Para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento “total” do organismo. Assim sendo, ele considerou o funcionamento intelectual como uma forma especial de atividade biológica. Ambas as atividades, intelectual e biológica, são partes do processo global através do qual o organismo adapta-se ao meio e organiza as experiências. Piaget concebeu a inteligência como tendo dois aspectos, o cognitivo e o afetivo.
O aspecto cognitivo tem três componentes: o conteúdo, a função e a estrutura. Ele identificou três tipos de conhecimento: o conhecimento físico, o conhecimento lógico-matemático e conhecimento social. O conhecimento físico é o conhecimento das propriedades dos objetos e é derivado das ações sobre os objetos. O conhecimento lógico-matemático é o conhecimento construído com base nas ações sobre os objetos.
O conhecimento social é o conhecimento sobre as coisas criadas pelas culturas e acontece através da interação com as outras pessoas e o meio ambiente. Cada tipo de conhecimento depende das ações físicas ou mentais. As ações instrumentais do desenvolvimento são aquelas que geram desequilíbrios e conduzem ao esforço de estabelecer equilíbrio (equilibração). Assimilação e acomodação são os agentes de equilibração, o auto-regulador do desenvolvimento.
Quatro fatores e suas interações são necessários para o desenvolvimento: a maturação, experiência ativa, interação social e equilibração. O desenvolvimento cognitivo, enquanto um processo contínuo, pode ser dividido em quatro estágios para fins de análise e descrição:
. Sensório-motor (0-2 anos) . O desenvolvimento caminha da atividade reflexa à representação e a solução de problemas sensório-motores. Surgem os sentimentos primitivos de gostar e não gostar. A afetividade é investida no “eu”.
. Pré-operacional (2-7 anos) . Problemas resolvidos pelo emprego das representações mentais – desenvolvimento da linguagem (2-4). Pensamento e linguagem, ambos egocêntricos. Não pode solucionar os problemas de conservação. O desenvolvimento caminha da representação sensório-motora ao pensamento pré-lógico e à solução de problemas. Tem ínicio o verdadeiro comportamento social. Intencionalidade ausente nos julgamentos morais.
. Operações Concretas (7-11 anos) . Pensamento adquire reversibilidade. Pode solucionar os problemas de conservação – as operações lógicas são aplicadas na solução de problemas concretos. Não pode resolver problemas verbais e problemas hipotéticos complexos. O desenvolvimento caminha do pensamento pré-lógico à solução dos problemas concretos. Aparecimento da vontade e início da autonomia. A intencionalidade é construída.
. Operações Formais (11-15 anos) . Pode resolver todos os tipos de problemas, logicamente – e pensar cientificamente. Soluciona os problemas verbais e hipotéticos complexos. Estruturas cognitivas adultas. O desenvolvimento caminha da solução dos problemas concretos à solução lógica de todos os tipos de problemas. Emergência dos sentimentos idealistas e formação da personalidade. Início da adaptação ao mundo adulto.
O desenvolvimento afetivo ocorre de modo semelhante ao desenvolvimento cognitivo. Isto é, as estruturas afetivas são construídas como as estruturas cognitivas. O aspecto afetivo é responsável pela ativação da atividade intelectual e pela seleção dos objetos sobre os quais agir.
Algumas recomendações são interessantes, levando-se em consideração a teoria piagetiana:
1. Os pais e professores devem assumir relações de respeito mútuo com as crianças, e não autoritárias, pelo menos alguma parte do tempo em que permanecem juntos. os professores podem encorajar as crianças a resolverem problemas por si mesmas e a desenvolverem a autonomia. Os professores precisam respeitar as crianças.
2. Quando a punição às crianças se fizer necessária, ela deve estar baseada na reciprocidade e não na expiação. Por exemplo, o menino que se recusa a arrumar o seu quarto pode ser privado das coisas que estão no seu quarto. À menina que bate em outras crianças, deve ser negada a interação com outras crianças.
3. Os professores podem promover a interação social nas salas de aula e encorajar o questionamento e o exame de qualquer problema que pode ser levantado pelas crianças.
4. Os professores podem envolver os alunos, mesmo os da pré-escola, em discussões de problemas. À medida em que ouvem os argumentos de seus colegas podem experimentar a desequilibração cognitiva, que pode conduzir à reorganização de seus conceitos. O conflito cognitivo é necessário para a reestruturação do raciocínio e para o desenvolvimento mental.
5. As escolas e as salas de aula podem ser reestruturadas de modo a permitir uma maior participação dos alunos nos aspectos significativos do processo de direção e administração da escola. A responsabilidade, a cooperação e autodisciplina não podem ser transmitidas às crianças autoritariamente. Tais conceitos devem ser construídos por elas a partir de suas próprias experiências, para o quê as relações de respeito mútuo são essenciais. É discutível a idéia de que as crianças podem desenvolver os conceitos de justiça, baseados na cooperação, em um ambiente cujo sentido de justiça tenha por base apenas a autoridade.