Abuso no relacionamento íntimo

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Na medida em que as pretensões de controle sobre a pessoa “amada” não são contidas surge uma cruel inclinação para a posse, para o domínio total da pessoa.

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Relacionamento Tóxico

É fato sabido que as relações íntimas, sejam maritais, coabitacionais ou de namoro são, por vezes, pautadas pela presença de algum tipo de disfunção e, não raro, de abuso franco. De fato, como foi visto em outra página “existem relações amorosas claudicantes, onde a pessoa que ama não deseja apenas o outro, mas deseja também o desejo do outro, o sentimento do outro e tudo o que possa estar ocorrendo na mente do outro.

Se as pretensões de controle sobre os sentimentos da pessoa amada não são refreadas, surge uma imperiosa tendencia para a posse, para o domínio total da pessoa amada. O abuso no relacionamento íntimo tem efeitos danosos marcantes na qualidade de vida, na saúde física e emocional.

Tem sido frequente o comportamento abusivo no relacionamento íntimo, com prevalência variada em diversos países e através de alguns tipos de abuso, como por exemplo, abusos físico, sexual e psicológico.

Entre os estudos sobre o comportamento abusivo na vida íntima ou conjugal existe a teoria da vinculação afetiva na infância, enfatizando o impacto da qualidade das relações familiares e o impacto de eventuais abusos sofridos durante a infância, os quais, por sua vez, interfeririam na qualidade do relacionamento com o companheiro na idade adulta.

Incidência acima do que se suspeita

A incidência desse tipo de comportamento abusivo se comprova alta, acima do que se suspeita, e é mais comum no início da idade adulta (Bachman), sendo o grupo que mais apresenta comportamento violento dos 19 aos 29 anos de idade.

A incidência de comportamento abusivo no relacionamento íntimo é um dado difícil de se pesquisar, principalmente porque existe uma tendência a ocultar esse tipo vexatório de comportamento. Na maioria das vezes o relacionamento não se desfaz porque o companheiro(a) não abusivo(a) insiste em acreditar que, de uma hora para outra, mediante amor, carinho, complacência e tolerância, haverá uma grande mudança na personalidade do outro, que passará a ser a pessoa ideal.

Alguns aspectos sobre prevalência desses casos são baseados no trabalho de Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, publicado na revista Psicologia, Saúde & Doenças. Ali, pela primeira vez foi referido que 21% dos estudantes pré-universitários vivenciaram um ou mais atos de agressão física em suas relações com o(a) companheiro(a) (Makepeace). Estima-se que 4 milhões de mulheres norte-americanas são vítimas de algum tipo de agressão séria por parte do companheiro por ano, destas, cerca de 1 milhão são vítimas de violência física não fatal (Rush).

Segundo Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, apesar de não serem recentes, as estatísticas oficiais norte-americanas no ano de 1996 mostraram que 1,5 milhões de mulheres e 834.700 homens sofreram abuso físico ou sexual por parte do(a) companheiro(a). Em 1998, cerca de 1.830 homicídios foram atribuídos ao companheiro, sendo que 3/4 das vítimas são mulheres (Rennison). Entre os anos de 1993 e 1998, cerca de 2/3 das vítimas de abuso pelo companheiro referem sequelas físicas, enquanto que 1/3 reporta apenas ameaças ou tentativas de violência.

Outro fato bastante conhecido das pesquisas e das entidades que prestam assistência à esse tipo de problema, é que a maioria das vítimas de abuso pelo(a) companheiro(a) não procura assistência policial, jurídica ou médica.

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Os defeitos do outro aparecem …

Nas relações humanas, sobretudo na vida conjugal, podem haver comportamentos onde se observa o poder do envolvimento e a êxtase da atração das partes que se conhecem.

As pessoas escolhem seus pares pelo comportamento aparente e as expectativas depositadas no outro são aquelas desejadas para si, mas nem sempre reais ou viáveis. Durante o período de namoro, com a percepção embaçada pela paixão, não se vê quem é o outro de fato e realmente, mas aquilo que seria ideal que fosse.

Com a chegada da rotina no relacionamento torna-se possível conhecer a outra pessoa como ela é de verdade, ou mais proximo disso. Aí começam a surgir os problemas, desponta a intolerância com relação aos defeitos do outro, os quais sempre estiveram lá.

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As relações abusivas se associam a vínculos “inseguros” na infância

Contribuem para a qualidade do relacionamento íntimo com companheiro(a) um conjunto de circunstâncias; sejam elas de natureza pessoal, comportamental e/ou sociocultural. O tipo de relacionamento mantido com os pais durante a infância tem um importante papel na formação do Vínculo Afetivo e implicações no desenvolvimento de modelos íntimos e dinâmicos de comportamento e atitude afetiva diante da vida e das relações.

Certas estruturas neuroanatômicas, assim como determinadas funções mentais interferem significativamente no relacionamento interpessoal futuro.

As relações abusivas se associam à formação de vínculos “inseguros” na infância, perpetuando maneiras alteradas de relacionamento, normalmente abusivas em diversas circunstâncias de vida, notadamente no relacionamento íntimo. A presença de relações interpessoais íntimas positivas traz benefícios para a saúde geral das pessoas, especialmente atenuam as diversas adversidades da vida.

Teoria do Vínculo Afetivo

Embora as causas do abuso no relacionamento íntimo devam-se a uma diversidade de circunstâncias, merece destaque especial a chamada Teoria do Vínculo. Estudos empíricos sobre a importância da Teoria do Vínculo nos relacionamentos íntimos mostram que crianças traumatizadas, maltratadas, abusadas, abandonadas, ou seja, com prejuízo na formação do vínculo afetivo durante a infância apresentam, com frequência, modelos inseguros de representação da realidade na idade adulta, com consequentes dificuldades no relacionamento íntimo. No futuro tais pessoas serão, com frequência, vítimas ou perpetradores de maus tratos nas relações interpessoais com as pessoas da intimidade. Além disso, através dessa Teoria do Vínculo, a pessoa vítima de maus tratos durante a infância constrói padrões inseguros de vinculação no relacionamento íntimo na idade adulta.

O Vínculo Afetivo descrito por Brazelton em 1988 tem início na gestação e continua através das interações que vão ocorrendo posteriormente. Alguns psicólogos acreditam que a capacidade de formação de vínculo social é resultado da maturação e que deve ocorrer em algum relacionamento logo no início da vida da criança. A formação do vínculo afetivo na criança em tenra idade é importante para que mais tarde se formem demais vínculos significativos.

Estudos de Bowlby e Hoffman, Paris e Hall sobre o vínculo entre mãe e filho, ou outra figura de forte vínculo na falta daquela, ressaltam a importância desta dinâmica afetiva para a configuração dos modos de relacionamento interpessoal futuro. Tal relação se deve ao fato de os bebês serem indefesos e incapazes de sobreviver sozinhos, então o apego entre o bebê e o seu cuidador – geralmente a mãe – viabiliza uma garantia de sobrevivência e dará a tonalidade dos relacionamentos futuros. Bowlby e Hoffman descrevem que essa ligação faz parte de um sistema comportamental futuro caracterizando alguns traços bastante duradouros; insegurança, dúvida, desconfiança, ciúme, desespero diante da possibilidade de abandono e assim por diante.

Muitos obstáculos nas relações humanas estão ligados à precariedade do Vínculo Afetivo. Geralmente o casal não consegue perceber este tipo de interferência e deficiência em seu relacionamento, preferindo insistir em um relacionamento competitivo, conflitante, desafiador e praticamente patológico. Por essa forte interferência passional se ignora a possibilidade de lançar mão de uma psicoterapia, perpetuando assim uma verdadeira resistência à mudanças.

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Personalidade e Abuso no Relacionamento Íntimo

As pessoas portadoras de alguns transtornos da personalidade, como p. ex., Transtorno de Personalidade Anti-Social, de Transtorno Explosivo de Personalidade ou outros estariam mais propensas ao comportamento abusivo (nem sempre violento e agressivo). Mas não falamos de transtornos mentais de forma geral, pois, boa parte das pesquisas não encontrou diferença na prevalência da violência em doentes mentais sem abuso de substâncias, quando comparados com a população geral.

O risco de violência em indivíduos da população geral com abuso de álcool ou drogas foi duas vezes maior do que em pacientes esquizofrênicos sem esse abuso. Finalmente, o maior risco de violência ocorre na combinação de abuso de álcool e/ou drogas com transtornos de personalidades, que não são consideradas doenças mentais francas.

A tendência a comportamento irritadiço, agressivo, violento, carente de atenção, entre outros traços mal adaptados pode ser entendida sob vários pontos de vista, notadamente como sendo traços de personalidade ou como respostas aprendidas no ambiente, como reflexos estereotipados de determinados tipos de pessoas ou até mesmo como manifestações psicopatológicas.

Em psiquiatria, psicologia ou em ciências do comportamento é impossível considerar o comportamento abusivo como um evento em si, emancipado das circunstâncias e contingências. Primeiramente, devemos considerar o abuso a partir do agente agressor, depois, a partir do agente agredido e, finalmente, a partir de um observador ou terceiro. Não surpreenderá encontrarmos três representações diferentes de um mesmo evento.

Do ponto de vista do agressor, deve-se considerar a intencionalidade dolosa do ato abusivo, ou seja, a tentativa intencional de uma pessoa em transmitir estímulos nocivos à outro. Para o agredido, deve-se considerar o sentimento de estar sendo agredido ou prejudicado e, quanto ao observador, deve-se considerar seus sentimentos críticos acerca da possibilidade de ter havido nocividade no ato em apreço, bem como sua intencionalidade (subjetiva) em promover a agressão.

Essas variáveis implicam em considerar, por exemplo, que a mulher pode se sentir agredida pelo silêncio do marido, caso estivesse ansiosamente esperando por algum comentário ou diálogo, mesmo se esperasse um comentário hostil. O marido, por sua vez, deve ser consultado sobre suas intenções lesivas ao optar por uma postura silenciosa. Ele tanto poderia estar silencioso por desinteresse, por ser calmo e amistoso, quanto por ter planejado ferir a mulher através do silêncio.

Neste último caso, estaríamos diante de um ato de abuso psicológico e sem agressão física. A mesma cena poderia não ter um resultado agressivo, caso a mulher não se sinta agredida apesar da eventual intencionalidade agressiva do marido

Abuso físico

O uso de ameaça, força física ou restrição imposta ao outro no sentido de coagir, obrigar, castigar, causar dor ou injúria é um abuso físico. Esse abuso físico tem sido pesquisado entre as pessoas com relacionamento íntimo e, segundo ainda Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, autores norte-americanos (Sugarman) constataram que cerca de 33 a 36% de estudantes de ambos os sexos e com relacionamento íntimo já foram vítimas de abuso físico.

A incidência entre os estudantes tem sido quase a mesma da população geral, pois em amostra representando a população geral norte-americana de pessoas não casadas e com idades entre os 18 e os 30 anos, pois outros autores (Stets) verificaram que 30% das pessoas referia ter sido vítima de agressão física, nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

Ressalte-se novamente, a possibilidade desses números não refletirem a dimensão real do problema, principalmente quando as pesquisas não têm uma natureza totalmente anônima do entrevistado. É bastante conhecido por pesquisadores e por entidades que prestam assistência à esse tipo de problema que a maioria das vítimas de abuso pelo(a) companheiro(a) não procura assistência policial, jurídica ou médica.

Ao contrário do que se pensa, abusar fisicamente não é exclusivo do sexo masculino. De acordo com o trabalho de Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, citando Straus, Aldrighi, Borochowitz, Brownridge, Chan, Figueiredo, et al., considerando uma amostra de 3.086 estudantes universitários de ambos os sexos e oriundos de 14 países, constatou-se que 28,2% dessas pessoas relataram ter perpetrado algum tipo de abuso físico sobre o(a) companheiro(a), sendo 27,7% do sexo masculino e 28,7% do sexo feminino. Ainda nessa amostra, em 9,7% dos casos se verificam formas mais severas de abuso físico.

Entre os países pesquisados, no México é onde se encontraram os maiores valores de abuso físico no relacionamento íntimo, chegando a acometer 51% dos entrevistados, sendo mais freqüente também suas formas mais severas (15,9%). A menor a prevalência de abuso físico perpetrado sobre o companheiro foi registrado no Canadá, tanto para o abuso físico total (16,1%), como para as formas mais severas deste tipo de abuso (5,8%).

Quando as vítimas são homens, normalmente a violência física não é praticada diretamente pelo agressor, tendo em vista a habitual maior força física dos homens. Havendo intenções agressivas por parte da mulher, esses atos podem ser cometidos por terceiros, como por exemplo, parentes da mulher ou profissionais contratados para isso. Outra modalidade são as agressões que tomam o homem de surpresa, como por exemplo, durante o sono.

Abuso sexual

Abuso sexual é a atividade sexual não desejada na qual o agressor usa a força, faz ameaças ou exclui vantagens da vítima que se torna incapaz de negar consentimento segundo a Associação Americana de Psicologia. O abuso sexual tem lugar quando alguém em posição de poder ou de autoridade se aproveita da confiança e do respeito de outra pessoa para envolvê-la em atividades sexuais não consentidas.

Às vezes ocorrem outros tipos de abuso sexual que chama menos atenção, como por exemplo, mostrar os genitais a qualquer pessoa em desvantagem existencial, incitar inferiorizadas existencialmente a ver revistas ou filmes pornográficos, ou utilizar essas pessoas em desvantagem existencial para elaborar material pornográfico ou obsceno.

Em resumo, o abuso sexual é reconhecido como “uma interação sexual conseguida contra a vontade do outro, através do uso da ameaça, força física, persuasão, uso substâncias facilitadoras ou outro recurso a uma posição de autoridade”.

Segundo ainda Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, em torno de 28% das mulheres pesquisadas por ela refere ter sido violada (com penetração completa) por um namorado, “ficante” ou pessoa conhecida. Quando se considera abuso sexual a partir de tentativa de violação, a proporção de sobe para 39% (Koss).

Entre estudantes universitários pesquisados, cerca de 15,7% das mulheres e 4,4% dos homens relatam abuso sexual pelo companheiro. Esse estudo de Straus, mostra ainda que 24,7% das pessoas (3086) de 14 países coagiram sexualmente a(o) companheira(o), sendo 39,9% do sexo masculino e 18,6% do sexo feminino.

No Brasil, infelizmente, essas taxas de coerção sexual sobre o companheiro são mais elevadas (41,6%) e no Canadá são as menores (5,9%).

Mas, seja qual for o número de abusos sexuais em crianças mostrado nas estatísticas, seja quantos milhares forem, deve-se ter em mente que, de fato, esse número pode ser bem maior na realidade. A maioria desses casos não é reportada tendo em vista que as crianças têm medo de dizer a alguém o que se passou com elas.

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Abuso psicológico

O abuso psicológico pode ser considerado como um padrão de comunicação, verbal ou não, com a intenção de causar sofrimento psicológico em outra pessoa, segundo Straus. Esses pesquisadores encontram valores elevados de prevalência de abuso psicológico em amostra de 5232 casais norte-americanos. Nesta forma de abuso há semelhança entre homens (26%) e mulheres (25%).

Muitas vezes o abuso psicológico é a única forma de abuso entre o casal, talvez por se tratar de uma atitude menos detectada como politicamente incorreta. Em amostra de 1152 mulheres com idades entre 18 e 65 anos, observam que 53,6% relatam alguma forma de abuso (físico, sexual ou psicológico) perpetrado pelo companheiro, sendo que 13,6% reportam especificamente abuso psicológico na ausência dos outros tipos de abuso (Coker).

O abuso psicológico é, às vezes, tão ou mais prejudicial que o abuso físico e se caracteriza por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Não é um abuso perpetrado predominantemente pelos homens, como é o caso do abuso físico. Ele existe em iguais proporções em homens e mulheres. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida (veja Violência Doméstica).

Um tipo comum de abuso psicológico é a que se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção, carinho, adulação ou mesmo punição. A intenção do(a) agressor(a) histérico(a), por exemplo, é mobilizar o outro(a) tendo como chamariz alguma doença, alguma dor, algum problema de saúde, enfim, algum estado que exige atenção, cuidado, compreensão e tolerância. Se o outro sentir-se culpado melhor ainda.

Outra forma de abuso psicológico é fazer o outro se sentir inferior, dependente, culpado ou omisso é um dos tipos de agressão emocional dissimulada mais terrível. A mais virulenta atitude com esse objetivo é excesso de capacidade ostensivo, quando o agressor faz tudo corretamente, impecavelmente certinho, não com o propósito de ensinar ou produzir, mas para mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência.

Stets, citado por Carla Figueiredo, em ampla investigação com a população americana, verifica que 65% dos homens têm comportamentos de abuso verbal ou psicológico com a companheira. Agressões Psicológicas são aquelas que, independentemente do contacto físico, ferem moralmente.

A Agressão Psicológica, como nas agressões em geral, depende do agente agressor e do agente agredido. Quando não há intencionalidade agressiva e o agente agredido se sente agredido, independentemente da vontade do agressor, a situação reflete uma sensibilidade exagerada de quem se sente agredido. Havendo intencionalidade do agressor, o mal estar emocional produzido por sua atitude independe da eventual sensibilidade aumentada do agente agredido, porém, outras pessoas submetidas aos mesmos estímulos se sentiriam agredidas também.

A Agressão Psicológica é especialidade do meio familiar e, muito possivelmente, dos demais relacionamentos íntimos, chegando-se ao requinte de agredir intencionalmente com um falso aspecto de estar fazendo o bem ou de não saber que está agredindo. O simples silêncio pode ser uma agressão violentíssima. Isso ocorre quando algum comentário, uma posição ou opinião é avidamente esperada e a pessoa, por sua vez, se fecha num silêncio sepulcral dando a impressão politicamente correta de que “não fiz nada, estava caladinho em meu canto…. “. Dependendo das circunstâncias e do tom como as coisas são ditas, até um simples “acho que você precisa voltar ao seu psiquiatra” é ofensivo ao extremo, assim como um conselho falsamente fraterno, do tipo “não fique nervoso e não se descontrole“.

Não é o frequente, no relacionamento íntimo, a agressão sem intencionalidade de agredir, ou seja, a agressão que é sentida pelo agente agredido independentemente da vontade do agressor. Normalmente, pelo fato da família ser um grupo onde seus membros têm pleno conhecimento da sensibilidade dos demais, mesmo que a situação de agressão refletisse uma sensibilidade exagerada de quem se sente agredido, o agressor não-intencional deveria ter plena noção das consequências sentimentais de seus atos. Portanto, argumentar que “não sabia que você era tão sensível” é uma justificativa hipócrita considerando a intimidade das pessoas.

As atitudes agressivas refletem a necessidade de uma pessoa produzir alguma reação negativa em outra, despertar alguma emoção desagradável. As razões dessa necessidade são variadíssimas e dependem muito da dinâmica própria de cada família. Podem refletir sentimentos de mágoa e frustrações antigas ou atuais, podem refletir a necessidade de solidariedade emocional não correspondida (estou mal logo, todos devem ficar mal), podem representar a necessidade de sentir-se importante na proporção em que é capaz de mobilizar emoções no outro…. enfim, cada caso é um caso.

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Uso Abusivo de Álcool e Drogas.

O uso de drogas como a maconha, cocaína e craque está envolvido em até 92% dos episódios notificados de violência doméstica (Brookoff). O efeito desinibidor causado pelo álcool frequentemente facilita a violência e estimulantes como cocaína, crack e anfetaminas também estão envolvidos em grande número de episódios de abuso e violência em ambiente doméstico ou de relacionamento íntimo. Em relação aos abusos sexuais, a Associação Médica Americana relata que o estupro representa 54% dos casos de violência marital, estando o uso de álcool envolvido em até 50% dos casos (Bhatt). Homens casados violentos possuem índices mais altos de alcoolismo em comparação àqueles não violentos.

Estudos apontam índices de alcoolismo de 67% e 93% entre maridos que espancam suas esposas. Bhatt mostra que entre maridos alcoolistas em tratamento, 20 a 33% relataram ter atacado suas mulheres pelo menos uma vez no ano anterior ao estudo, ao passo que suas esposas relatam índices ainda mais elevados. Monica Zilberman e Sheila Blume da USP apresentaram trabalho mostrando a importância do entendimento por parte dos profissionais de saúde sobre o abuso de violência no ambiente doméstico, bem como suas conexões com o uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas.

Esses problemas envolvem não apenas os pacientes, mas também seus parceiros, filhos e idosos, influenciando o bem-estar físico e psicológico de toda a família. Dados importantes desta pesquisa ressaltam que, estando envolvido o suo de substâncias psicoativas nesse problema, sua redução do uso automaticamente elimina o abuso físico e sexual. Apesar de pesquisas recentes mostrarem que o tratamento do alcoolismo está associado à redução da violência pelo parceiro, isso nem sempre ocorre.

Em relação ao alcoolismo, O”Farrell (2003) mostrou que no ano que precedeu o tratamento, 56% desses homens alcoolistas relataram terem sido violentos contra suas parceiras, contra 14% dos homens sem alcoolismo. Um ano após o tratamento para alcoolismo, o índice de violência caiu significativamente para 15% , similar aos controles.

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Personalidade e Abuso no Relacionamento Íntimo

As pessoas portadoras de alguns transtornos da personalidade, como p. ex., Transtorno de Personalidade Anti-Social, de Transtorno Explosivo de Personalidade ou outros estariam mais propensas ao comportamento abusivo (nem sempre violento e agressivo). Mas não falamos de transtornos mentais de forma geral, pois, boa parte das pesquisas não encontrou diferença na prevalência da violência em doentes mentais sem abuso de substâncias, quando comparados com a população geral.

O risco de violência em indivíduos da população geral com abuso de álcool ou drogas foi duas vezes maior do que em pacientes esquizofrênicos sem esse abuso. Finalmente, o maior risco de violência ocorre na combinação de abuso de álcool e/ou drogas com transtornos de personalidades, que não são consideradas doenças mentais francas.

A tendência a comportamento irritadiço, agressivo, violento, carente de atenção, entre outros traços mal adaptados pode ser entendida sob vários pontos de vista, notadamente como sendo traços de personalidade ou como respostas aprendidas no ambiente, como reflexos estereotipados de determinados tipos de pessoas ou até mesmo como manifestações psicopatológicas. (Veja Cérebro e Violência).

 

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Em psiquiatria, psicologia ou em ciências do comportamento é impossível considerar o comportamento abusivo como um evento em si, emancipado das circunstâncias e contingências. Primeiramente, devemos considerar o abuso a partir do agente agressor, depois, a partir do agente agredido e, finalmente, a partir de um observador ou terceiro. Não surpreenderá encontrarmos três representações diferentes de um mesmo evento.

Do ponto de vista do agressor, deve-se considerar a intencionalidade dolosa do ato abusivo, ou seja, a tentativa intencional de uma pessoa em transmitir estímulos nocivos à outro. Para o agredido, deve-se considerar o sentimento de estar sendo agredido ou prejudicado e, quanto ao observador, deve-se considerar seus sentimentos críticos acerca da possibilidade de ter havido nocividade no ato em apreço, bem como sua intencionalidade (subjetiva) em promover a agressão.

Essas variáveis implicam em considerar, por exemplo, que a mulher pode se sentir agredida pelo silêncio do marido, caso estivesse ansiosamente esperando por algum comentário ou diálogo, mesmo se esperasse um comentário hostil. O marido, por sua vez, deve ser consultado sobre suas intenções lesivas ao optar por uma postura silenciosa. Ele tanto poderia estar silencioso por desinteresse, por ser calmo e amistoso, quanto por ter planejado ferir a mulher através do silêncio.

Neste último caso, estaríamos diante de um ato de abuso psicológico e sem agressão física. A mesma cena poderia não ter um resultado agressivo, caso a mulher não se sinta agredida apesar da eventual intencionalidade agressiva do marido

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Bibliografia
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para referir:
Ballone GJ – Abuso no Relacionamento Íntimo. in. PsiqWeb, Internet – disponível em http://www.psiqweb.net, 2021

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