ansiedade, retraimento social, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, aumento do apetite e desejo voraz por determinados alimentos).

As relações entre agressividade e impulso sexual têm merecido especial destaque por parte dos pesquisadores, notadamente em relação à morfologia e função do diencéfalo, área que parece controlar a secreção gonadal dos hormônios sexuais.

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Evolução filogenética

A chamada Amígdala é uma estrutura importantíssima da região límbica e tem um papel transcendente na agressividade. Também existem motivos para acreditar que a base do comportamento altruísta se encontra no Sistema Límbico. O amor, que pode corresponder ao instinto de vida, parece ser uma aquisição do Sistema Límbico. Muitas investigações documentam que as emoções são patrimônio dos mamíferos e de algumas aves. Precisamente as espécies que cuidam de sus crias.

As regiões cerebrais mais primitivas da agressão, precisamente da agressão predatória, têm sido amplamente estudadas e numerosas estruturas filogeneticamente mais primitivas têm sido implicadas nesse tipo de agressão. Essas estruturas incluem o hipotálamo, o tálamo, o mesencéfalo, o hipocampo e o núcleo amigdalino. A Amígdala e o hipotálamo trabalham em estreita harmonia e o comportamento de ataque pode ser acelerado ou retardado segundo a interação entre estas duas estruturas.

Por último, aparece o Neocórtex, que se apresenta em estado rudimentar nos mamíferos inferiores, sofre uma modificação impressionante nos primatas e, finalmente, tem um desenvolvimento explosivo nos hominídeos e nos grandes mamíferos aquáticos.

A agressão e seu subproduto perverso, a destrutividade, requerem a participação das estruturas cerebrais primitivas. Sem elas não haveria a verdadeira agressão. A verdadeira força da agressão reside num conjunto de assembleias neuronais (ou armazéns neuronais – Grisgby – ou ainda redes neuronais) e na emoção processada pelo Sistema Límbico.

Assim, o cérebro humano traz em si reflexos da história da evolução   animal (Carter), tanto em sua função quanto em sua anatomia. Possivelmente tenha começado na água, quando os peixes desenvolveram um tubo para transportar os nervos de partes distantes de seu corpo para um lugar central de controle.

O Sistema Límbico atua no controle de nossas atividades emocionais e comportamentais, assim como nos impulsos motivacionais. Em 1978 o neurologista francês Paul Broca observou que na superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do córtex, existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios) a qual ele deu o nome de lobo límbico, que traduz a ideia de círculo, anel, em torno de.

Uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico esse conjunto de estruturas mais tarde foi denominado Sistema Límbico. É esse sistema que comanda certos comportamentos necessários á sobrevivência de todos os mamíferos.

As estruturas cerebrais do Sistema Límbico envolvidas na formação das emoções são as seguintes:

Amígdalas
A destruição experimental das Amígdalas (são duas, uma para cada hemisfério cerebral) faz com que o animal se torne dócil, sexualmente indistinto, afetivamente descaracterizado e indiferente ás situações de risco. O estímulo elétrico agindo nessas estruturas provoca crises de violenta agressividade.

Em humanos, a lesão da Amígdalas faz, entre outras coisas, com que o indivíduo perca o sentido afetivo da percepção de uma informação vinda de fora, como por exemplo, a perda da valoração de uma pessoa conhecida. Ele sabe quem está vendo mas não sabe se gosta ou desgosta da pessoa em questão.

Localizada na profundidade de cada lobo temporal anterior, a Amígdala funciona de modo íntimo com o Hipotálamo. É o centro identificador de perigo, gerando medo e ansiedade e colocando o animal em situação de alerta, preparando-o para fugir ou lutar.

Hipocampo
O Hipocampo é envolvido com os fenômenos da memória de longa duração. Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos, nada mais é gravado na memória.

Um Hipocampo intacto possibilita ao animal comparar as condições de uma ameaça atual com experiências passadas similares, permitindo-lhe, assim, escolher qual a melhor opção a ser tomada para garantir sua preservação.

Tálamo
As lesões ou estimulações do dorso medial e dos núcleos anteriores do Tálamo estão correlacionadas com a reatividade emocional do homem e dos animais. A importância dos núcleos na regulação do comportamento emocional, possivelmente não decorre de uma atividade própria do Tálamo, mas das conexões com outras estruturas do Sistema Límbico.

O núcleo dorso-medial do Tálamo se conecta com as estruturas corticais da área pré-frontal e com o hipotálamo. Os núcleos anteriores ligam-se aos corpos mamilares no Hipotálamo e, através destes, via fórnix, com o hipocampo e com o giro cingulado.

Hipotálamo
O Hipotálamo é uma das áreas mais importante do Sistema Límbico. Além de seus papéis no controle do comportamento, essa área também controla várias condições internas do corpo, como por exemplo, a temperatura, o impulso para comer e beber, etc. Essas funções internas são, em conjunto, denominadas funções vegetativas do encéfalo, e seu controle está relacionado com o comportamento. O Hipotálamo mantém vias de comunicação com todos níveis do Sistema Límbico.

O Hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável.

De um modo geral, contudo, a participação do Hipotálamo é mais importante na expressão e manifestações somáticas dos estados emocionais do que na gênese destes. A via ou trajetória dos estímulos emocionais se faz em dois sentidos, tomando-se o Hipotálamo como ponto de referência. Passam pelo Hipotálamo, vindo do Sistema Límbico (Amígdala) e se dirigem aos órgãos efetores (glândulas), porém, retornam ao Sistema Límbico, vindos do próprio Hipotálamo aos centros límbicos e, destes, aos núcleos pré-frontais, aumentando, por um mecanismo de feed-back negativo, a ansiedade, a qual poderá até um estado de pânico.

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Giro Cíngulo
O Giro Cingulado está situado na face medial do cérebro entre o sulco cingulado e o corpo caloso, que é um feixe nervoso que liga os 2 hemisférios cerebrais.

Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se que a sua porção frontal coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Esta região ainda participa da reação emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo. A ablação do giro cingulado (cingulectomia) em animais selvagens, domestica-os totalmente. A simples secção de um feixe desse giro (cingulomia), interrompendo a comunicação neural do circuito de Papez, reduz o nível de depressão e de ansiedade pré-existentes.

Tronco Cerebral
O Tronco Cerebral também é a região responsável pelas reações emocionais, porém, de forma mais primitiva. Na verdade, apenas respostas reflexas, de vertebrados inferiores, como répteis e os anfíbios.

O Tronco Cerebral se compõe da Formação Reticular e do Locus Ceruleus, que é uma massa concentrada de neurônios secretores de noradrenalina. É importante assinalar que, até mesmo em humanos, essas estruturas primitivas continuam participando, não só dos mecanismos de alerta, vitais para a sobrevivência, mas também da manutenção do ciclo vigília-sono.

Área Tegmental Ventral
Esta Área Tegmental Ventral se compõe de um grupo de neurônios localizados em uma parte do tronco cerebral que secreta dopamina. A descarga espontânea ou a estimulação elétrica dos neurônios da região dopaminérgica mesolímbica produzem sensações de prazer, algumas delas similares ao orgasmo.

Indivíduos que apresentam, por defeito genético, redução no número de receptores das células neurais dessa área, tornam-se incapazes de se sentirem recompensados pelas satisfações comuns da vida e buscam alternativas “prazerosas” atípicas e nocivas como, por exemplo, alcoolismo, cocainomania, compulsividade por alimentos doces e pelo jogo desenfreado.

Septo
O Septo é uma estrutura situada à frente do Tálamo, por cima do Hipotálamo. A estimulação de diferentes partes desse septo pode causar muitos efeitos comportamentais distintos. Na frente do Tálamo, situa-se a área septal onde estão localizados os centros do orgasmo (quatro para mulher e um para o homem). Certamente por isto, esta região se relaciona com as sensações de prazer, mormente aquelas associadas às experiências sexuais.

Área Pré-Frontal
A Área Pré-Frontal não faz parte do circuito límbico tradicional, mas suas intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras áreas sub-corticais, explicam o importante papel que desempenha na expressão dos estados afetivos.

Quando o córtex da Área Pré-Frontal é lesado, o indivíduo perde o senso das responsabilidades sociais, bem como a capacidade de concentração e de abstração. Em alguns casos, a pessoa, mantém intactas a consciência e algumas funções cognitivas, como a linguagem, mas não consegue resolver problemas mais elementares.

Quando se praticava a lobotomia pré-frontal, para tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, os pacientes entravam em estado de “tamponamento afetivo“, e não demonstravam mais quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. Em suas palavras ou atitudes não mais se viam quaisquer resquícios de afetividade.

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Comportamentos Violentos

É um exemplo de lesão orgânica ocasionando o comportamento violento. Em 1966 o mundo ficou estarrecido com o comportamento de Charles Whitman, no Texas, o qual promoveu um assassinato em massa que vitimou 16 pessoas e feriu 24. Muitos outros casos semelhantes tornaram-se manchetes de jornais, às vezes até com maior violência.
Os escritos de Charles Whitman, encontrados depois da tragédia, diziam o seguinte:

“… eu realmente não me compreendo estes dias. Supostamente sou um jovem médio, razoável e inteligente. Contudo ultimamente venho sendo vítima de pensamentos pouco comuns. …Falei com um médico uma vez durante duas horas, e tentei transmitir-lhe meus medos de que eu me sentia subjugado por impulsos violentos extremamente fortes. …Venho tendo tremendas dores de cabeça e consumi dois grandes vidros de Excedrin nos últimos três meses”.
“Foi depois de muito pensar que decidi matar minha esposa Kathy esta noite, depois que eu a apanhar no trabalho. …Amo-a muito e ela tem sido boa esposa para mim, tão boa quanto qualquer homem possa desejar. Racionalmente não encontro nenhuma razão para fazer isso. …Neste momento, porém, a razão predominante em minha mente é que em verdade não considero que valha a pena viver neste mundo, e eu estou preparado para morrer, e não desejo deixá-la sofrer sozinha nele. Pretendo matá-la de forma tão indolor quanto possível…”

Na noite do dia em que escreveu esta carta Whitman matou, não só sua esposa, como também a sua mãe. Na manhã seguinte ele se escondeu atrás de barricadas no topo de uma torre da Universidade do Texas com um rifle de caça equipado de luneta e, durante 90 minutos, atirou em tudo que se movia, quando finalmente mataram-no a tiros. Um exame post-mortem de seu cérebro evidenciou um glioblastoma, tumor altamente maligno, na área do núcleo amigdaloide.

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O Cérebro e a Regulação Emocional

Segundo pesquisas antigas, o cérebro humano possui sistemas de regulação naturais que controlam as emoções negativas e alterações nesses sistemas parecem aumentar dramaticamente o risco de comportamento impulsivo violento, conforme pesquisas da Universidade de Wisconsin-Madison (Science, 28/07/2000).

Essas pesquisas são baseadas fortemente nas imagens funcionais cerebrais (possíveis depois do advento do SPECT), em pessoas violentas ou predispostas à violência, ou seja, em pessoas que preenchem os critérios para diagnóstico de Transtorno Explosivo da Personalidade, bem como aquelas com lesões cerebrais ocorridas na infância e assassinos condenados.

A pesquisa publicada há anos na revista Science (28/07/2000), mostrou a existência de elementos neurológicos comuns em 500 pessoas consideradas com dificuldades em regular impulsos agressivos apropriadamente. Este estudo avaliou várias regiões interconectadas do córtex pré-frontal do cérebro, áreas estas relacionadas ao controle das emoções negativas e o autor da pesquisa, o psicólogo Richard Davidson, acha que essas conexões recém-encontradas entre violência e tais disfunções cerebrais abrem um novo caminho para a compreensão e o tratamento da violência e agressão.

Uma das constatações (confirmação) de Davidson se refere ao inter-relacionamento entre áreas distintas da região cerebral, tais como o córtex frontal orbital, o córtex cingulado anterior e a tonsila cerebelar. O Córtex Frontal Orbital, por exemplo, tem um papel crucial no refreamento da explosão impulsiva enquanto que o Córtex Cingulado Anterior ativa outras regiões para responder ao conflito. A Amígdala (tonsila cerebelar), um pequena mas importante porção do cérebro, estaria envolvida na produção de uma resposta ao medo e outras emoções negativas.

As pesquisas de Davidson e colegas encontraram atividade anormal ou falta de atividade nas regiões orbital e anterior em vários grupos de estudo, enquanto que a Amigdalamostrava uma atividade normal ou aumentada. Os pesquisadores encontraram disfunções em regiões cerebrais comuns em estudos com base em imagens cerebrais de 41 assassinos pertencentes a um grupo de estudo que sofria de Distúrbio da Personalidade Impulsiva Agressiva (na CID.1O, fazendo parte da Personalidade Borderline) e a outro grupo diagnosticado com Distúrbio da Personalidade Anti-social.

Também foram reavaliadas informações sobre dois indivíduos que sofriam de dano precoce em duas importantes regiões do cérebro, os quais apresentavam histórias de abuso físico e verbal e explosões intermitentes de ira.

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para referir:
Ballone GJ – Cérebro e Violência – in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.net, revisto em 2020

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