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A razão desse artigo é refletir sobre a possibilidade da psiquiatria estar tratando sofrimentos emocionais decorrentes de frustrações da vida normal como se fosse um Transtorno Depressivo.
Não se trata de validar ou não a utilização de antidepressivos, inegavelmente úteis no alívio e na melhora da qualidade de vida emocional quando existe um rebaixamento do humor, mas sim da conceituação dos quadros de depressão e de frustração. Talvez a psiquiatria esteja tratando as consequências individuais de uma patologia muito mais social do que pessoal.
A qualidade da vida emocional depende da realização, satisfação e prazer com que se vive. Se preferir, a qualidade de vida depende da felicidade, e esta, acontece quando o destino coincide com a vontade, ou seja, existe felicidade se estiver acontecendo agora aquilo que se deseja que esteja acontecendo.
Mas isso não é tão simples como parece. A coincidência vontade-destino é mais abrangente do que a simples sucessão dos acontecimentos. Para ser completa a ideia de felicidade os sentimentos devem ser, nesse momento, justamente aqueles que se desejaria estar sentindo agora.
Na prática, isso quer dizer que não basta estar em uma praia paradisíaca curtindo as férias, como recomenda o existencialmente correto. É necessário também estar realmente presente a felicidade plena.
O prognóstico de vida ou perspectivas futuras faz parte também da sensação de felicidade, ou seja, a sensação de que as coisas continuarão sendo sempre satisfatórias.
Juntando essa ideia com a natural vocação humana para o desejo, para a expectativa e para a pretensão, e sabendo que nos frustramos na proporção em que pretendemos ou aspiramos algo, fica mais clara a ideia de John Stuart Mill ao dizer que “se aprende a procurar a felicidade limitando os desejos, ao invés de satisfazê-los”.
Tentaremos refletir sobre a diferença entre depressão e frustração, diferenciar a tristeza consequente às frustrações cotidianas e fisiológicas do homem moderno, os aborrecimentos do dia-a-dia, os sentimentos de perda, luto, contrariedade, da depressão propriamente dita, que é uma condição patológica, limitante, e que implica na necessidade de tratamento específico adequado.
Falar em frustração não significa falar de algo doentio, mórbido. A frustração é uma ocorrência universal e comum a todas pessoas conscientes das condições de sua existência, trata-se de algo necessário ao amadurecimento e, consequentemente, ao desenvolvimento da personalidade, da relação do sujeito com o mundo objectual, com sua realidade, com os outros e consigo próprio.
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Seria, a frustração necessária?
O ser humano, tal como os animais superiores, tende a fugir da dor e se aproximar do prazer. Portanto, há sempre uma tentativa pretensiosa de suprimir o sofrimento das frustrações ou das perdas. Existem várias maneiras do ser humano fugir da dor, entre elas, os mecanismos de defesa do tipo negação, compensação, entre outros.
Além deste leque de recursos interiores, recorre-se também à ajuda externa, algo de fora da pessoa. Antigamente nossos ancestrais aliviavam o sofrimento buscando ajuda externa no feiticeiro, no pajé, no sacerdote ou coisas assim. O ser humano atual busca um “algo mágico”, lenitivo para seus sofrimentos na expectativa que tem da medicina, da ciência e da tecnologia. São programas, técnicas, pílulas, terapeutas, meditações, alguma coisa milenar, recursos orientais, práticas exóticas e alternativas, enfim, a sociedade dispõe de mil recursos aliviatórios.
Porém, existem muitas hipóteses sobre o aspecto saudável e desejável dos sentimentos produzidos pelas adversidades da vida, pelas dificuldades e frustrações existenciais. Parece que a pretensão de alívio das frustrações através de práticas psicoterápicas, intervenções farmacológicas, superproteção familiar ou outros esforços lenitivos farão com que a pessoa não desenvolva a necessária capacidade de superação das dificuldades existenciais.
Vivenciar perdas, experimentar a tristeza diante das frustrações são processos importantes para o amadurecimento psíquico e aprimoramento das relações interpessoais. A Depressão não pode ser compreendida como sinônimo do sentimento de tristeza que qualquer pessoa experimenta diante de suas dificuldades e frustrações, mas sim, como um quadro patológico próprio e específico, relativamente emancipado dos eventos existenciais.
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Depressão e Tristeza
Há, sem dúvida, abuso e banalização do termo “depressão”. Mas nem toda sintomatologia atribuída à Depressão, tais como tristeza, desinteresse, apatia, perda de prazer com as coisas pode ser considerada doença depressiva ou algum transtorno do afetivo. Muitas vezes trata-se de um reflexo emocional de circunstâncias vivenciais frustrantes.
A busca do gozo e do prazer, o hedonismo predominante na sociedade moderna, quando não está claramente visível e continuamente presente na vida da pessoa, quando não mobiliza incansavelmente para o lazer, quando não se manifesta com extroversão, inquietação ou euforia, acaba causando uma estranheza capaz de fazer pensar em alguma coisa anormal, mórbida, patológica.
O comportamento contido, a introversão ou retraimento são pensados como anomalias e não como traços de personalidade que são. Jovens que, por características de personalidade, escapam ao modelo sociocultural ocidental de expansividade e extroversão são considerados “problemáticos”. Quase sempre são pessoas naturalmente introspectivos, reflexivos ou refratários à frugalidade moderna que, indevidamente, acabam sendo aconselhados a procurar “ajuda especializada”, algum tratamento para que se iguale aos seus pares eloquentes.
O mesmo engano se comete em relação ao cansaço emocional e natural, proporcionado pelas dificuldades da lida com a vida moderna normal. O comum desencanto da pessoa para com a vida social, a aborrecida constatação da inversões de valores, a tristeza estimulada por tantas notícias absurdamente bizarras, enfim, essa grande variedade de frustrações impostas às pessoas por viverem em um sistema social turbulento costuma ser equivocadamente interpretado como Depressão, que é um transtorno afetivo. Na realidade pode se tratar de um estado de frustração e desesperança com sintomatologia bastante semelhante à depressão.
Pela semelhança dos sintomas entre esses dois estados, tais como apatia, desânimo, desinteresse, sensação de cansaço, eventual ansiedade, prostração, abatimento intelectual, moral, físico, letargia, estresse, tristeza, a Depressão acaba sendo uma espécie de irmã gêmea da frustração.
Na frustração a pessoa se priva da satisfação de um desejo, anseio ou de uma necessidade plenamente atendidos. Isso causa afastamento do prazer que se assemelha, de fato, à Depressão. Mas a frustração é predominantemente existencial e a Depressão é predominantemente constitucional ou biológica.
Sendo a frustração predominantemente existencial, supõe-se possível adaptar-se a ela comportamentalmente ou cognitivamente. Assim sendo, as frustrações são importantes para que as pessoas aprendam a lidar melhor com privações de desejos, de prazeres, caprichos …
Por outro lado, é correto acreditar que a pessoa frustrada está muito mais sujeita à Depressão do que a pessoa sem frustração, pois, tal como uma Reação Vivencial (veja ao lado), os sintomas depressivos seriam as reações emocionais diante da frustração. Da mesma forma, o inverso é verdadeiro, uma pessoa deprimida terá frustrações com muito mais facilidade, pois a sensibilidade afetiva dos deprimidos torna mais sofríveis e tristes as perdas vivenciais.
As pessoas com perfil afetivo mais depressivo são aquelas que, geralmente, têm baixa tolerância à frustração, são rígidas e inflexíveis em seus valores, estabelecem metas difíceis para si mesmas. São pessoas intransigentes com elas mesmas e em seus julgamentos experimentam a culpa e se impõem sofrimentos.
Embora alguns sintomas possam parecer semelhantes, eles não são iguais. É o caso da tristeza, do aborrecimento, frustração, estado depressivo ou reação depressiva. São todas circunstâncias afetivas reativas e diferentes do Transtorno Depressivo. E esse é o xis da questão. Será que a população de pessoas com diagnóstico de Depressão está aumentando assustadoramente por razões desconhecidas ou, será que as frustrações proporcionadas pela vida cotidiana têm resultado em maior número de pessoas com estado ou reação depressiva?
É bastante prudente diferenciar os quadros realmente depressivos dos estados com os mesmos sintomas depressivos, porém de origem diferente. Hoje, praticamente todo estado depressivo se inclui dentro do diagnóstico de Transtorno Depressivo. Talvez por isso a ascensão estatística desse diagnóstico seja assustadora, inclusive em crianças e adolescentes.
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Reações Vivenciais
Os fatos e acontecimentos com os quais temos contato são tratados pela Afetividade e, a partir daí são chamados de Vivências. Essas vivências devem ser sempre capazes de determinar um sentimento ou resposta emocional na pessoa. A este sentimento causado pela Vivência chamamos de Reação Vivencial. Para entender melhor, comparamos as Reações Vivenciais às Reações Alérgicas, que são os acontecimentos determinadas pelo contato do organismo com algum produto alérgeno.
As Reações Vivenciais são as reações de nosso psiquismo às Vivências. Assim como as reações alérgicas produzem alergia, as Reações Vivenciais produzem sentimentos. Assim como as reações alérgicas produzem tipos diferentes de alergia nas diferentes pessoas, também as Reações Vivenciais determinam sentimentos diferentes nas diferentes pessoas, diferentes quanto ao tipo e quanto a intensidade.
As vivências, por não se manterem isoladas nem estáticas na consciência e por se integrarem ao dinamismo psíquico estarão, continuamente, se associando a outras vivências anteriores e a todo patrimônio consciente e inconsciente do indivíduo. Desta maneira, uma determinada vivências pode completar uma outra mais antiga, atenuar um sentimento sofrível, convocar novos sofrimentos, determinar lembranças angustiosas, trazer bem-estar, enfim, acrescentar um novo ingrediente ao tempero existencial que cada um traz em si.
As Vivências, portanto, são os fatos ou acontecimentos vividos e representados particularmente por cada um de nós. E essas vivências causam sentimentos variados: ansiedade, medo, alegria, angústia, raiva, apreensão, etc.
As pessoas manifestam sempre uma emoção reativa às suas vivências. Da mesma forma como um corpo estranho pode determinar uma reação alérgica em nosso organismo, também as vivências determinam uma reação emocional chamada REAÇÃO VIVENCIAL.
Nas Reações Vivenciais os sentimentos são proporcionais ao significado que os fatos têm para a pessoa, ou seja, dependerão daquilo que os fatos representam para a pessoa. Um mesmo fato ou acontecimento poderá determinar sentimentos diferentes em diferentes pessoas porque eles representam também algo diferente para diferentes pessoas.
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A escolha do pobre Vanuatu como o país mais feliz reabre a questão: o que é felicidade?
“Desde tempos remotos os pensadores tentam definir o que é felicidade. Para o filósofo grego Aristóteles, felicidade seria a manifestação da alma diante de uma vida virtuosa. Na semana passada, a ONG inglesa The New Economics Foundation contribuiu para esse debate com a divulgação de uma pesquisa que traz o ranking dos países onde as populações são mais felizes. O resultado é surpreendente. Seriam os americanos, donos da nação mais rica do planeta, os mais felizes?
Nada disso. Os Estados Unidos ocupam um modestíssimo 150º lugar na classificação. Que tal os italianos, sempre alegres, amantes da boa comida e da boa música? Não passam do 66º lugar. Os brasileiros aparecem um pouquinho melhor na lista: 63º posto. Segundo a pesquisa, feliz de verdade é o povo de Vanuatu, um pequeno arquipélago do Pacífico Sul, agraciado com o primeiro lugar na lista.
Vanuatu é um país com 210.000 habitantes que vivem basicamente da agricultura de subsistência – colhem coco, cacau e inhame – e não têm acesso a água potável de qualidade. Apenas 3% da população possui telefone fixo, e a mortalidade infantil é de 54 óbitos a cada 1.000 nascimentos, o dobro do índice brasileiro.
A classificação de Vanuatu no topo do ranking dos países mais felizes se explica pelos critérios usados na pesquisa, que levam em conta apenas três fatores: expectativa de vida, bem-estar e extensão dos danos ambientais causados pelo homem em cada país. Como os vanuatuenses se satisfazem com muito pouco, não sabem o que é sociedade de consumo nem sacrificam o meio ambiente para produzir riquezas, acabaram levando a taça.
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Artigo publicado no site ADUR-RJ e veiculado Rev. Veja, ed. 1965, 19/07/2006.
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O consumo não nos tornou mais felizes
Países latino-americanos encabeçam a lista, situando-se nos dez primeiros lugares do index, enquanto nações africanas e da Europa ocidental ocupam as 10 últimas posições. Entre as maiores economias mundiais, destacam-se a Alemanha, no 81º lugar, o Japão, em 95º e os EUA (150º). Portugal ocupa um lugar entre o meio e o fim da tabela. No fim da tabela encontramos o Zimbabwe, a Suazilândia e o Burundi.
Richard Layard, director do Programa para o Bem-estar do Centre for Economic Performance da London School of Economics, referiu que esta lista representa uma forma interessante de abordar o impacto ambiental causado pelo estilo de vida atual.
“Lembra-nos que não basta sermos felizes hoje, se estamos comprometendo as gerações futuras através do aquecimento global“, afirmou, acrescentando, em declarações à BBC que “durante os últimos 50 anos, o nível de vida no mundo ocidental cresceu imensamente, mas não nos tornamos mais felizes com isso. Isso mostra que não devemos sacrificar as relações humanas, a maior fonte de felicidade, em prol do crescimento econômico“, concluiu.
Felicidade sem consumo é possível
“Vanuatu, uma ilha situada no Pacífico sul com pouco mais de 200 mil habitantes é, segundo um relatório elaborado pela New Economics Foundation, o país mais feliz do mundo.
O novo ranking internacional sobre o impacto ambiental e bem estar revela conclusões surpreendentes, traçando um retrato diferente do habitual sobre questões como a saúde e a pobreza das nações.
As pessoas podem ter uma vida mais longa e feliz, sem gastarem necessariamente grandes quantidades dos recursos terrestres, sugere o estudo.
O Happy Planet Index, uma lista que abrange 178 países, coloca no topo da tabela, como a nação mais feliz do planeta, Vanuatu, uma ilha do Pacífico Sul. Seguem-se a Colômbia e a Costa Rica, respectivamente. A Grã-Bretanha, por seu turno, situa-se na 108ª posição e os EUA, muito pior, ocupando o 150º lugar.
Este ranking, baseado numa análise aos níveis de consumo de cada país, esperança de vida, felicidade e aspectos como o Produto Interno Bruto, foi realizado pelo New Economics Foundation (NEF), uma organização britânica.
O relatório, publicado em parceria com a organização Friends of the Earth revela conclusões surpreendentes e cumpre um dos objetivos do estudo que, segundoNic Marks (da NEF) era provar que o bem estar não se relaciona necessariamente com altos níveis de consumo.
Entretanto, essa ONG inglesa, contaminada como tantas outras com as mais diversas ideologias, não foi isenta de severas críticas.
A definição da ONG inglesa para felicidade, portanto, remete à figura romântica do “bom selvagem” criada pelo filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau, que viveu no século XVIII. Rousseau enunciou que “o homem é originalmente bom até ser corrompido pela sociedade“.
Para a New Economics Foundation, o dito continua valendo. Os critérios utilizados na pesquisa produziram outras excrescências na lista de nações com população mais feliz. Entre os dez primeiros postos estão a Colômbia, país conflagrado por uma guerra civil e pelo narcotráfico, e Cuba, onde a população vive oprimida pela ditaduras geriátricas.
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Importância da Frustração
Alguns autores estudam a importância da capacidade de adiar as gratificações e suportar a frustração como requisito para o desenvolvimento sadio da criança. Para Cassorla, a criança adquire capacidade de pensar a partir de uma frustração, de uma falta, de um sentimento, mas alerta para o fato de que essa frustração deva ser suportável para o bebê ou terá efeito negativo no desenvolvimento.
Se estiver certa a ideia de que a pessoa precisa experimentar frustrações durante o desenvolvimento infanto-juvenil para melhor se adaptar à realidade da vida adulta, então as facilidades, benevolências, ausência de limites e atendimento desmedido das necessidades que os pais proporcionam aos filhos estariam contribuindo para uma deficiência adaptativa de futuras gerações.
A falta de preparo para suportar e superar frustrações na infância pode aumentar ainda mais a inclinação hedonista no futuro, para crises emocionais desencadeadas por contrariedades pequenas e insatisfações crônicas.
A frustração é um sentimento de não-realização ou não-satisfação do desejo, é o destino que se distancia da vontade. Aí o mais correto seria chamar o quadro de tristeza, mágoa, aborrecimento, desespero. A criança se desespera diante das dificuldades da vida e manifesta frustrações. E talvez esse evento seja fundamental para o desenvolvimento emocional, muito mais importante do que a privação total de frustrações proporcionada por pais super protetores.
Compete ao bom observador a difícil tarefa de diferenciar se a criança está deprimida ou frustrada. Os sintomas entre esses dois estados podem ser semelhantes, mas a origem e, principalmente, o conceito são diferentes. Levar um fora do namorado, perder um passeio previamente programado, ter que mudar de cidade ou de escola pode gerar frustrações, mágoas, tristezas, enfim, pode exaurir a capacidade de adaptação. É diferente da Depressão, que acomete a pessoa sem uma causa aparente ou proporcional.
Depressão e Frustração na Infância e Adolescência
O interesse científico pela depressão em crianças e adolescentes aumentou depois da década de 1970 e até então se acreditava que fosse rara ou inexistente. Atualmente a depressão maior em crianças e em adolescentes é considerada comum, debilitante e recorrente, envolvendo um alto grau de morbidade e mortalidade, representando um sério problema de saúde pública (Bahls) .
Em crianças pré-escolares, com idade de seis a sete anos, a Depressão é representada por sintomas físicos, tais como dores (principalmente de cabeça e abdominais), fadiga e tontura em 70% dos casos (Goodyer). Em segundo lugar, depois das queixas físicas, a Depressão infantil se manifesta por sintomas relacionados à ansiedade, especialmente ansiedade de separação, fobias, hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado e alterações do sono.
Entre esses sintomas da Depressão infantil destaca-se a perda do prazer de brincar ou ir para a pré-escola, escola quando for o caso ou outros cursos de habilidades para cada idade (natação, balet, capoeira, futebol, ginástica olímpica, línguas estrangeiras, informática, piano, etc.).
Uma questão intrigante é saber se os precoces compromissos impostos às crianças não seriam estressores suficientemente fortes para gerar as tensões necessárias à sintomatologia depressiva. Não bastasse o próprio empenho existencial para dar conta desse rol de compromissos, ainda existe a inegável e dissimulada expectativa opressora dos pais por resultados nunca menos que brilhantes.
É claro que, cientificamente, devemos respeito às observações de alguns autores, como de Bhatara por exemplo, segundo o qual nas crianças pré-escolares e escolares a Depressão pode tornar-se clara através da observação de sentimentos com conteúdos predominantes de fracasso, frustração, perdas, culpa e excesso de autocríticas. Por outro lado, poderia ser o contrário, ou seja, a sintomatologia depressiva poderia surgir como consequência das vivências frustrantes.
Adolescentes deprimidos, como se sabe há tempos, não estão sempre tristes. É mais comum que seus sintomas depressivos façam com que estejam principalmente irritáveis, instáveis, com crises de explosão e raiva. Mais de 80% dos jovens deprimidos apresentam, além do humor irritado, perda de energia, apatia, desinteresse, sentimentos de desesperança e culpa (Kazdin & Marciano).
Esse quadro sintomático do adolescente pode igualmente ser tido como reflexo de altíssimo grau de aborrecimento e frustração, seja pelo descontentamento com aspectos corporais, com a identidade, com a popularidade, com o relacionamento amoroso, seja pela simples falta de perspectivas existenciais ou pela não aquisição de bens de consumo estimulada pela propaganda.
Em nosso meio, o jovem universitário começa a se frustrar quando percebe a grande incerteza de um futuro promissor e consoante à sua vocação ou satisfação com o curso a que se dedica, entre muitos outros aborrecimentos. É a síndrome de final do curso.
É claro que nenhum psiquiatra de bom senso negaria a prescrição de antidepressivos para crianças e adolescentes com franca sintomatologia depressiva, porém, seria muito comodismo acreditarmos que o problema estará assim resolvido. A qualidade existencial e social parece não ser questionada adequadamente.
Depressão e Frustração: Estabelecer Diferenças
Independentemente de se tratar da infância ou adolescência, é importante destacar que a dinâmica depressiva pode se instalar em qualquer época da vida, dependendo da intensidade dos fatores desencadeantes, da sensibilidade afetiva da pessoa bem como de seu potencial constitucional (genético).
Esse raciocínio permite deduzir que quando a pessoa não consegue suportar as pressões internas, tais como seus conflitos, por exemplo, ou externas, como as exigências vivenciais a Depressão encontra seu campo fértil. Entretanto, o que tem nos preocupado é saber se essas exigências vivenciais não têm superado o limiar de adaptação de pessoas afetivamente normais e, nelas, apesar da normalidade psíquica, desencadear reações depressivas.
Pessoas emocionalmente normais, com antecedentes emocionais absolutamente sadios, ao se depararem com as tensões do cotidiano, como por exemplo, a competitividade, violência, insegurança, doenças graves, etc., acabam invadidas por pensamentos de culpa, abandono, medo, impotência, angústia ou até mesmo de natureza mais grave, como por exemplo, perseguição, delírios e alucinações. Não se trata de Doença Depressiva, mas sim de reações depressivas.
Os sintomas realmente são muito semelhantes entre a frustração, cada vez mais frequente, e a Doença Depressiva, entre os quais, o rebaixamento da autoestima, sensação de culpa, de fracasso, pessimismo, exagero na seriedade dos problemas, redução da motivação. É muito difícil, hoje em dia, uma pessoa normal atravessar sua existência sem ter tido algum período da vida sintomas como esses. E aí, como fica essa questão: todas as pessoas que se sentem assim estão com Transtorno Depressivo? Devem receber tratamento especializado?
A importância da questão conceitual (frustração ou Doença Depressiva) faz lembrar o conto de Machado de Assis, O Alienista, quando o psiquiatra, personagem central da estória, se depara com um problema crucial: a maioria dos habitantes de sua cidade preenchia critérios de diagnóstico para alguma doença mental. Se a maioria parecia ter alguma doença, então, ter alguma doença era normal e anormal seria quem se destacava da maioria, ou seja, aqueles que não tinham nenhum sintoma. Entre esses, ele próprio se encaixava.
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Tonalidade Afetiva é a sensibilidade da pessoa diante de suas vivências. Isso envolve o limiar de cada um para suportar ou superar a dor, o sofrimento, a frustração, os conflitos e os complexos, tal com uma capacidade adaptativa satisfatória, sem que algo emocionalmente mais grave aconteça. É a resiliência. Essa característica está diretamente relacionado à Tonalidade ou Perfil Afetivo.
No caso do Transtorno Afetivo tipo Depressão, perde-se a capacidade adaptativa e, além do mal estar emocional, verifica-se que o conjunto de valores pessoais aceitos até o momento não é mais suficiente para aliviar as inquietações interiores, levando ao adoecimento afetivo.
A abordagem do Transtorno Depressivo deve muito à psiquiatria clínica, através dos antidepressivos, dos ansiolíticos, da psicofarmacologia capaz de melhorar bastante a qualidade de vida dos pacientes. O uso de medicamentos nesses casos de Transtorno Depressivo é altamente recomendável.
Entretanto, se a sintomatologia depressiva resultar das dores emocionais das frustrações, das perdas, dos desencantos, das desesperanças, apesar do alívio paliativo do sofrimento proporcionado pelos medicamentos, se forem usados como única atitude terapêutica poderão apenas amortizar os sentimentos produzidos pelas vivências frustrantes, mas não solucionarão a questão.
Pensando na utilização cada vez mais freqüente dos antidepressivos, constatamos várias famílias onde mais de um integrante toma esses medicamentos. É enorme a quantidade que se vende mundialmente desses produtos, alguma reflexão deve ser estimulada:
– Será que a tendência do ser humano, filogeneticamente falando, é vir a ser uma espécie onde o nível de serotonina ou qualquer outro neurotransmissor envolvido na Depressão é fisiologicamente insuficiente para a vida em sociedade?
– Será que a tendência da sociedade humana é evoluir para uma situação onde os recursos naturais e fisiológicos do Sistema Nervoso do ser humano serão insuficientes?
Na realidade o que intriga é saber o que pode estar errado:
1. – a capacidade psicoemocional de adaptação humana aquém da necessidade; ou;
2. – a exigência de adaptação além da capacidade humana?
O que se tem de concreto, pelo menos aparentemente, é que o ser humano normal tem tido que fazer uso de antidepressivos para melhorar sua qualidade de vida emocional.[/et_pb_text][/et_pb_column][et_pb_column type=”2_5″ _builder_version=”4.6.6″ _module_preset=”default”][et_pb_text _builder_version=”4.7.7″ _module_preset=”default”]
Tem sido comum as situações onde, por causa de um Episódio Depressivo, uma Síndrome do Pânico, uma Somatização ou outro quadro agudo, as pessoas tenham iniciado tratamento com antidepressivos e relutem em parar de usá-los. Quando param com o medicamento expermentam algum mal estar. Porém, isso nem sempre se trata de síndrome de abstinência ao medicamento, mas sim a qualidade de vida emocional e de relação ruim, perceptível quando ficam sem o antidepressivo.
Em uma cultura que se sustenta no culto ao prazer, podem ser tênues os limites entre a indicação médica de medicamentos que aliviam a dor e a angústia, próprias da doença depressiva, e por outro lado, o uso indiscriminado desses produtos como lenitivo das frustrações cotidianas. Outras drogas que entorpecem, euforizam e enebriam passam a atuar como provedoras de felicidade e bem estar artificialmente produzido.
Assim como a pesquisa científica neuropsíquica vem se desenvolvendo nas últimas décadas, principalmente em relação à neurofisiologia e neuroquímica, também as técnicas terapêuticas devem ser estimuladas e novas abordagens devem ser pesquisadas para atuarem, com ou sem indicação de medicamentos, da melhor forma possível nos sofrimentos por frustração, por injúria existencial.
O tema da qualidade existencial humana ultrapassa em muito a área da medicina, da psiquiatria e da psicologia. Este é um tema que diz respeito fortemente à sociologia, à antropologia e, principalmente, à política e à economia. Estes outros segmentos da sociedade devem ser envolvidos nessa questão. Programas sócio-políticos devem prever o conforto emocional das pessoas, devem, sobretudo, oferecer sensação justiça e de segurança suficientes para afastar a desesperança atual, devem buscar a estabilidade econômica para proporcionar dignidade, autoestima, perspectivas otimistas e assim por diante.
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para referir:
Ballone GJ – Depressão e Frustração – in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.net, revisto em 2015.
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